A ESTRATÉGIA DE AÉCIO
Aécio Neves aumenta o tom dos recados para os companheiros tucanos. Está determinado a fazer aliança com o PT, em Minas Gerais, pela qual ele e o prefeito Fernando Pimentel indicarão o candidato à prefeitura de Belo Horizonte. Em 2010, Pimentel seria o candidato de Aécio ao governo, recebendo dele o apoio para a candidatura à presidência da República. Aécio quer dizer que se o PSDB fechar o posto com antecedência para o governador José Serra, terá o caminho desobstruído para seguir noutra via partidária. A lógica na política tem parentesco com a imponderabilidade.
SERRA, O MAIS PREPARADO
Dentre os atuais perfis de pré-candidatos à presidência, José Serra é, seguramente, o mais preparado. Sabe comandar equipes e é um expert em matéria de enxugar despesas e aumentar o cofre. Serra, porém, entra na lista dos "chatos". Não gosta muito de ouvir, fala como professor em sala de aula e parece o paizão que reprime o filho com um puxão de orelhas. Acumula experiências, desde os tempos de secretário de Planejamento de Franco Montoro, e adora governar.
CIRO, O MAIS APIMENTADO
Ciro Gomes não tem a experiência de Serra, mas é também um perfil qualificado. Falamos do domínio temático em matéria econômica. Já em matéria política, é um desastre. Por onde anda, jorra azedume pelo ambiente. Uma conversa com Ciro é imprevisível : o interlocutor não sabe se receberá, ao final, um abraço ou um murro. Parece, até, que Ciro convive com uma pimenta esquentando o estômago. Trata-se de perfil com bom trânsito no Nordeste e porteiras quase fechadas nas regiões Sul e Sudeste.
AÉCIO, MINEIRO CORDIAL
Já Aécio Neves é capaz de dar murro em ponta de faca, graças à mineirice que herdou do avô. Carrega imagem de bom administrador. Tem fama de namorador e farrista e isso, mais adiante, poderá atrapalhar o ingresso em determinados setores. É jovem e pode esperar por boas oportunidades. Mais vantagem : Minas Gerais tem o segundo colégio eleitoral do país - mais de 13 milhões de eleitores - e integra tanto o Nordeste quanto o Sudeste. Comendo nas duas bandas, Neves exibe precioso cacife.
DILMA, GERENTONA
A candidata in pectore de Lula à presidência da República, Dilma Rousseff, é uma técnica, mandona, intransigente. Para chegar ao gosto das massas, tem de aprender a sambar no pé. Mas não é daqueles perfis que acolhem conselhos e sugestões. Será tarefa hercúlea jogá-la nos braços do povo.
MAIS PACOTE SOCIAL
O que não falta na República é pacote com o rótulo de social. Lula abre o ciclo eleitoral com mais um : Territórios da Cidadania vai beneficiar 958 municípios, com um investimento de R$ 11,3 bilhões. Foco : desenvolvimento do campo. Parcerias : governos estaduais e municípios. O pacotão do ano trará para a base governista uma baciada de prefeitos, entre os 5.560 a serem eleitos.
O CASO DO METRÔ
A propósito de nota publicada nesta Coluna - A Bomba de Serra - sobre licitação para substituição da sinalização do Metrô por sistema de controle de trens por telecomunicações (CBTC), o diretor de Assuntos Corporativos da Companhia, Sérgio Avelleda, é peremptório: "Os dois recursos impetrados contra os resultados da licitação estão sendo examinados por uma nova Comissão. Trata-se de uma equipe independente, sem ligação com a Comissão que julgou as propostas. Se os impetrantes tiverem razão, daremos provimentos aos recursos".
COMPROVAÇÃO
Diante de uma das questões expostas nos recursos - a vencedora, a Alstom, não teria implantado sistema de sinalização equivalente ao licitado - Avelleda arremata: "se for o caso, mandaremos uma equipe técnica à Singapura para verificar a procedência dos dados e informações apresentados pela empresa vencedora da licitação". A empresa francesa alega que implantou o sistema em Singapura, mas os impetrantes argumentam que ele é incompleto e diferente das características do modelo a ser implantado em São Paulo.
CBTC
O sistema estará entre os mais avançados do mundo. Permitirá expandir a capacidade de transporte. Sua lógica reside em diminuir o intervalo entre os trens, demandando aquisição de mais máquinas para atender a demanda. O atual circuito fixo está no limite. A opção pelo bloco móvel (CBTC) é a alternativa mais adequada, explica o engenheiro Conrado, diretor de operações do Metrô.
O FUTURO DE LUPI
Se o presidente do PDT pode fazer indicações para integrantes do partido integrarem a administração federal, por que o próprio comandante da sigla é proibido de fazer parte da equipe governamental ? É a hipocrisia do nosso sistema. Há muita coisa errada a se consertar. Mas essa não é uma delas. Hoje, o futuro do ministro Carlos Lupi a Sepúlveda pertence. Será que o novo presidente da Comissão de Ética Pública vai se enroscar nessa teia ? Lupi tem 10 dias para responder à Comissão.
REFORMA TRIBUTÁRIA, HEIN ?
