Não demorou muito e começaram a namorar. E quanto mais a moça se aproximava do rapaz mais se apaixonava e mais inebriante ele se tornava.
Embora tudo corresse bem, a moça escondeu o namoro de seus pais. Assim, eles se encontravam às escondidas, mas com constância.
Um dia os pais descobriram tudo e ficaram muito chateados. Conversaram em particular com a filha e lhe explicaram os motivos pelos quais deveria terminar imediatamente o namoro. Mas ela não lhes deu ouvidos: “Eu sou adulta. Sei o que quero para mim. Voces são uns caretas”, foi sua resposta.
Com o passar do tempo o relacionamento tornou-se mais intenso e a moça, como que sugada por seu amante, começou a sentir alguns problemas de saúde. Uma pequena tosse foi o alerta. Depois veio o amarelamento dos dentes e dos dedos, a dificuldade de respirar, o chio no peito e o emagrecimento.
Correu então ao médico e após alguns exames recebeu deste a trágica notícia: “Você está com câncer no pulmão. Deixe imediatamente do namorado. Talvez haja uma chance”.
Mas ainda assim ela manteteve ao seu lado o companheiro inseparável.
Iniciaram-se as sessões de quimioterapia, os cabelos caíram, sua pele tornou-se lívida e as dores eram lancinantes.
A morte se aproximava rápida e inexorável. Não havia mais o que fazer.
Num último arroubo, a moça, chorando, começa a lembrar de sua infância saudável, dos campos floridos por onde correu e brincou de sua juventude, do sonho de ter uma casa, trabalho e filhos. E, com ódio, pega o namorado letal e o atira pela janela.
O objeto cai na cabeça de uma andarilha. Era uma carteira de cigarros, obviamente. Sem saber o motivo do choro que vinha da janela, a inocente pega o maço de cigarros e se afasta contente para curtir o novo namorado mais adiante... E se inebriar com sua fumaça cinzenta e assassina.
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* Gilberto Ferreira é juiz de Direito em Curitiba/PR e professor da PUC
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