Quando se diz que a dança tem que ser conforme a música o que se quer afirmar é que cada música se sujeita a um ritmo e que, por isso, não cabe dançar fora do ritmo.
E o que vem a ser isso, o ritmo?
Segundo Houaiss, é uma sucessão de tempos fortes e fracos que se alternam com intervalos regulares. Esta é apenas uma definição. Existem outras.
Por exemplo: efeito causado pela repetição ordenada de elementos prosódicos, espécie de entoação, pausas, quantidade de sílabas, aliteração e acento tônico. Ou, ainda, movimento regular e periódico no curso de qualquer processo, cadência.
Quando a gente quer dizer que uma coisa anda meio devagar fala que está em ritmo de valsa, certo? Fala assim, mas fala errado.
Reparando bem, a valsa se embala num ritmo nada malemolente. Ao contrário, os dançantes têm que ter não só a leveza corporal para a coreografia, aqueles movimentos sincronizados dos braços, o corpo se apoiando firme no balanço dos pés.
Assim também com os outros ritmos, uns com maior ou menor intensidade, mas sempre com alguma intensidade.
Então quando você diz, por exemplo, que um movimento perdeu ou está perdendo o ritmo você está detectando a débâcle, ou seja, aquilo que vinha atiçando a atenção dos outros, em vias de obter até pontos de exclamação, está começando a desandar.
E quando desanda amiga, amigo, se um pisa no pé do outro um dos dois pode até cair.
Costuma-se dizer que o show não pode parar. Isso equivale a dizer também que não se pode deixar cair o ritmo do espetáculo. E assim como no teatro, também na vida. Na política. No governo. Nada de perder o ritmo das coisas.
Próximo a nós, ao derredor de nós, ainda bem que muito antes da linha do horizonte de nós, estamos assistindo a melancólicas figuras, ultimamente mais que nunca não mais que apenas figurantes, cambaleando, cambaleando e, ao que parecem assim de não muito longe, nem bêbadas ainda estão, tamanha a sede de poder.
Em tudo, quando há um objetivo comum, não pode faltar o espírito de equipe. Isso exige sincronia nas ações, confiança recíproca, há que haver um mesmo ritmo entre todos.
Imagine o grupo dançando em pares aos olhares de todos.
Se de repente muda a musica, é lógico que se muda o ritmo, de modo a adaptá-lo aos novos compassos e silêncios. Cada um no grupo tem que ter a versatilidade indispensável para, de pronto, mudar os movimentos corporais sem intervalo na coreografia.
Esse espetáculo político dos últimos tempos, ao ponto a que chegou entediante, um pisando no pé do outro, os passos desconexos, saindo do compasso, fora do ritmo, como se quisesse fazer desta hora um carnaval inteiro, sem temor da ressaca na quarta-feira, isso nos soa a fuleiragem, a muita fuleiragem.
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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA