A <_st13a_verbetes w:st="on">lei anterior, <_st13a_verbetes w:st="on">que <_st13a_verbetes w:st="on">levava o nº 6.368/76, penalizava o <_st13a_verbetes w:st="on">dependente <_st13a_verbetes w:st="on">com a <_st13a_verbetes w:st="on">sanção de <_st13a_verbetes w:st="on">seis meses a <_st23a_dm w:st="on">dois <_st13a_verbetes w:st="on">anos de <_st23a_dm w:st="on">prisão. A <_st13a_verbetes w:st="on">nova <_st13a_verbetes w:st="on">lei, no <_st13a_verbetes w:st="on">entanto, continua considerando <_st13a_verbetes w:st="on">ilícita a <_st13a_verbetes w:st="on">conduta do agente, <_st13a_verbetes w:st="on">mas prevê <_st13a_verbetes w:st="on">apenas <_st23a_dm w:st="on">aplicação de <_st13a_verbetes w:st="on">medidas socioeducativas, <_st13a_verbetes w:st="on">sem <_st13a_verbetes w:st="on">qualquer <_st23a_dm w:st="on">alcance das <_st13a_verbetes w:st="on">penas restritivas de <_st13a_verbetes w:st="on">liberdade.
Esta <_st13a_verbetes w:st="on">nova <_st13a_verbetes w:st="on">roupagem <_st13a_verbetes w:st="on">dada à <_st13a_verbetes w:st="on">conduta do <_st23a_dm w:st="on">usuário traz algumas <_st13a_verbetes w:st="on">dificuldades <_st23a_dm w:st="on">para a <_st13a_verbetes w:st="on">compreensão do <_st13a_verbetes w:st="on">leigo. A <_st13a_verbetes w:st="on">cultura do <_st13a_verbetes w:st="on">povo <_st23a_dm w:st="on">brasileiro é, por tradição, fincada no <_st23a_dm w:st="on">processo, <_st13a_verbetes w:st="on">pena e <_st23a_dm w:st="on">prisão. A <_st23a_dm w:st="on">prisão, ou algo que lhe que lhe equivalha, deve <_st23a_hdm w:st="on">prevalecer na avaliação do cidadão. O <_st13a_verbetes w:st="on">direito <_st13a_verbetes w:st="on">penal <_st13a_verbetes w:st="on">moderno, <_st13a_verbetes w:st="on">porém, está traçando <_st13a_verbetes w:st="on">novos <_st13a_verbetes w:st="on">caminhos de <_st13a_verbetes w:st="on">acordo <_st13a_verbetes w:st="on">com o <_st13a_verbetes w:st="on">pensamento minimalista, <_st13a_verbetes w:st="on">que se caracteriza <_st13a_verbetes w:st="on">pela <_st13a_verbetes w:st="on">intervenção <_st13a_verbetes w:st="on">mínima do <_st13a_verbetes w:st="on">Direito <_st13a_verbetes w:st="on">Penal.
Avalia-se a <_st13a_verbetes w:st="on">conduta do <_st13a_verbetes w:st="on">agente <_st13a_verbetes w:st="on">infrator <_st23a_dm w:st="on">pelo <_st13a_verbetes w:st="on">dano causado à <_st23a_dm w:st="on">sociedade. <_st13a_verbetes w:st="on">Não sendo <_st13a_verbetes w:st="on">relevante, a <_st13a_verbetes w:st="on">função persecutória do <_st13a_verbetes w:st="on">Estado <_st13a_verbetes w:st="on">não se mobilizará. Há <_st13a_verbetes w:st="on">países <_st13a_verbetes w:st="on">que, <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st13a_verbetes w:st="on">relação ao <_st13a_verbetes w:st="on">uso de <_st13a_verbetes w:st="on">drogas, entendem <_st13a_verbetes w:st="on">que se compara a uma autolesão <_st13a_verbetes w:st="on">que, de <_st13a_verbetes w:st="on">regra, <_st13a_verbetes w:st="on">não é punível, <_st23a_dm w:st="on">pois <_st13a_verbetes w:st="on">não <_st13a_verbetes w:st="on">afeta <_st13a_verbetes w:st="on">nenhum <_st23a_dm w:st="on">bem <_st13a_verbetes w:st="on">jurídico <_st13a_verbetes w:st="on">alheio e <_st13a_verbetes w:st="on">sim o <_st13a_verbetes w:st="on">exercício de <_st13a_verbetes w:st="on">um <_st13a_verbetes w:st="on">direito localizado na <_st13a_verbetes w:st="on">esfera da <_st23a_dm w:st="on">privacidade do <_st13a_verbetes w:st="on">agente. Para outros, o problema é da competência da saúde pública e não da polícia e judiciário.
