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Bruno seria um psicopata? Você convive com um psicopata?

Logo que o rumoroso caso Bruno ganhou força midiática começaram a afirmar de que ele seria um psicopata, caso tivesse feito tudo que foi divulgado. Seria mesmo? Quem é o psicopata? Como ele se comporta? Como ele se relaciona com as pessoas?

3/8/2010


Bruno seria um psicopata? Você convive com um psicopata?

Luiz Flávio Gomes*

Logo que o rumoroso caso "Bruno" ganhou força midiática - julho de 2010 - começaram a afirmar de que ele seria um psicopata, caso tivesse feito tudo que foi divulgado. Seria mesmo? Quem é o psicopata? Como ele se comporta? Como ele se relaciona com as pessoas? Você - por acaso - convive com um psicopata? Como funciona a cabeça dele? Nem todo psicopata é deliquente assim como nem todo delinquente é psicopata (Cleckley). De qualquer maneira, parece certo que a psicopatia se apresenta como uma das "produtivas fábricas" que integram nossa "Holding Brasil de violência e delinquência".

Vejamos: no nosso livro Criminologia, 6ª edição (São Paulo: RT, 2008, p. 273 e ss.), meu professor e coautor García-Pablos de Molina, que é catedrático de Direito penal na Universidade Complutense de Madri, procurou sublinhar (com base em Kraepelin, Cason, Schneider, Di Tullio, Catalano e Cerquetelli, Kahn, Göppinger, Craft, Garrido Genovés etc.) algumas das características do psicopata: ele não sofre por sua condição, nem manifesta ansiedade ou angústia, que são típicas dos neuróticos [Bruno, mesmo depois de preso, continuou muito tranquilo]. Os psicopatas não são bem socializados e vivem em conflito com a sociedade (com as normas, com as leis). São incapazes de uma lealdade relevante com indivíduos, grupos e valores sociais.

São egotístas, insensíveis (Bruno disse: "ainda vou rir muito de tudo isso"), irresponsáveis, impulsivos e incapazes de se sentirem culpados (Bruno afirmou: "sou inocente"; "não tenho nada a ver com essa morte") e de aprender algo da experiência do castigo. Seu nivel de tolerância de frustrações é baixo e inclinam-se a culpabilizar os outros ou a racionalizar - justificar - de modo plausível sua própria conduta.

O psicopata é egocêntrico, manipulador, mentiroso e cruel (em suas orgias sexuais, diz O Globo, sempre preponderou a violência: são muitas as vítimas das suas violências). Não assume suas responsabilidades (Bruno não reconheceu o filho, não confessou nenhum crime) nem lhe preocupa a repercussão negativa de seu comportamento (Bruno estava tranquilo, mesmo depois de preso; participou de festas e churrascos dois dias depois da morte da vítima; tomou cerveja logo após o seu assassinato). O psicopata é um indivíduo especialmente preparado para patrocinar as empreitadas criminosas mais absurdas e para executar delitos com uma violência desproporcional e gratuita (o crime contra Eliza foi cruel e brutal).

O psicopata não apresenta alucinações e delírios típicos da esquizofrenia, ainda que, precisamente por isso, sua máscara de prudência (de boa pessoa, de bem educado, de esportista famoso etc.) o torna mais difícil de ser descoberto e mais perigoso. Ele não tem capacidade para ver-se a si mesmo como os outros o veem (muitos dizem que ele é violento, mas seguramente ele não se vê assim), para conhecer como sentem os demais quando o veem, para apreciar os afetos e valores que sua existência suscita nos outros. A impulsividade, a destrutividade e o engano são traços dominantes na psicopatia (dizem que Eliza foi levada para MG bem como para a "casa dos horrores" sob promessa de que teria um apartamento para morar e pensão para o filho).

Muitos psicopatas parecem indiferentes aos sucessos dos demais, sentem raras vezes inveja e pouca necessidade de serem admirados (nisso eles se distinguem dos narcizistas). O psicopata raramente integra uma organização criminosa porque ele possui aversão às regras (uma bíblia na sua mão seria então uma mentira?). Não tem, em geral, pretensões econômicas nos seus delitos. Atua descuidadamente, de forma insensata e em geral sem nenhuma necessidade (pelo que divulgaram, a morte de Eliza era totalmente desnecessária).

Para ele o delito é um mero acidente, algo que teria que acontecer (quando Adriano foi acusado de ter batido em sua noiva Bruno disse: "Qual de vocês que é casado nunca brigou com a mulher? Que não discutiu, que não até saiu na mão com a mulher?"). A maior parte dos psicopatas é definida como pessoas sem sentimento; não experimentam complexo algum de culpa pelo mal que causam, nem vergonha, nem má consciência (Bruno, mesmo após sua prisão, apresentava-se com absoluta tranquilidade). É incapaz de aprender, logo, a ameaça da pena lhe é irrelevante, e é por isso que - normalmente - não altera seu comportamento futuro. Em geral não controla seus impulsos nem consegue prever as consequencias dos seus atos (antecipadamente) (depois de preso é que Bruno começou a falar em eventual convocação para 2014, contrato com o Milan etc.). Possui menos medo que os não psicopatas (Bruno estava aéreo, abobalhado, sem ter a mínima noção do que é a pena de um homicídio. Quando o policial lhe disse que isso pode significar 30 anos de cadeia ele se assustou).

Diante de imagens de conteúdo emocional - ou mesmo chocante - comporta-se com muita frieza (dessa maneira teria Bruno se comportado durante os dias de tortura da vítima assim como diante do assassinato, disse o delegado).

Por qual motivo o psicopata aprende mal - ou não aprende - o comportamento prescrito pelas leis? Porque o sistema nervoso vegetativo dele reage pouco, mal e devagar diante do temor ao castigo e se recupera muito lentamente. Esse déficit do sistema neurovegetativo dos psicopatas seria, segundo Mednick, hereditário e congênito.

Claro que todas essas características ainda dependem de mais evidenciação empírica (de mais provas). De qualquer modo, as poucas até aqui alcançadas revelam que o psicopata conta com lenta recuperação do sistema neurovegetativo a uma eventual excitação pelo temor (pelo castigo), hipoatividade congênita, planificação do comportamento proibido, reduzida e lenta mitigação de temor ao castigo, escasso ou nulo reforço dos mecanismos inibitórios frente ao comportamento proibido por causa da péssima capacidade de recuperação do sistema neurovegetativo e reduzida capacidade de aprendizagem do comportamento socialmente aprovado.

Existem muitos tipos de psicopatas (dezenas ou centenas, conforme o autor consultado) assim como existem vários níveis de psicopatia. Antes da análise científico-criminológica de toda a vida de Bruno (que é órfão de pais vivos, que o abandonaram aos 3 meses, sendo criado por uma avó na periferia de Riberão das Neves) assim como das reais circunstâncias dos fatos que o envolveram, ninguém certamente poderá afirmar, com convicção absoluta, de que se trata de um psicopata. Em seu favor milita, ademais, a presunção de inocência (até eventual trânsito em julgado).

De qualquer modo, alguns aspectos do seu comportamento e das suas declarações dão o que pensar. Com a palavra os médicos experts. Para concluir: agora que você conhece muitas das características dos psicopatas, voltamos a perguntar: você convive com um psicopata? De outro lado, é bom saber que psicopatas existem em todos os seguimentos sociais (em todas as classes sociais, profissões etc.).

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*Diretor Presidente da Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes







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