OAB Bipolar
Dirceu Augusto da Câmara Valle*
Al Pacino, em "Advogado do Diabo", travestiu-se de coisa ruim e seduziu a personagem de Keanu Reeves com os holofotes da imprensa e a promessa da fama. Apertada a tecla SAP, para quem não se recorda, a última fala do caramulhão: "A vaidade é o meu pecado favorito".
??Volta e meia esse filme serve para ilustrar exemplos dos que buscam aquele quarto de hora de fama vaticinado por Andy Warhol. Em troca de alguns instantes de exposição, esquecem os que gostam de holofote fácil, a liturgia de suas posições, deixando de lado o bom senso, coisa tão cara em nossos dias.
?O entrevistado, hipnotizado pelas câmeras e microfones, olhar compenetrado, voz gutural, passa a dizer o que imagina que queiram ouvir dele, concretizando a teoria sartriana do ser-para-outrem, por meio do olhar. Deixou de ser quem é e passou a ser quem queriam que fosse.
?O presente texto, elaborado no estro de artigo publicado dias atrás no Estadão por Arnaldo Malheiros Filho, Eduardo Pizarro Carnelós, José Carlos Dias, José Luís Oliveira Lima, José Roberto Batochio, Nilo Baptista, Paulo Sérgio Leite Fernandes e Técio Lins e Silva, registra o alento em ver que grandes nomes da advocacia igualmente enxergam um desvirtuamento da OAB, que passou a se imiscuir em assuntos que não lhe dizem respeito, agindo seus dirigentes como "investigadores e corregedores-gerais" de tudo e de todos. O título, mais oportuno impossível: "Cada macaco no seu galho".
?Recentemente, chegou-se ao absurdo de ter o Conselho Federal da OAB pedido ao Ministério Público, com toda pompa e circunstância, que investigasse a prática de crime que apontou ter acontecido em Brasília, bem como a prisão do suspeito, tudo com a máxima pirotecnia. Justo a OAB que institucionalmente é - ao menos era até ontem - contra a criação de uma outra polícia formada por "promotiras".
Não bastasse, com todas as venias do mundo, parece a OAB ter se esquecido que investigação é para apurar, não para linchar ou legitimar condenações antecipadas proclamadas pela mídia e por instituição sem legitimidade para fazer juízo de valor.
?Espero - e que os anjos digam amém! - não ter a classe dos advogados o desgosto de ver os que deveriam por ela zelar se prestando ao papel de, bastando um chamado, comparecer para discutir "a influência da barba do camarão no fluxo das marés", usando a instituição de palanque para bisonhas iniciativas.
O pior agora é ver que o Pleno do Conselho Federal da OAB não só concorda com os últimos acontecimentos, mas os aplaude de pé, enquanto a maior parte advocacia - aquela militante, acostumada ao papel de escudo de quem acusado quando todos lhe apedrejam - lamenta, dando-lhe as costas.
Pode até se criticar a fulanização da colocação, mas cada um no seu quadrado. A natureza da advocacia - histórica, filosófica, jurídica e, sobretudo, politicamente - é outra.
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*Advogado