A minoria também é opinião pública
Gilberto de Mello Kujawski*
No fundo, a oposição raciocina assim: o prestígio de Lula é imbatível; com seus 83% de popularidade ele é quase unanimidade, e levanta uma barreira intransponível que anula todos os esforços da oposição para um dia sobrepor-se ao PT.
Em outros termos: a oposição, constituída pela minoria, é um zero à esquerda no jogo político e na competição por cargos. A opinião pública está representada pela maioria vitoriosa, o PT somado às suas coligações com o PMDB e outros partidos, e pronto.
De nada adianta resistir, contrapor-se à onda avassaladora da corrente majoritária capitaneada por Lula e seu carisma estrondoso e esmagador.
Com esta maneira conformista e politicamente equivocada de pensar, a oposição, praticamente, se retira da disputa política e entrega os pontos para a maioria vencedora.
A oposição derrotada, ao cair no fatalismo e na irresponsabilidade, esquece-se de um detalhe importante que lhe poderia dar vida nova: a minoria também representa a opinião pública.
De forma alguma admite-se que a opinião pública em peso foi açambarcada pela maioria triunfante que desfila nas avenidas exibindo os louros da vitória, como se fosse a dona do país e de seu futuro.
Não e não. Os 44% alcançados pelo candidato perdedor, José Serra, na última eleição, pesam na balança da disputa eleitoral, representam parcela significativa da opinião pública e não podem ser jogados no lixo. A opinião pública não é unívoca, nem monolítica, nem indivisível. Justamente porque ela aponta para mais de uma direção é que tem lugar as eleições, a escolha, por sufrágio, do partido ou do candidato preferencial, favorito, mas nem por isso monopolizador da opinião pública em sua totalidade. A opção da minoria também é opinião e também é pública.
A minoria, embora derrotada, influi sobre o alcance e a densidade da maioria vitoriosa, determina até onde vai o seu poder. Quanto maior a porcentagem de votos obtidos pela minoria, tanto mais está limitado o poder da maioria. Em alguns casos a facção majoritária não poderá governar sem apoio da minoria ou acordo com ela. Sem levar em conta que a minoria de hoje pode ser a maioria amanhã.
Em face desse quadro realista, que faz a oposição? Encolhe-se na sua covardia, divide-se em disputas internas mesquinhas, não se dá o devido valor e se conforma com uma derrota episódica, como se ela pesasse sobre seu destino para sempre, qual a maldição dos deuses.
A maioria vencedora das últimas eleições representa a opinião pública em sua vertente majoritária, mas não reflete a opinião pública em sua totalidade. Ao fugir à responsabilidade de representar a minoria derrotada naquele pleito, a oposição está traindo vergonhosamente seu compromisso histórico com a parcela mais desamparada da opinião pública em nosso país – a minoria, que está órfã e marginalizada politicamente, em prejuízo da sanidade do jogo democrático.
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*Ex-promotor de Justiça. Escritor e jornalista
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