Se esquerda ou direita o fato é que o sistema político brasileiro, a exemplo de muitos outros mundo afora, sofre uma crise de representatividade.
No Brasil isso se dá, me parece, porque os quadros dos partidos políticos são muito fechados, oferecendo poucas alternativas como novidade à sociedade.
Passam-se 30 anos e veem-se os mesmos políticos, à frente ou na retaguarda, renovando ou aguardando sua vez no poder.
Seria salutar se a reeleição pudesse, como se dá no executivo, ser permitida apenas uma vez no legislativo.
Seja como for, a sociedade parece viver um momento de estafa política e desesperança com o prognóstico do futuro do país.
Esse estado ânimo é fruto da falta de representatividade, agravado pela mais absoluta ausência de qualquer planejamento a médio e longo prazos no país.
Não há metas traçadas para além de 12 meses que sejam tratadas com insistência ou seriedade, podendo-se afirmar com segurança que nenhuma meta ultrapassa o mandato de um governo.
Não é a culpa de não sermos um povo curado pelas guerras, com sentimento de unidade ou nação que extravase as fronteiras, assim fazendo com que sejamos unidos em torno de objetivos concretos de longo prazo, ou a colonização extrativista portuguesa, que jamais nos abandonou enquanto cultura.
O que há é a somatória desses fatores a algo mais preocupante, que é a descrença no indivíduo enquanto cidadão capaz. É a miopia de não enxergar que o Estado jamais poderá prover tudo a todos e que, no fim das contas, são os cidadãos que formam e sustentam o próprio Estado.
Faz sentido preparar os indivíduos que compõem o Estado para que o esforço conjunto seja maior, assim como a assunção das respectivas responsabilidades.
Nesse ponto entra a educação como fator crucial à tomada dessa percepção, que poderia ser aliada a um discurso que valorizasse o trabalhador como cidadão contribuinte do esforço de melhorar o país.
O fardo de erigir uma sociedade justa e progressista é muito pesado quando uma enorme força criativa e construtiva é deixada à margem desse esforço, sem a dignidade de ter os meios de se preparar adequadamente para ajudar a construir o país.
São meio-cidadãos, café com leite, que são afagados pelo assistencialismo estatal sem perspectiva de sua integração plena na sociedade.
Não é que os programas não façam sentido. A quem tem fome é justo alimentar. É que o indivíduo é mais que um estômago vazio. Deve ser uma cabeça pensante e um braço que se junta a todos os outros na persecução do objetivo comum de uma sociedade melhor como um todo.
Não é digno apenas alimentar. É digno alimentar e preparar, porque todos precisamos contribuir genuinamente para o sucesso do país.
Esse, acredito, deveria ser o primeiro plano a longo prazo, ultrapassando partidos e mandatos de governo.
As manifestações erráticas demonstram uma insatisfação difusa, que poderia muito bem se concentrar em uma visão de país em que todos têm os meios para se tornar aptos a contribuir para seu próprio futuro, sem depender de ninguém, porque dignificados como indivíduos por fazerem parte desse esforço coletivo.
O caminho não é para um ou outro lado, mas para frente, com a consolidação das instituições a salvo dos ventos eleitorais.
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