O medo nosso de cada dia
Adauto Suannes*
Morei na Noruega por mais de um ano e jamais vi na televisão local notícias sobre o Brasil. A única vez que exibiram trechos de uma partida de futebol foi para me informar que o Corinthians havia perdido do Santos por <_st13a_metricconverter w:st="on" productid="3 a">3 a 1. Tanta notícia mais agradável e me brindam com essa? Takk, bare bra!
Pois recentemente recebi várias mensagens aflitas de amigos que lá deixei. Eles se referiam a uma cena que foi amplamente divulgada no mundo todo: presos segurando a cabeça de um colega pelos cabelos, depois de haver ela sido separada do corpo O simbolismo da cena poderia levar-me a muitas divagações, que vou esforçar-me para evitar. Quero apenas situar-me no aspecto trágico da cena, que conduz, inevitavelmente, nosso caboclo PCC a ser equiparado a um desses grupos terroristas que brotam como cogumelo depois da chuva, sejamos pouco originais, e que, quase sempre, nós não conseguimos identificar seus propósitos.
Tentemos dizem quem é quem nesse quebra-cabeças. Taliban é o partido político daqueles que se destinam ao estudo do Corão, nome daquele livro que alguns denominam Alcorão, esquecidos de que esse Al é o artigo que antecede a palavra Corão, palavra que significa simplesmente leitura. Al Aksa (A Sagrada Mesquita) é o nome das brigadas que constituem o braço armado da Al Fatah (A Ação), primitivamente ligadas a Yasser Arafat. Jihad é o nome da Guerra Santa, uma espécie de Cruzadas invertidas, destinadas a propagar a fé no islamismo. Sunita é o nome de todo seguidor da fé islâmica, sendo que os xiítas muçulmanos combatem a laicidade do Estado, pregando sua ligação com a religião. Hesbolah (Movimento pro Alá) é facção dos xiitas que ocupa o sul do Líbano. Al Qaeda (A Rede) é o grupo fundamentalista islâmico, nascido na Arábia Saudita, que pratica atos terroristas só contra os Estados Unidos.
A propósito do termo terrorismo, não há unanimidade sobre o seu conteúdo. Noam Chomsky, pensador norte-americano de origem judaica, define terrorismo como “uso calculado ou ameaça de emprego de meios danosos contra populações civis em nome de convicções políticas, religiosas ou ideológicas, em sua essência, sendo isso feito por meio de intimidação, coerção ou instilação do medo”1. Sob tal prisma, os atentados perpetrados por homens-bomba e pelos membros do Hesbolah não escapariam do rótulo. Tanto quanto o revide israelense. Mas, apenas eles?
O mesmo Chomsky afirma que ao longo do século XX muitas das ações do seu país se enquadrariam também em tal
E, para mostrar que não está só, cita o cientista político Michael Stohl: “Precisamos reconhecer que, pelo que se tem convencionado – e devo enfatizar que se trata apenas de uma convenção – a utilização de um grande poder e a ameaça de se usar a força são normalmente descritas como diplomacia coercitiva, e não como uma forma de terrorismo”, embora envolva usualmente “a ameaça e freqüentemente o uso de violência para o que seria descrito como propósito terrorista, caso não fossem grandes potências a se utilizarem de tal tática”, de acordo com o sentido literal do termo.4
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1Noam Chomsky, 11 de Setembro, Editora Bertrand Brasil, 2002, p. 104
2textualmente, “ato de terrorismo quer dizer qualquer atividade que: a) envolva um ato violento ou uma séria ameaça à vida humana que seja considerado delito pelos Estados Unidos ou qualquer outro Estado, ou que seja delito assim reconhecido, se praticado dentro do território jurisdicional americano ou de qualquer outro Estado; e b) aparente (i) ser uma intimidação ou coerção à população civil; (ii) influencie a política governamental por meio de intimidação ou coerção; ou (iii) ameace a conduta de um governo por um assassinato ou seqüestro” (apud Chomsky, ob. cit., p. 17, nota de rodapé)
3Noam Chomsky , ob. cit., p. 65
4cf. Noam Chomsky, ob. cit., p. 18
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