O advogado robô
Mário Gonçalves Júnior*
O fato é que a automação e a computação estão se insinuando fortemente, não é de hoje, também sobre o trabalho intelectual. Já se foi o tempo da máquina a vapor, que revolucionou a indústria. Hoje o trabalho intelectual mergulhou no processo industrial. David Autor, professor de economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) diz que a economia está sendo "esvaziada". Novos empregos estão aparecendo na base da pirâmide econômica, os empregos no meio estão sendo perdidos para a automação e a exportação de vagas, e, agora, o crescimento das vagas no topo está se desacelerando devido à automação.
A precarização da advocacia já vem fazendo de parte considerável dos advogados trabalhadores autômatos, que agem por repetição, segundo o grau de similaridade das ações judiciais-clone. São trabalhadores que empenham proporcionalmente mais suor do que talento. Tal como nas fábricas de parafuso.
Grandes empresas cometem erros que afetam muitos. Desses erros corporativos nascem centenas, milhares de credores nas mesmíssimas situações, ou em situações muito semelhantes. Isto vem refletindo na advocacia e já se costuma dizer que "quem defendeu uma dessas causas, já defendeu todas". Os computadores replicam os conteúdos e as copiadoras e impressoras replicam os papéis. E as faculdades replicam os advogados.
Tom Mitchell, diretor do departamento de aprendizado com máquinas na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburg, arrisca que "o impacto econômico será enorme" porque "estamos no início de um período de dez anos em que transitaremos dos computadores que não conseguem entender a linguagem para um ponto em que os computadores conseguirão entender bastante coisa da linguagem".
Era o que faltava para fadar os últimos bons advogados no mesmo balaio de imbecis da maioria. Empurrados ladeira abaixo pela kamikaze invenção do "contencioso de massa" (1 processo = 1 pastel), a tecnologia de informação vai invadindo praias antes seguras. Para quem explora a mão de obra barata da advocacia, é onda de "pegar jacaré". Para quem se sustenta do próprio intelecto, tsunami.
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*Advogado do escritório Rodrigues Jr. Advogados
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