Sabe aquele labrador, o Nêgo, que o Dirceu repassou à Dilma quando saiu da Casa Civil do Lula? Sim, aquele mesmo que o pessoal, de gozação, andou espalhando que tinha um chip de gravação incrustrado numa orelha para repassar ao antigo dono tudo que escutasse.
Eu via o Nêgo numa coleira prateada sendo levado discretamente por um segurança nas caminhadas matinais da Dilma pela orla da península. Os cuidados dela com o Nêgo transpiravam verdadeiros. Tanto que posou com ele para fotos na campanha eleitoral.
A Dilma foi morar no Alvorada e naquela imensidão de jardim o Nêgo se soltou. Divertia-se correndo atrás das emas. A Dilma para defendê-las deportou o Nêgo para a Granja do Torto.
Quando o Dirceu, acusado de ter craniado o mensalão, foi condenado sob a relatoria do Barbosa a mais de dez anos de prisão, pensei – e o Nêgo, não verá mais o seu antigo dono?
Em Araçatuba, SP, um casal de labradores, ele Max e ela Lua, é visto toda tardinha no lago onde o seu Luís, o dono, desapareceu afogado. Eles chegam, sentam e fitam o lago por algum tempo. Depois mergulham como se estivessem à procura do seu dono.
No sudeste da ilha de Florianópolis, SC, só se fala no Lobão, há dez anos sem o seu dono, mas ainda à sua espera. Não mora na casa de ninguém, vagueia pelas ruas, contempla a correnteza do Rio Tavares, aceita que os estranhos lhe deem comida e, definitivamente, não gosta de cachorro preto. Negão ou neguinho, Lobão põe todos para correr.
Despiciendo aduzir que o Lobão é inimputável. Quem futuramente o ofender, não. O novo Código Penal, já aprovado pelo Senado e agora tramitando na Câmara, vem com uma norma explicita de proteção legal, uma espécie de lei Maria da Penha para cães e gatos punindo com prisão de um a quatro anos quem abusar deles.
Curioso nesta nova proposta de lei é que se alguém deixar de prestar assistência a uma criança abandonada terá uma reprimenda de apenas entre um a seis meses de prisão, ou multa.
Então, pessoal, todo cuidado é pouco com os gatos e com os cães! Propõe-se ate quatro anos de cadeia para quem abandonar, em qualquer espaço público ou privado, animal doméstico, domesticado, silvestre ou em rota migratória, do qual se detém a propriedade, posse ou guarda, ou que esteja sob seu cuidado, vigilância ou autoridade.
Há tempos o Léo Jaime andou propondo num rock – "Troque seu cachorro por uma criança pobre / deixe na história de sua vida uma noticia nobre / (...) Tem muita gente por aí que tá querendo levar uma vida de cão /eu conheço um garotinho que queria ter nascido pastor alemão (...) Seja mais humano, seja menos canino / dê guarida pro cachorro, mas também dê pro menino".
Amanhã, se aprovado esse novo Código Penal assim como saiu do Senado, essa proposição de trocar seu cachorro por uma criança pobre, dependendo do modus faciendi, pode lhe render ate quatro anos cadeia.
Em Israel inauguraram agora um canal a cabo chamado DogTV com programação só para entreter cachorro.
Os daqui de casa, a Miúcha e o Kindle, já assistem TV há tempos. Várias vezes saí com a Eurídice e na volta encontramos os dois no sofá da sala assistindo desenhos animados da TV portuguesa.
Quanto ao Nêgo em seu exilio na Granja do Torto, não lamentem muito. Como quem precisa se vira, o Nêgo já se virou por lá. É pai de um serelepe filhote loiro.
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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA
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