Acrescentei à minha rotina o hábito – senão o vício – de sortear uma mensagem ou conselho para o meu dia antes começá-lo.
Tem gente que lê horóscopo, outros oram, rezam, meditam, cantam ou simplesmente não fazem nada, apenas se vestem, tomam seu café e saem para o trabalho. Eu clico num símbolo e recebo uma mensagem, simples assim. Às vezes me diz pra prestar atenção em coisas simples, pra falar menos e ouvir mais e por aí vai.
Outro dia, recebi uma mensagem com o título deste artigo: “Aceite a Felicidade!” O texto entusiasmado dizia que era chegada a hora de eu aceitar a felicidade, que não deveria me sentir egoísta por não conseguir compartilhá-la, pois era um momento de vitória só meu.
Uau, li e fiquei eufórica. Pensei, deve ser um presságio e comecei a enumerar todas as alternativas plausíveis (ou não) dentre os assuntos mais práticos da minha vida, que me levariam a aceitar a suprema felicidade: vou receber uma super proposta de trabalho ou novo desafio no trabalho atual, meu gerente vai me ligar pra contar que aquele bendito título de capitalização, que contratei há 03 anos, finalmente foi sorteado, fiz até um esforço pra lembrar se era dia de mega-sena, ou se tinha jogado no último concurso, recorrendo às minhas anotações.
Enfim, passei o dia esperando a tal felicidade, antenada nos emails, telefonemas, reuniões, a fim de seguir à risca o conselho e aceitá-la em toda sua plenitude.
O dia foi transcorrendo sem grandes (nem médios) acontecimentos. Ao contrário, as chateações de sempre, a rotina de sempre, os mesmo dramas e alegrias. Nada, nadinha de novo. No final do dia me vi exausta como de costume, no trânsito paulistano a caminho de casa.
Estacionei o carro na garagem, desci, abri a porta da sala e antes de adentrar já ouço um grito: “mamãe”. Vejo vindo em minha direção às pressas meu filho de 02 anos que se joga em meus braços e começa a contar, na sua linguagem própria, todos os acontecimentos do dia.
Como meu marido está alocado num projeto em outro estado, normalmente, quando chego a casa começa outra correria insana: levar a babá, tomar banho, jantar, arrumar tudo para o próximo dia, terminar algumas tarefas de trabalho e quando dá tempo e sobra energia, assisto TV, conciliando tudo isso com a atenção aos meus filhos. Naquela noite, entretanto, um silêncio diferente tomou conta da casa. Nenhuma televisão ligada, até a rua estava quieta, só eu e meu filho, que continuava a saga de suas histórias.
Envolvida com tudo que ele me contava, acabei por modificar a rotina e diminuir ritmo. Sentamos à mesa e pedi que ele me fizesse companhia enquanto jantava. Ele ficou ao meu lado, com seus comentários animados e imaginativos, encantando meu final de noite.
De repente calou-se e o silêncio total foi interrompido depois de alguns minutos com a seguinte frase: “mamãe eu te amo”. Naquele minuto me dei conta de estar buscando a felicidade em situações e lugares onde provavelmente nunca encontrarei, pois permeiam utopias e desejos, afinal, a verdadeira felicidade, factível, verdadeira e pura estava ali, naquele momento, naquela vida e só bastava eu aceitar!
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