Depois de ter anunciado o envio da reforma tributária, o governo já mostra sinais de retroceder. Vai rever a proposta de redução da contribuição previdenciária dos patrões, que recuaria de 20% sobre a folha de pagamento, diminuindo um ponto percentual ao ano, a partir de 2010, até chegar a 14%.
IMPASSE NA ALIANÇA
Gilberto Kassab não recuará. Será candidato nem que a vaca tussa. Espera crescer. Seus cabos eleitorais chegam a apostar um sanduíche de mortadela no mercado municipal de que ele levará a melhor nas eleições de outubro. Geraldo Alckmin também não recuará, até porque as pesquisas lhe dão a dianteira na corrida. Marta, que gostaria de se preservar para 2010, não terá alternativa : o PT a empurrará para a campanha. Pode ganhar ? É possível. Essa é a lógica. Mas os Democratas ameaçam romper a aliança - com vistas a 2010 - caso Geraldo desista dos seus atuais 29% de intenção de voto para os 12% de Kassab.
KASSAB NA DIANTEIRA ?
É possível Gilberto Kassab deixar Alckmin para trás e vir a disputar com Marta o segundo turno ? Em política, tudo é possível. Mas é improvável. Vejamos o pano de fundo histórico. Nas duas últimas campanhas de 2004 e 2006 (prefeitura e governo), os tucanos derrotaram o PT na capital por nove pontos percentuais. O que demonstra a polarização entre as duas bandas. É muito difícil (mas não impossível, repito) um terceiro ator substituir um desses dois parceiros. A conferir.
CUBA, REFORMA LENTA E GRADUAL
A Cuba do agora Comandante-em-Chefe Raúl Castro, ao que se deduz, não abrirá os horizontes para as mudanças tão ansiadas pelo povo. A coisa lá será bem devagar, lembrando os tempos de Geisel que, no final dos anos de 1970, prometia uma abertura lenta, gradual e segura. Fidel, mesmo afastado, terá voz forte para dizer o que é certo e errado.
O MUÇULMANO OBAMA
A campanha de Hillary Clinton jogou pesado : divulgou a foto de Barack Obama vestido com trajes típicos do Quênia. A idéia é fazer a associação entre o traje muçulmano de Obama e a figura inimiga mais procurada pelos Estados Unidos, o muçulmano Osama Bin Laden. O tiro pode sair pela culatra.
PALOCCI VOLTA À CENA
O deputado Antônio Palocci começava a exibir musculatura política, participando em debates e comissões na Câmara. Já aparecia, inclusive, como forte articulador, sendo apontado para ser o relator do novo projeto de reforma tributária. E aí desaba novamente sobre ele a história do caseiro Francenildo. O procurador-geral da República, ao denunciá-lo, resgata o cenário de devastação. O ex-ministro volta à fogueira.
DEUS ENTRE O CRÉDITO E O DÉBITO
O Brasil virou credor. Garante Lula que o conseguiu "com a ajuda de Deus". E se Deus apoiar a compra da mineradora suíça Xstrata pela Vale do Rio Doce, sabem o que vai acontecer ? O Brasil poderá perder a condição de credor e voltar a ser devedor. A Vale poderá financiar a aquisição com empréstimos de até US$ 40 bilhões. Se o Brasil retornar ao débito, poderá ser bom para a Vale, mas ruim para o país ? Ora, essa lógica besta só serve para demonstrar que nenhum presidente pode usar o nome de Deus em vão.
PICANHA PARA OS RUSSOS
A nossa diplomacia agrícola precisa aguçar o paladar. Afinal, a picanha que o ministro da Agricultura, Reinhold Sthephanes, fatiou para Sergey Dankvert, o russo que veio comprar nossa carne, também deveria ter sido oferecida aos técnicos da União Européia, que vieram examinar as condições sanitárias de nossas fazendas. Os europeus enfrentaram fila em um bandejão de Brasília. O russo foi servido pelo próprio ministro. Se os europeus fazem restrição à carne brasileira e querem ver in loco as fazendas, poderíamos começar a degustação com uma bela picanha servida com todas as honras. Falta tempero na diplomacia rural.
CPI EXCLUSIVA
Se até às 14h de hoje, quarta, governistas e oposicionistas não chegarem a um acordo sobre os postos de comando na CPI mista criada para investigar os Cartões Corporativos, o presidente do Senado, Garibaldi Alves, lerá o pedido para instalação da CPI exclusiva dos Cartões. A conferir.
CONSELHO ÀS LIDERANÇAS EMPRESARIAIS
Esta Coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos aos políticos e governantes. Na edição anterior, o espaço foi destinado ao governador de São Paulo, José Serra. Hoje, volta sua atenção às lideranças empresariais:
1. Os senhores foram convidados pelo presidente Lula a apoiar a nova reforma tributária. Prometeram apoio. Precisam, agora, colocar as teses dos setores produtivos com determinação e transparência.
2. Desonerar a folha é meta histórica. O ministro Guido Mantega, cedendo à pressão sindical, parece inclinado a retirar essa meta. Apresentem alternativas ao governo. Em vez de "chorar sobre o leite derramado", encaminhem soluções viáveis.
3. De Paulo Skaf, presidente da FIESP, que gostava de apelar para o ditado, espera-se que seja mais substantivo e menos adjetivo.
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