Os planos de saúde paliativos e a úlcera do "seu" Antônio
Maurício Pereira*
Em recente artigo, dr. Dráuzio Varella estima que mais de 97% dos médicos prestam serviços aos planos de saúde recebendo, em média, R$20 por consulta. Com este valor, o atendimento perde toda a qualidade, pois um médico que recebe R$20 tem de atender um grande número de pacientes para manter o consultório. E não se faz uma consulta adequada de olho no relógio.
Em razão da velocidade do atendimento, o paciente como ser único ficou em segundo plano. A doença passou a ser a única preocupação, não existindo mais o senhor Antônio e suas dores, mas a úlcera do senhor Antônio.
As operadoras não conseguem perceber que a economia feita com o pagamento desaparece com o excesso de exames e diagnósticos tardios, os quais resultam em graves complicações e gastos exorbitantes com internações, que poderiam ser evitados caso fossem feitas consultas mais precisas e, portanto, mais demoradas.
É prática frequente nas operadoras com rede de atendimento própria o controle da equipe médica. Os médicos passam a trabalhar com a orientação para um controle ferrenho dos gastos, o quê, muitas vezes, prejudica os conveniados, principalmente os doentes crônicos e portadores de neoplasias malignas em fase avançada.
Com os hospitais próprios, as operadoras controlam ainda mais os custos. A equipe do pronto socorro é orientada a evitar internações e, com isso, pessoas gravemente enfermas têm permanecido horas no pronto atendimento e, após serem atendidas, são liberadas rapidamente.
Assim, sobram reclamações e faltam soluções. Os conveniados reclamam da péssima qualidade do atendimento médico; os médicos, por sua vez, da baixa remuneração, e as operadoras, dos altos custos da medicina.
O atendimento médico perdeu a singularidade, se desumanizou. As atuais condições do exercício da medicina têm piorado o relacionamento entre médicos e pacientes. É quase impossível um atendimento humanizado e de boa qualidade.
Os planos mais populares e que divulgam baixos preços são os que mais penalizam os clientes e mais controlam os médicos credenciados. Existem casos de doentes considerados fora de possibilidade terapêutica, mas que, quando avaliados por médicos particulares, recebem tratamentos diferentes dos aplicados pelo convênio. Há, portanto, uma clara queda na qualidade do atendimento prestado. Em pesquisa atual, só 23% das operadoras foram consideradas satisfatórias e apenas 2% receberam notas avaliadas como altas. Isso explica por que cada vez mais as questões médicas são levadas aos tribunais para retomada de tratamentos ou liberação de exames negados pelos planos. Os doentes estão procurando na Justiça o mínimo de tratamento para suas graves moléstias.
Para completar, a ANS sempre está provocando polêmica e gerando protestos com suas decisões. Segundo uma recente resolução, os planos de saúde não são mais obrigados a cobrir implantes auditivos em crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. Para as outras faixas etárias, os planos só precisam pagar pelo implante de um ouvido. Um verdadeiro atraso no direito dos clientes de plano de saúde.
Com o governo não cumprindo a obrigação de prover saúde ao cidadão e muito menos de ser o fiscal da saúde suplementar, logo teremos planos para usarmos só quando estivermos saudáveis.
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*Assistente técnico do Vilhena Silva Sociedade de Advogados
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