O roteiro se repete com alguma frequência, mudando apenas os personagens. O brasileiro de origem humilde - com talento diferenciado para um esporte - vira um atleta de grande potencial e, em pouco tempo, é negociado com algum clube europeu antes mesmo de despontar nas arenas nacionais. Alteram-se os protagonistas, as histórias de vida, mas um dos percalços até o estrelato é comum para todos: a adaptação longe da terra natal.
A integração desses atletas é um assunto delicado. Muitas vezes o profissional exportado é jovem e nunca esteve distante de sua família e de seu país. Assim, um trabalho próximo ao esportista se faz necessário.
É evidente que as equipes contratantes fazem um bom acompanhamento para diminuir os efeitos desta adaptação. Afinal, elas lidam diariamente com essa situação. Alguns atletas não têm nenhum problema de adaptação, como é o caso de Jonny Wilkinson, famoso jogador inglês de rugby, que fala 12 línguas fluentemente (dentre elas, quatro línguas mortas) e que na França aprendeu a cozinhar pratos típicos com perfeição. Para outros, a situação pode ser bem complicada.
Uma forma de integrar bem o atleta em seu novo país é pensando na incorporação de sua família, em especial seu cônjuge. Sua vida familiar certamente tem impacto em sua vida profissional. Assim, é essencial que o atleta viva em um bom ambiente para que ele possa dar sua melhor performance no campo.
O tempo razoável para a aclimatação do atleta é de seis meses. Durante este período, ele deve ser acompanhado de perto e com cuidado. O percurso da adaptação de um atleta na Europa passa, primeiramente, pela busca de moradia. A grande maioria dos clubes se ocupa disso. É comum que se disponibilize um carro e forneça outras comodidades, conforme contratado.
O atleta deve ter consciência de que vai se deparar com alguns outros pontos relativos à sua adaptação. Podemos citar inscrições escolares, sistema de saúde, abertura de conta bancária, entre outros. São algumas das situações que mais frequentemente levam os atletas a procurar os advogados brasileiros que atuam no exterior, principalmente por conhecerem a cultura deles e as peculiaridades do país de destino. Nesse sentido, contar com uma assessoria profissional pode significar não só o conforto e a tranquilidade, mas a própria permanência do jogador na nova residência.
Até o que parece mais simples pode vir a ser o mais complicado, como atividades de que a maioria dos clubes não se ocupam. Um passeio no supermercado, na padaria, uma consulta médica, orientações sobre o bairro, detalhes do cotidiano são coisas que o atleta descobrirá sozinho ou com a ajuda de seus colegas.
No caso da França, vale ressaltar que as burocracias administrativas são muito complexas. Um auxílio profissional é sempre bem-vindo nesta área. É importante deixar claro também que os estrangeiros devem fazer curso para aprender a língua local, o que é indispensável para uma boa adaptação.
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*Tatiana Roncato é especialista em Direito Desportivo do escritório Roncato Advogados.