Migalhas de Peso

A panela de pressão

A panela de pressão, símbolo da vida doméstica, pode explodir a qualquer momento e causar desastres.

25/4/2013

A panela de pressão é o símbolo perfeito da vida doméstica. Faz parte de toda cozinha em todos os níveis sociais. Está presente nas cozinhas da classe média, das mansões miliardárias e das favelas. Mas oferece um perigo. Se não fosse a válvula de escapamento do vapor, poderia explodir a qualquer momento e causar danos de tremenda destrutividade ao redor.

Todo o potencial explosivo e destrutivo da panela de pressão foi denunciado agora pelo uso perverso que dela fizeram os dois irmãos tetchenos em Boston. A panela de pressão, símbolo perfeito da vida doméstica como lugar privilegiado de paz, ninho de repouso na agitação e no tumulto das ruas, a cada dia mais caóticas e insuportáveis, foi violentada, profanada e politizada ao degenerar em instrumento de guerra urbana para matar e mutilar para sempre vítimas de todas as condições e idades, no momento cívico mais importante da história de Boston - a Maratona do Dia do Patriota.

A perversão hedionda do maior símbolo de paz doméstica convertida em arma de destruição cega em nome do radicalismo político representa mais um capítulo da degradação monstruosa do que há de mais sagrado, os valores da vida privada, no anonimato dos movimentos de massa. Mais um ato da confusão do público com o privado, fervedouro do patrimonialismo obscurantista e de todas as formas da corrupção que campeiam pelo mundo afora no campo político, econômico, financeiro, ético e cultural.

Lembrando-se que o confisco violento do privado pelo público constitui o próprio ato de fundação do totalitarismo, que ganhou este nome pelo seu projeto sinistro de absorver no Estado a vida privada em todos e em cada uma de suas modalidades, de modo a controlar tudo pela mão pesada do Estado, da burocracia, do casuísmo legal.

A panela de pressão degenerada em bomba significa que a partir de agora os atentados contra a ordem pública podem ser programados e preparados no seio da própria convivência em família, em estilo petulantemente pós-moderno.

Neste mundo irresponsável, o terror viceja no ambiente chez-soi do lar, ao lado do carrinho do bebê e das atividades culinárias, arquitetado por gente comum, estudantes, trabalhadores, funcionários públicos, donas de casa. Como disse o jornalista Clóvis Rossi, gente que parece normal, como eu e você.

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* Gilberto de Mello Kujawski é procurador de Justiça aposentado, escritor e jornalista.

 

 

 

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