Migalhas de Peso

Em busca do aconchego que a vida proporciona, quando vivida

Reza um ditado saxão que, na língua original, tem duplo sabor: "Cada amanhecer é uma segunda oportunidade". Pois bem, virando o ano, que encerra a primeira década do século XXI, pensei que seria propício cogitar algumas razões ou motivos importantes para doravante atuar de forma sustentável na sociedade. Ou, quem sabe, para ela?

11/3/2011

Em busca do aconchego que a vida proporciona, quando vivida

Jayme Vita Roso*

"Enquanto houver na terra

flores, crianças e aves,

podemos ter certeza

de que a esperança não morreu!"

(D. Helder Câmara1)

Reza um ditado saxão que, na língua original, tem duplo sabor: "Cada amanhecer é uma segunda oportunidade" (Every sunrise is a second chance). Pois bem, virando o ano, que encerra a primeira década do século XXI, pensei que seria propício cogitar algumas razões ou motivos importantes para doravante atuar de forma sustentável na sociedade. Ou, quem sabe, para ela?

Dei-me a oportunidade de fazer questionamentos, tais como: "que é a cultura da paz?", "como uso a água?", "qual o destino que devo dar à energia?", "qual o melhor meio de me locomover?", "é correto o que consumo?", "que faço com os resíduos?", "por acaso, cuido da minha saúde física e mental?", "alimento-me adequadamente?" E, para exagerar, "como exerço a cidadania?".

Bem, como se tratam de temas que envolvem contínuos solilóquios, os questionamentos devem ser respondidos pelo próprio que os formula ou os constrói. Com um pouco de ousadia, utilizei o método que é comum nas escolas rabínicas, onde as indagações formuladas ressoam como se fossem outras solicitações dentro do sentido das mesmas perguntas articuladas.

E assim o questionário alimentado pela imaginação combina com o refrão saxônio. E o ligo por cadeias de casualidades. Na mesma ordem acima, desta feita alinhavando e enumerando:

1 – à cultura da paz, "qual o sentido que me faz ou me induz a respeitar a vida em toda a sua diversidade?"; e, ainda, "tenho procurado, com todas as minhas forças, nas minhas entranhas, transmitir às gerações que me advirão valores ou tradições que podem propiciar a escora de quaisquer comunidades humanas e ecológicas dentro da Gaia?"; ou "será que os valores que venho buscando, podem servir, para que se dê uma cadência humana a atos praticados na comunidade?";

2 – ao uso da água, "como a utilizo diariamente?"; "por acaso, já refleti de que ela, em muitos lugares deste Planeta, é menos do que escassa e muito menos do que rara, nula quiçá?"; "quanto tempo demoro para tomar banho?"; "ao lavar a louça, sou prudente e não desperdiço água?"; "conheço de onde vem a água que consumo?"; "já fui visitar ou me inteirar das condições pluviais da região em que resido?";

3 – o destino da energia, "por ventura, necessito de todos os aparelhos elétricos da minha casa?"; "estão esses aparelhos, embora sem uso, no sinal stand by?"; "já pensei em sugerir para o meu condomínio adotar o aproveitamento da luz solar?";

4 – a melhor locomoção, "esforço-me para não usar o meu veículo no dia a dia?"; "faço-o sozinho ou adoto vizinhos ou colegas para o mesmo trajeto?"; "estou em condições físicas de utilizar uma bicicleta como transporte alternativo?";

5 – a respeito do consumo, "preocupo-me com o processo utilizado na fabricação do (produto) industrializado que consumo?"; "tenho reparado nas embalagens?"; "tenho ousado recusar produtos de consumo de origem duvidosa?"; "sou corajoso o suficiente para recusar aos meus filhos os fast-foods?"; "já procurei me inteirar dos produtos nocivos à saúde utilizados em minha casa?";

6 – sobre os resíduos, "estou dando destino correto aos resíduos que produzo?"; "onde habito já sugeri esforços para a coleta seletiva de lixo?"; "como está sendo cuidado o esgoto da minha residência?"; "por que não insisto no condomínio que se adote o bio-sistema?";

7 – a manutenção da saúde, "por sorte, consegui reservar tempo para praticar atividades culturais, artísticas, físicas ou até lazer individual ou coletivo?"; "repugno movimentos que propõem a prática de relaxamento no trabalho ou fora dele?"; "como estou observando a minha harmonia pessoal?";

8 – quanto à escolha dos alimentos, "sou exigente na seleção e utilização de produtos saudáveis?"; "alguma vez investiguei os fabricantes dos produtos que consumo?"; "dou preferência a produtos enlatados ou naturais?";

9 – no exercício da cidadania, "alguma vez tive a coragem de recriminar um candidato em que votei e ajudei a ser eleito?"; "participo de algum movimento de cidadania?"; "sou afiliado de algum partido político?"; "ou, como um duende, faço travessuras na vida pública em benefício próprio, sendo funcionário?".

Esta verdadeira cartilha não veio, ao léu. É ideário de vários movimentos ambientais ligados ou pertencentes às idealísticas pessoas que mantém RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). Com elas, divido o aprimoramento pessoal, que leva e conduz ao coletivo: "a essência da comunidade é o reconhecimento e a profunda referência para o outro como ensina John Main".

Aprendi a renunciar ao que é fácil. Tenho repulsa ao mainstream, palavra de origem americana, muito usada, que significa "o grande público, o dominante, o popular". No sentido negativo – no momento em que vivemos – é o símbolo da malfadada "cultura hegemônica" tão difundida e massificada. Ela bestializa.

Tornemo-nos aptos a refletir e não continuar a nos interessar por aquilo que, no cinema, visa um grande público, uma mídia de massa, um produto que se vende como estereótipo às reações e à conduta de uma pluralidade de pessoas.

Afinal, é preciso reagir e apregoar que tudo passa como vento, como proclamava o autor dos Eclesiastes, com marcas inapagáveis em cada um.

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1 CÂMARA, D. Helder. "Um Olhar Sobre a Cidade... Olhar atento, de esperança, de prece...". Paulus, São Paulo, 1995, p. 47.

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*Advogado e fundador do site Auditoria Jurídica

 

 

 

 

 

 

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