Migalhas de Peso

Falamos Muito… mas nem sempre dizemos tudo

A qualidade dos políticos é baixa, mas você nem se lembra mais em quem votou nas últimas eleições. A praia está imunda e você não fala nada quando aquele seu vizinho joga o palito de sorvete na areia. O salário da sua equipe está defasado e você nunca tem tempo de discutir a questão com o departamento de recursos humanos, porque afinal, o problema é deles.

8/3/2010


Falamos Muito… mas nem sempre dizemos tudo

Josie Jardim*

No Brasil, o problema são sempre os outros.

A qualidade dos políticos é baixa, mas você nem se lembra mais em quem votou nas últimas eleições. A praia está imunda e você não fala nada quando aquele seu vizinho joga o palito de sorvete na areia. O salário da sua equipe está defasado e você nunca tem tempo de discutir a questão com o departamento de recursos humanos, porque afinal, o problema é deles.

E o que isso tem a ver nesse artigo sobre o dia internacional da Mulher?

Apesar de termos alcançado enorme progresso profissional, sempre que alguma coisa anda mal, nós também colocamos a culpa nos outros, ficando quase sempre numa inércia inexplicável.

Vamos lá.

Reclamamos que inúmeras vezes somos tratadas de forma inadequada, que nossa empresa tem o famoso "teto de vidro", que temos dupla jornada e que somos preteridas em promoções, mas nem por isso agimos de forma concreta para alterar essa realidade. Simplesmente esperamos que as coisas mudem por si mesmas sem que tenhamos que nos desgastar com o processo.

Não acho recomendável comprar todas as brigas, mas não me parece maduro ficar de cara feia quando alguém faz um comentário machista e ofensivo no ambiente de trabalho. Sua cara feia não vai, por si só, fazer cessar os comentários impróprios. Ou você se manifesta ou não liga a mínima e continua levando a vida.

Quando estou arrumando minhas coisas para mais um das inúmeras viagens profissionais que faço e me perguntam "como eu faço com os meus filhos?", eu simplesmente digo que eles vão ficar com o Chávez e o Chapolim, na esperança que meu interlocutor (ou interlocutora) entenda que a pergunta é ridícula e desnecessária. Vocês já ouviram alguém perguntar isso a um homem que sai para viajar a negócios?

Se a escola do seu filho marca reunião às 15h, reclame, bata o pé e explique que nesse horário as pessoas trabalham e que seria mais adequado realizar a reunião a noite, por exemplo. Se as pessoas não entendem as coisas por si mesmas, você vai ter de dar um pequeno empurrãozinho.

Nossas atitudes podem fazer diferença. Vejam dois exemplos abaixo.

No primeiro caso, um grupo de três advogados (uma mulher e dois homens) almoçava com um sócio sênior do escritório quando este começou perguntar aos associados homens sobre suas pretensões de tornarem-se sócios. Quando virou-se para a associada mulher, ao invés de fazer o mesmo tipo de pergunta, já que ela tem o nível equivalente de senioridade dos demais associados, ele lascou logo essa pérola; "E você, quando vai ter filho? Daqui há pouco fica muito tarde, hein!".

Perguntei imediatamente o que ela havia respondido, na certeza de que teria colocado o sujeito "no seu devido lugar". Qual não foi minha surpresa, entretanto, quando ela me disse que ficou tão pasma com a pergunta que acabou não dizendo nada, simplesmente mudou de assunto e ficou muda o resto do almoço.

Pois é! Não podia ter ficado calada. Deveria ter dito, educadamente e com aquele sorriso nos lábios, que agradecia a preocupação com o seu relógio biológico, mas que gostaria de discutir sobre sua ascensão profissional da mesma maneira que fizeram os colegas.

Na segunda situação, uma gerente, ao perceber que o cliente interno estava jogando charme para cima de uma advogada junior de sua equipe, deixando a moça totalmente sem graça, não pensou duas vezes: conversou com a moça e deu umas dicas sobre como se comportar em situações semelhantes, e também deu um telefonema para o cavalheiro, passando-lhe logo uma descompostura. Tudo com bom humor, mas sem deixar qualquer dúvida de que aquele comportamento não deveria continuar.

Eu acredito que a responsabilidade pelas mudanças é nossa. Temos de ajudar a estabelecer novos e adequados parâmetros de comportamento e podemos fazer isso de forma leve, educada, bem humorada e feminina. E se de vez em quando tivermos de falar um pouco mais alto para sermos ouvidas, que assim seja!

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Leia mais

5/3/10 - "A arte de definir as prioridades: nossa grande aliada!" - Camila Peixoto Olivetti Regina - clique aqui

4/3/10 - "Mulheres e mercado de trabalho. Uma visão diferente" - Daniela Pozzetti - clique aqui

3/3/10 - "A mulher e o mercado de trabalho" - Daniella Janoni - clique aqui

2/3/10 - "Mulheres no mercado de trabalho" - Ana Amélia Ramos de Abreu - clique aqui

1/3/10 - "Para filosofar" - Juliana Marques - clique aqui

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*Diretora Jurídica da GE para América Latina e integrante do grupo Jurídico de Saias







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