Porandubas Políticas

Porandubas nº 103

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4/7/2007

 

RORIZ SEM PERDÃO

O senador Joaquim Roriz vê, a cada dia, diminuírem suas chances de passar pelo corredor polonês que se forma no Senado. Não tem a força de Renan. O discurso em que justificou o recebimento do cheque de R$ 2,2 milhões para comprar uma bezerra de R$ 300 mil foi pífio. E agora, com a denúncia de que teria interesse em "comprar" juízes do TRE, Roriz fica mais próximo da crucificação.

PIOR A EMENDA QUE O SONETO

O senador pelo DF não cometerá o suicídio de renunciar e levar junto os dois suplentes que, solidários a ele, também renunciariam. A jogada leva em conta uma renúncia coletiva para abrir a possibilidade de nova eleição para a qual Roriz concorreria novamente. Ou seja, a renúncia sepultaria o "caso da bezerra" e daria condições de elegibilidade ao senador. A emenda ficaria pior que o soneto. A execração pública chegaria a um grau insuportável.

RENAN, TUDO OU NADA

A tropa de choque de Renan procura novos caminhos para salvá-lo. Entre as saídas, está o arquivamento do processo sob alegação de que o encaminhamento inicial à Comissão de Ética - feita isoladamente pelo próprio Calheiros - não obedeceu às normas regimentais. O senador Leomar Quintanilha, novo presidente da Comissão, está entre a cruz e a caldeirinha. Seu nome também é objeto de denúncias. Se arquivar o processo, ficará patente a ação entre amigos. O escândalo poderá se voltar para o senador de Tocantins, que já cometeu o erro de desconvidar o senador capixaba Renato Casagrande para relatar o processo contra o presidente do Senado.

JUCÁ, O PRÓXIMO

O comandante da Tropa de Choque de Renan Calheiros é - surpreendentemente - o líder do governo no Senado, senador Romero Jucá. Nesse caso, o que se constata é uma invasão de competências. Jucá é o representante do governo na Câmara Alta. Como tal, tem funções específicas. Se desce o patamar do cargo que detém para amparar o amigo, deixa o governo em maus lençóis. Porque a questão é pessoal, ou seja, restringe-se à esfera do senador Renan Calheiros. Não se trata de defender o governo. Jucá, ao confundir as bolas, demonstra falta de respeito ao cargo que lhe foi confiado e, além disso, compromete o governo. Se houver condenação - como se espera - o governo também estará sendo condenado.

SUPLICY E O MINISTÉRIO PÚBLICO

O senador Eduardo Suplicy ficou enervado com observações que teriam sido feitas pelo presidente Lula a respeito de sua conduta no Conselho de Ética. O desmentido feito pela líder do PT no Senado, Ideli Salvatti, de que Lula não teria feito críticas, não satisfez Suplicy. Que agora pede a transferência do caso Renan para a esfera do Ministério Público. Ou seja, Suplicy está bravo. Uma braveza que conta com a simpatia da opinião pública e contrariedade dos quadros petistas.

ARRANJEM UM NOME

Quem poderá substituir o senador Calheiros na presidência do Senado ? Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, Gerson Camata, Roseana Sarney, Garibaldi Alves, Valdir Raupp, José Sarney ? O nome deste último é o mais palatável para o Palácio do Planalto. Mas o velho senador teme um ataque massivo, eis que seu nome poderá ser relacionado a um destes novos casos que estão sendo investigados. Jarbas e Simon estão descartados. Camata e Alves podem ser considerados muito dóceis. À Raupp faltaria densidade. E Roseana é considera uma cristã-nova no PMDB.

LULA FESTEJA O ATRASO

Enquanto a crise se desenrola, para angústia de Calheiros e Roriz, Lula se esbalda de satisfação. Não se sente mais tão pressionado pela bancada do Senado para nomear os quadros exigidos pelo PMDB. Mas a nomeação de Márcio Zimmermann para o Ministério das Minas e Energia está saindo por conta do perfil técnico. Trata-se de pessoa de confiança de Dilma Rousseff. E entrará no governo com a mão fechada para o PMDB.