O <_st13a_verbetes w:st="on">Direito <_st13a_verbetes w:st="on">Penal <_st23a_dm w:st="on">Brasileiro, <_st13a_verbetes w:st="on">paulatinamente, vem encampando <_st13a_verbetes w:st="on">tais <_st13a_verbetes w:st="on">princípios. <_st13a_verbetes w:st="on">Basta <_st23a_hm w:st="on">ver a <_st13a_verbetes w:st="on">introdução à Lei dos <_st13a_verbetes w:st="on">Juizados <_st13a_verbetes w:st="on">Especiais Criminais, <_st13a_verbetes w:st="on">onde <_st13a_verbetes w:st="on">não há <_st23a_dm w:st="on">aplicação de <_st13a_verbetes w:st="on">penas restritivas de <_st13a_verbetes w:st="on">liberdade, permitindo a <_st13a_verbetes w:st="on">transação <_st13a_verbetes w:st="on">penal e a <_st13a_verbetes w:st="on">suspensão <_st13a_verbetes w:st="on">condicional do <_st23a_dm w:st="on">processo, <_st13a_verbetes w:st="on">sem <_st13a_verbetes w:st="on">qualquer sequela <_st23a_dm w:st="on">para o <_st13a_verbetes w:st="on">autor da <_st23a_dm w:st="on">infração.
Pela referida lei de drogas, com relação ao usuário, numa interpretação crítica, nasce uma <_st13a_verbetes w:st="on">figura anômala de <_st13a_verbetes w:st="on">crime. Opera-se uma descriminalização, <_st13a_verbetes w:st="on">mas continua <_st13a_verbetes w:st="on">ainda o <_st13a_verbetes w:st="on">caráter <_st13a_verbetes w:st="on">ilícito do <_st13a_verbetes w:st="on">fato. Reprime a <_st13a_verbetes w:st="on">conduta de <_st13a_verbetes w:st="on">quem adquire, <_st13a_verbetes w:st="on">guarda, tem <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st13a_verbetes w:st="on">depósito, <_st13a_verbetes w:st="on">porta <_st13a_verbetes w:st="on">ou traz <_st13a_verbetes w:st="on">consigo <_st23a_dm w:st="on">substância <_st13a_verbetes w:st="on">entorpecente, <_st23a_dm w:st="on">para <_st13a_verbetes w:st="on">uso <_st23a_dm w:st="on">próprio, e estabelece as <_st13a_verbetes w:st="on">seguintes <_st13a_verbetes w:st="on">penas: a) <_st23a_dm w:st="on">advertência <_st13a_verbetes w:st="on">sobre os <_st13a_verbetes w:st="on">efeitos das <_st13a_verbetes w:st="on">drogas; b) <_st13a_verbetes w:st="on">prestação de <_st13a_verbetes w:st="on">serviços à <_st13a_verbetes w:st="on">comunidade; c) <_st13a_verbetes w:st="on">medida <_st13a_verbetes w:st="on">educativa de comparecimento a <_st13a_verbetes w:st="on">programa <_st13a_verbetes w:st="on">ou <_st13a_verbetes w:st="on">curso <_st13a_verbetes w:st="on">educativo. A legislação pátria segue a sinalização das <_st13a_verbetes w:st="on">mais avançadas no <_st13a_verbetes w:st="on">mundo.
Com relação à proposta de descriminalização da figura do usuário feita pela Comissão, é de se indagar se a população brasileira está apta para assimilar tamanha mudança. A <_st13a_verbetes w:st="on">resposta <_st13a_verbetes w:st="on">negativa se impõe. <_st13a_verbetes w:st="on">Falta ao <_st13a_verbetes w:st="on">cidadão <_st23a_dm w:st="on">brasileiro a <_st13a_verbetes w:st="on">informação a <_st13a_verbetes w:st="on">respeito de <_st13a_verbetes w:st="on">sua conscientização <_st13a_verbetes w:st="on">social e o <_st13a_verbetes w:st="on">correspondente comprometimento <_st13a_verbetes w:st="on">com <_st13a_verbetes w:st="on">ela.
