Nitidamente ilegítima a assunção ao poder de Nicolás Maduro por aniquilamento da oposição. Juan Guaidó, que foi legitimamente eleito para o parlamento e ali foi escolhido presidente, função que lhe impõe o dever constitucional de se declarar mandatário interino até que a situação se resolva com novas eleições __ essas sim livres __ assim o fez.
Fora da Venezuela as opiniões se dividem. Ninguém deste lado do mundo está ameaçando qualquer espécie de intervenção naquele país, a não ser Donald Trump. O fato é que o reconhecimento interino de Juan Guaidó foi feito pelos países que mais de perto sentem os efeitos dramáticos da crise humanitária em que mergulhou a Venezuela. É a Colômbia a principal vítima disso, com o Brasil e o Peru. Os líderes do além-mar ___ Rússia, Turquia, China ___ que estão longe da crueldade do cenário, possuem autoridade questionável para dizer que as coisas são diferentes daquilo que a Colômbia, o Brasil, o Peru, e outros países próximos e que sentem as consequências da crise humanitária, têm dito a respeito.
O apoio dos militares venezuelanos a Maduro era esperado, vez que eles são semelhantes em tudo, vivem numa bolha e não tomam conhecimento do que se sucede. Mesmo com a fuga de centenas de membros das Forças Armadas para o Brasil e para a Colômbia durante a crise na fronteira ___ que culminou no fracasso da tentativa de fazer entrar no país doações de alimentos e remédios procedentes daqui e dos Estados Unidos ___ os militares têm se mantido na defesa do governo.
Quanto à troca de farpas entre Washington e Caracas, esse não é o cerne do problema, muito menos o caminho para a solução. Precisa acontecer um entendimento entre as lideranças mais conscientes do problema e mais equilibradas para apontar uma saída para essa problemática que assola a Venezuela. O México e o Uruguai ofereceram mediação, mas por mais boa vontade que tenham, não conseguiriam agir como mediadores isentos, já que existem ali afinidades ideológicas. Provavelmente tentarão incentivar o povo venezuelano à paciência, à tolerância e à condescendência com mais algum tempo de administração Maduro. Já o Brasil mantém posição de equilíbrio e respeito ao Direito Internacional, ao princípio da autodeterminação dos povos, da não intrusão em assuntos internos de outros países e da colaboração à manutenção da paz.
É imperativo que haja o planejamento de um processo eleitoral sério em que a oposição possa concorrer em igualdade de condições no processo de disputa do poder. A solução seria o meio diplomático convencer os países que estão opinando de modo errado, embora não agressivo, de que deveria haver um esforço global para a solução do problema venezuelano por meios políticos, eleitorais e democráticos.
A crise humanitária na Venezuela é gravíssima. É preciso agir com um pouco mais de autoridade sobre esse cenário. O Brasil, que hoje é visto como um país mais radical do que foi no passado, teria qualquer tentativa de mediar a situação venezuelana rejeitada por Maduro. No entanto, aliado à Colômbia, ao Peru, aos Estados Unidos e a outros protagonistas globais, poderia fazer com que a política internacional exercesse a autoridade necessária com alguma força de pressão. Poderia dizer claramente a Maduro que se dê conta da gravidade da situação, algo que o México e o Uruguai dificilmente fariam.
Todavia, há de chegar o dia em que tudo isso será tão somente uma triste página virada da história dos povos. Esse dia não tardará.
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