Migalhas de Peso

Você é flexível?

O importante é o exercício de treinar o cérebro em busca de possibilidades.

5/10/2018

O desafio da gestão de pessoas na advocacia

Quantas vezes você já deve ter ouvido que precisa ser flexível? Mas o que é ser flexível para você? Significa tolerar tudo e se adaptar a tudo passando por cima de seus anseios para se adequar ao que é colocado pelo meio? Ou é uma espécie de inteligência que lida com a realidade sem negações, que olha para aquilo que é e a partir daí desenvolve escolhas e estratégias?

E de fato, para atingir os resultados que deseja na vida pessoal e profissional a flexibilidade é uma competência de peso! Você que já me conhece sabe o quanto aprecio uma metáfora para instigar as reflexões. Então vamos a ela!

Dizem que em 1995 houve o seguinte diálogo entre um navio da marinha americana e as autoridades costeiras do Canadá. Os americanos começaram educadamente:– Favor alterar seu curso 15 graus para o norte, para evitar colisão com nossa embarcação. Os canadenses responderam de pronto: – Recomendo mudar seu curso 15 graus para o sul. O americano ficou mordido: – Aqui é o capitão de um navio da marinha americana! Repito, mude seu curso. Mas o canadense insistiu: – Impossível. Mude seu curso atual. O negócio começou a ficar feio. O capitão americano berrou ao microfone: – Este é o porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior da frota americana no Atlântico! Estamos acompanhados de três destroyers, três fragatas e numerosos navios de suporte. Eu exijo que vocês mudem imediatamente seu curso 15 graus para o norte, do contrário tomaremos contramedidas para garantir a segurança do navio. E o canadense respondeu: – Impossível, repito: aqui é um farol… Câmbio!

Fonte: Rangel (2003, p. 139).

Qual a mensagem que essa breve passagem traz para você? Muitas vezes tudo o que desejamos é que o outro modifique os comportamentos e as escolhas, que o outro se adapte aos nossos desejos, pensamentos e verdades para que nós possamos chegar aos nossos objetivos! É mais ou menos como fazer uma promessa para que o outro pague.

Flexibilidade

Flexibilidade "é ter muitas escolhas de pensamentos e comportamentos para alcançar um resultado" explica O’Connor (2003 p. 323)1. Em outras palavras, é a habilidade de ler o curso dos ventos e ajustar as velas da nossa embarcação. É manter em perspectiva o objetivo desejado e construir estratégias geradoras de possibilidades para atingir resultados desejados.

Assim quando o tema é flexibilidade a essência é possibilidades e uma boa dose de ressignificação. Sim, ressignificar significa olhar uma determinada experiência a luz de um ponto de vista diferente, é dar ao fato um significado diferente.

Em termos práticos significa manter-se atento aos próprios pensamentos e se perguntar: este ponto de vista favorece meus objetivos? Fortalece meus propósitos? Se a resposta ou sensação for um sonoro "não" eis ai um convite irrecusável de se perguntar: de que maneira posso olhar para isso de modo a fortalecer meu aprendizado?

Note que a forma como significamos uma experiência promove estados internos positivos ou enfraquecidos de recursos. Assim, se a forma de olhar para o fato o evento não te oferece o melhor ângulo da experiência. Mude o ângulo. Mude o ponto de observação e você certamente descobrirá perspectivas interessantíssimas da mesma situação. E neste momento que me vem a mente a profundidade da afirmação de Marcel Proust "a verdadeira viagem do descobrimento não consiste em procurar novas paisagens mas em ver com novos olhos".

Flexível é aquela pessoa que tem em mente o objetivo e trabalha no sentido de identificar caminhos para atingi-los. Aliás, você já parou para pensar que existem situações que criamos a partir de nossas escolhas? Ou seja, que estão na nossa esfera de decisão? Você escolheu a carreira a seguir, a roupa que está usando hoje. Mas existe também uma série de situações que estão completamente fora do alcance de suas escolhas.

De quem é o controle?

Então cadê o poder da escolha se a maioria avassaladora das coisas estão absolutamente FORA DO NOSSO CONTROLE? Flexibilidade é reconhecer que não temos o controle, mas que podemos sim escolher a direção! Podemos escolher a resposta que desejamos dar, ou seja, entre um estímulo (evento) e a resposta (comportamento) existe uma escolha.

E, tendo em vista tal perspectiva, gosto muito de desafiar o modo como olho para as situações com um breve exercício de flexibilidade que quero agora compartilhar contigo: Você já se deu conta que com raríssimas exceções todo problema pode ser ressignificado?

Pense por alguns instantes na palavra problema. Tem peso ou tem leveza? Tem movimento ou tem paralisia? Arrisco afirmar que você respondeu peso e paralisia. Então vamos lá! Pense por alguns instantes na palavra desafio. Tem peso ou tem leveza? Tem movimento ou tem paralisia?

Embora eu não tenha nenhuma clarividência arrisco afirmar que você responde que tem leveza e movimento. Muito bem! Agora, que tal identificar um problema que o tem afligido e transforma-lo em desafio? Como?

Te dou um exemplo: Imagine que o seu problema é medo de falar em público. Pense no seu problema por alguns instantes. Agora que tal transformar esse problema de medo de falar em público em desafio de desenvolver a sua competência da oratória. Como fica para você?

Perceba que o problema traz sensações de peso e o desafio traz leveza, é algo que está à sua frente e gera momentos. Muito bem, agora a estratégia de flexibilidade: abra a sua mão e para cada dedo encontre uma estratégia possível para te aproximar ao resultado.

– Identificar o diálogo interno disparador da sensação de insegurança e ansiedade;

– Fazer um curso de oratória;

– Elaborar o discurso com início meio e fim e ensaiar o texto diante do espelho, de uma planta ou do seu bichinho de estimação;

– Gravar a própria apresentação e avaliar os pontos de melhoria (gesto, postura, ritmo de voz);

– Ler livros de oratória, assistir a vídeos de palestrantes renomados levantar informação sobre a plateia e aprofundar seus conhecimentos sobre o tema que irá tratar.

Enfim perceba que você já tem estratégias que servirão de norte para conduzi-lo rumo ao seu objetivo que é falar em público. Note que algumas estratégias que foram levantadas podem não ser operacionalizadas e que outras podem ser conjugadas. O importante é o exercício de treinar o cérebro em busca de possibilidades. Ao repetir esse exercício, muito em breve, transformará problemas em desafios e a busca por possibilidades será incorporada a sua memória procedimental.

Outro bom exercício de flexibilidade: quando se encontrar diante de uma situação pergunte-se:

"- O que posso fazer a respeito?";

"- E o que mais?”; “- E o que mais?";

"- E o que mais?".

Sempre que perguntamos "e o que mais?" estamos estimulando o cérebro a olhar para possibilidades que até então não seriam identificadas. É um convite para "cavar mais fundo". E, à medida que vamos "cavando mais fundo" vamos estimulando a criatividade e encontrando possibilidades que talvez jamais nos déssemos conta se não tivéssemos prosseguido com a investigação. Eis aí a chave da flexibilidade.

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1 O’COONOR, j. Manual de programação neurolinguística. Um guia prático para alcançar os resultados que você quer. Rio de janeiro: Qualitymark, 2003.

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*Erika Gisele Lotz é mentora de capital humano da ÉOS Inovação na Advocacia.

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