A <_st13a_verbetes w:st="on">primeira <_st13a_verbetes w:st="on">conclusão da proposta legislativa, <_st23a_dm w:st="on">pelo <_st13a_verbetes w:st="on">menos a respeito do que se comenta à <_st13a_verbetes w:st="on">boca <_st13a_verbetes w:st="on">pequena <_st13a_verbetes w:st="on">ainda, é <_st13a_verbetes w:st="on">que foi liberado o <_st13a_verbetes w:st="on">uso de <_st13a_verbetes w:st="on">drogas e <_st13a_verbetes w:st="on">que <_st13a_verbetes w:st="on">ninguém <_st13a_verbetes w:st="on">mais será <_st23a_dm w:st="on">preso <_st13a_verbetes w:st="on">por <_st13a_verbetes w:st="on">tal <_st13a_verbetes w:st="on">conduta. Afasta-se, definitivamente, a aplicação de qualquer medida de caráter educativo e retira a roupagem de ilicitude do fato. A <_st13a_verbetes w:st="on">intenção é <_st23a_hm w:st="on">recuperar o <_st13a_verbetes w:st="on">homem e <_st13a_verbetes w:st="on">não penalizá-lo. <_st13a_verbetes w:st="on">Tanto é <_st13a_verbetes w:st="on">que a <_st13a_verbetes w:st="on">própria <_st13a_verbetes w:st="on">lei determina ao <_st23a_hm w:st="on">Poder <_st13a_verbetes w:st="on">Público <_st13a_verbetes w:st="on">que coloque à <_st23a_dm w:st="on">disposição do <_st13a_verbetes w:st="on">infrator, <_st13a_verbetes w:st="on">gratuitamente, <_st13a_verbetes w:st="on">estabelecimento de <_st13a_verbetes w:st="on">saúde, <_st13a_verbetes w:st="on">preferencialmente ambulatorial, <_st23a_dm w:st="on">para <_st13a_verbetes w:st="on">tratamento especializado.
Mas uma lei não se faz somente de boas intenções. Deve ter em mente a realidade da sociedade onde será aplicada, pois se não for interpretada corretamente, acarretará maiores danos do que os existentes. A sociedade, por si só, independentemente de qualquer manifestação legislativa, estabelece seus patrões morais e éticos que serão seguidos obrigatoriamente por todos os seus membros. Assim, surgem definições a respeito do certo e errado, do permitido e do proibido, do lícito e do comprometedor e fixam-se parâmetros para uma avaliação a respeito da reprovabilidade moral.
A brusca retirada da figura delitiva do dependente da legislação penal provoca uma violência aos preceitos sociais que, erigidos em valores hierarquizados e fincados em alicerces quase que irremovíveis, não permitem passivamente a transformação. Há, como se sabe, uma clara divergência entre todas as classes sociais a respeito da liberação do uso das drogas. De um lado, pondera-se que o dependente não é criminoso e que necessita de tratamento adequado para estancar seu vício, uma vez que a indicação terapêutica é mais aconselhável do que a punitiva. De outro, o dependente é visto como um perigo à sociedade, pois em razão de sua conduta coloca em risco a segurança, saúde e vida das pessoas, além de ser o propulsor do crime maior, que é o tráfico de drogas.
É indiscutível que, ausente qualquer política de recuperação de drogados, com a seriedade que se faz necessária, o panorama da criminalidade neste setor receberá um considerável reforço. As organizações criminosas, por meio de seus braços distribuidores, terão livre acesso a todos os usuários que livremente, sem qualquer tipo de responsabilidade, poderão adquirir entorpecentes e, em consequência, expandir ainda mais o comércio ilícito com dividendos financeiros cada vez mais compensadores aos disseminadores do vício. Sem falar ainda que o traficante pode mascarar-se sob a vestimenta do dependente e transportar expressiva quantidade de substância entorpecente destinada ao comércio.
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* Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de Justiça aposentado e reitor da Unorp
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