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Advogados + robôs = O futuro já começou

A tecnologia e a globalização trouxeram inúmeros benefícios e inovações, mas provocaram também abalos.

8/3/2018

Tecnologia é o assunto do momento. Ela está presente em nossas vidas todos os dias, faz parte da nossa rotina, sua importância é divulgada incessantemente em todos os meios de comunicação e agora, dizem, pode nos substituir.

O desenvolvimento da tecnologia trouxe avanços imensuráveis em todos os setores das nossas vidas:

A sociedade vive novos tempos. A tecnologia e a globalização trouxeram inúmeros benefícios e inovações, mas provocaram também abalos. A diversidade está aumentando, culturas, valores e questões éticas e morais estão em crise, assim como são crescentes as preocupações com o meio ambiente, que sofre as consequências do desenvolvimento desmedido, com as relações humanas, cada vez mais superficiais e com o uso intensivo de máquinas, que acabam por gerar desemprego.

Não é novidade que as máquinas, já há algum tempo, têm substituído o ser humano em algumas das suas mais diversas funções, mas, de certa forma, estamos diante de uma nova realidade. Estamos no futuro, aquele que foi imaginado e retratado em muitos filmes e desenhos de ficção científica décadas atrás.

Nunca se falou tanto em inteligência artificial, na substituição do homem por robôs, e nas iminentes mudanças das relações de emprego e do mercado de trabalho.

Mas será que seremos substituídos por robôs? A advocacia está preparada para tamanha inovação?

A advocacia não só está preparada como já está utilizando a inteligência artificial, através de robôs e diversas outras ferramentas de gestão que fazem parte do mundo empresarial.

As práticas de gestão operacional, como a criação de fluxos de atividades padrões e sua integração com o sistema de informação (software de gestão), visando o controle de informações e a extração de relatórios estratégicos, a implantação de compliance, para o controle do cumprimento das políticas internas e externas e redução de riscos, o desenvolvimento de plano de carreira, com foco na retenção de talentos e a controladoria jurídica, com o controle e divulgação de resultados, ajudaram os escritórios de advocacia a criar diferenciais competitivos, redução de custos e benefícios à imagem e reputação.

Investimentos em tecnologia da informação, assim como a ampla utilização do marketing jurídico, criaram oportunidades para a realização de serviços jurídicos diferenciados e estratégicos, mas inovações são sempre necessárias para alcançar novos horizontes, e os advogados devem estar sempre atentos para criar, desenvolver e novamente criar valores para a advocacia.

O crescente interesse nas inovações tecnológicas e a busca incessante por aperfeiçoamento atraiu muitas bancas de advocacia para práticas de integração de robôs com os sistemas de gestão operacionais, softwares jurídicos bots, utilizados para a captação de dados, acesso aos Tribunais e processos eletrônicos, análise e controle de documentos, gestão de processos judiciais, e diversos outras funções programáveis.

Os robôs são programados com os fluxos para o desenvolvimento das tarefas delimitadas e desempenham as atividades administrativas, compreendidas principalmente na área da controladoria jurídica, reservando aos advogados o trabalho técnico – jurídico.

Mas incessantemente surgem novas notícias e expectativas acerca da programação de robôs para a própria atividade da advocacia, o desenvolvimento do saber jurídico.

Será possível?

O primeiro advogado-robô brasileiro, denominado ELI (sigla em inglês para Inteligência Legal Melhorada) utiliza a inteligência artificial para ajudar o advogado no aumento da sua produtividade. É um assistente personalizado, voltado a otimizar as funções operacionais e até mesmo intelectuais.

A inteligência artificial permite ao robô ter muitas competências dos seres humanos, ainda melhoradas, como o pensar, pois ele dispõe de mecanismos que permitem velocidade no acesso a bancos de dados, a possibilidade de realizar diversas conexões entre as informações obtidas, alta produtividade, e a reduzida probabilidade de cometer erros, eliminando significativamente riscos.

A tecnologia é capaz de criar um sistema cognitivo em uma máquina, para que a mesma possa aprender ao processar informações, aperfeiçoando ininterruptamente o seu desempenho, ou seja, a inteligência artificial possui a competência de desenvolvimento do aprendizado através de experiências.

Mas a inteligência artificial ainda não é capaz de desenvolver as habilidades de sentir, de processar emoções, e de ter empatia, ela pode até reconhecê-las e interagir com o ser humano de acordo com as programações que são feitas neste sentido, mas nem tudo pode ser matematizado e programado, a máquina não consegue criar a partir das emoções, não consegue intuir, e não é capaz de participar das interações humanas em um nível emocional.

O ser humano é muito complexo e até hoje não conseguiu decifrar o integral funcionamento do cérebro. Como poderá criar uma máquina a sua imagem e perfeição se não conhece por completo o seu próprio funcionamento?

As máquinas são e sempre serão úteis e funcionais para ajudar o ser humano nas suas tarefas diárias, repetitivas e administrativas, mas não conseguirá substituir o homem no seu principal objetivo, viver, com a sua inteligência intelectual, emocional e muitas outras que fazem parte do indecifrável sistema humano.

A inteligência artificial pode e deve ser utilizada como uma extensão das funções humanas, pois nenhuma tecnologia pode ser criada sem a atuação do homem, e não se pode negar a importância de tal ferramenta ao profissional do direito, que precisa estar conectado com os acontecimentos globais econômicos, políticos, sociais e legais, se atualizar constantemente acerca das novas leis, precedentes dos Tribunais, acompanhar e controlar processos e clientes, dentre as inúmeras outras funções diárias que compreende o exercício da advocacia.

A ferramenta é capaz de ajudar o profissional a vencer todos os desafios de forma ágil, pois consiste em uma fonte de consulta inesgotável, que ajuda a melhorar a produtividade e a gestão da informação e do conhecimento, sendo de grande relevância para otimizar os fluxos da advocacia massificada, permitindo a automatização de processos operacionais e jurídicos, através de softwares bot, aplicações que simulam ações humanas no desempenho de tarefas rotineiras. Ou seja, tudo indica que a inteligência artificial é passível de agregar valor ao exercício da advocacia, mas não de substituir o seu principal capital, o ser humano.

E não se pode esquecer ainda o alto custo envolvido na aquisição e programação dos robôs, além do impacto da geração de desemprego na economia global. Muitas são as chances de termos parceiros robôs em nossos desafios diários, mas esta ainda é uma realidade distante.

A humanidade já passou por diversas mudanças, muitas profissões foram desenvolvidas e descartadas com o passar do tempo. O que já foi útil e necessário um dia deixou de ser. Novas necessidades surgiram e novos trabalhos foram criados. O ser humano inventa, reinventa, e destrói com muita facilidade o que criou, para novamente criar, aprimorar e destruir.

Dificilmente este ciclo será quebrado, mas uma coisa é certa, a advocacia sempre precisou e precisa lidar com o lado humano dos seus clientes, que sempre enfrentam situações altamente emocionais e, neste sentido, nada melhor do que ser humano na condução da resolução dos conflitos.

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*Milena Moratti é advogada especializada em gestão jurídica e compliance, nas áreas empresarial e bancária. Colaboradora do blog.avisourgente.com.br da Aviso Urgente.

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