BANG-BANG NA CÂMARA

Na Câmara Federal, abre-se o cenário para a investigação sobre a denúncia de que um deputado - Mário de Oliveira (PSC-MG) - teria mandado assassinar um colega, o deputado Carlos Willian (PTC-MG). A se confirmar a denúncia, vai sobrar para a imagem dos pastores evangélicos, eis que o "mandante" é pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular.

E O APAGÃO, HEIN ?

Sábado passado, às 6h da manhã, o aeroporto de Congonhas em São Paulo era o retrato do caos. Como passageiro, vivi o drama dos viajantes aflitos. No meio da multidão, ouviu-se o grito: "Viva Lula". Palavrões recheados de indignação por toda a parte denotavam que, pelo menos ali, os 64% de simpatia por Lula viravam pó.

E DEPOIS DO RECESSO ?

A crise não será abafada pelo recesso. De volta das bases, suas Excelências deverão canalizar para os Conselhos de Ética e os Plenários das duas Casas parlamentares a voz rouca das ruas.

UM ESTADO CHEIO DE ONGs

Há uma unidade da Federação que se mantém firme no propósito de lutar contra a estratégia da administração federal em atender a todas as reivindicações de ONGs estrangeiras e movimentos missionários que dizem lutar pela causa dos índios. Trata-se de Roraima. O Estado está tomado de organizações não-governamentais, lideradas por estrangeiros, que recebem polpudas verbas do exterior. Por todos os lados, a conversa naquela unidade federativa é recorrente: sob o discurso de defesa indígena, embute-se o interesse de grandes grupos internacionais pelas riquezas minerais da região.

PARECERES SUSPEITOS

Pois é, o homem manda mesmo. Dois pareceres dão conta de que não teria havido quebra de decoro parlamentar. Se houve algum ilícito, este seria na área fiscal-tributária. Sob esse patrocínio, o Renangate sairia da Câmara Alta para o Supremo Tribunal Federal. E como no STF as coisas andam no ritmo de tartaruga, o presidente do Senado conduziria a gestão até o final, sem grandes tumultos. Esse é o desenho traçado por Renan e a Tropa de Choque. A qualquer momento, o senador Leomar Quintanilha poderá anunciar "a boa nova". O senador alagoano, porém, não escapará do rótulo lame duck, pato manco. E pato manco não voa alto.

NO ESPAÇO

O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos, produziu a frase-terminal da crise da aviação: "A malha aérea foi pro espaço". E foi mesmo.

CADÊ ZULEIDO ?

E onde está Zuleido ? Quase ninguém mais dele fala. O Renangate fez Zuleido desaparecer.

AÉCIO NEVES MAIS AGRESSIVO

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, começa a se preparar para enfrentar tempos mais bicudos. Vai ver até onde poderá agüentar as bicadas tucanas, pois está disposto a pleitear a vaga em 2010. Um novo estilo se instala. Maior agressividade. Maior presença nas Unidades federativas. Maior visibilidade nacional. E as primeiras sondagens na área do marketing.

CAMPANHA CONTRA OS SUPLENTES

Já se começa a perceber uma campanha contra os suplentes de senador. Os atuais suplentes, que integram a Tropa de Choque de Renan Calheiros, chamaram a atenção para o despreparo e inexperiência. Senador cassado ou que deixa a Casa - para ser ministro - poderia ser substituído pelo segundo mais votado no Estado.

E A REFORMA POLÍTICA, HEIN ?

Os deputados mais votados no Estado deveriam ser os eleitos, extinguindo-se a figura do deputado eleito com as sobras e quocientes partidários. Teríamos, assim, um voto majoritário para a Câmara. Eis aí uma proposta que merece ser bem debatida. A conferir.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.