Porandubas Políticas

Porandubas nº 838

A coluna analisa o contexto político mais amplo, incluindo a polarização entre as alas de direita e esquerda, a influência do PT e de Lula, as perspectivas para as eleições futuras e a dinâmica entre os diferentes atores políticos.

28/2/2024

Historinhas conhecidas que merecem repeteco.

Por que não?

Quando Winston Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse:

– Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.

Resposta de Churchill:

– Por que não? Você me parece bastante saudável.

Veneno no seu chá

Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu em um dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice. Ela pediu um aparte (Sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada). E ela disse em alto e bom tom:

– Sr. ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá!

Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou:

– Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer!

O tamanho do comício

185 mil ou 750 mil participantes? Afinal, qual foi o montante aproximado da massa na avenida Paulista, domingo, 25 de fevereiro, por ocasião do evento convocado por Bolsonaro? A USP, usando critérios técnicos e medições que primam pelo cuidado, calcula em 185 mil, o maior número já registrado por seus cálculos. A PM fala em 750 mil. A PM, do governo Tarcísio de Freitas, correligionário de Bolsonaro. A PM, que tem dito não mais fazer cálculos, decidiu abolir suas medições. E que, agora, volta a insistir com seus registros. Em quem acreditar?

O que importa

Seja qual for o número, importa reconhecer que o evento foi um empreendimento vitorioso. Recebeu muita gente. Bolsonaro demonstrou ser capaz de promover grandes manifestações. E mostra, mais uma vez, que o partido está dividido. As duas alas polarizam o debate. Jair canaliza todas as energias que não se postam ao lado do lulopetismo, que continua a receber a contrariedade de quase metade dos eleitores. O fato é que a rejeição ao petismo é forte. O PT, ao longo de sua existência, fixou uma barreira entre ele, território muito fechado, e parcela da comunidade política.

Água e óleo

Para milhares de brasileiros, o PT não consegue diluir o óleo que se mistura à água. Padece de uma doença que tem se alastrado desde sua fundação, no final dos anos 80. Pregou por décadas o receituário de que o partido é puro, é ético, é banhado nas águas límpidas da dignidade. Foi pego com a mão na massa. O escândalo do mensalão, o escândalo do petrolão. Caiu na vala comum dos manchados entes partidários. Governou o Brasil por anos a fio. Lula chegou ao seu terceiro governo sob a crença de que foi o maior presidente do país, chegando a ultrapassar Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

O impacto

Voltando ao evento da Paulista. É claro que o acontecimento marca um gol no campeonato de disputas pelo poder. Bolsonaro deixa claro que é candidato em 2026, esperando uma nova decisão da Justiça para voltar a ganhar elegibilidade. Espera, igualmente, fazer uma grande bancada de prefeitos e vereadores na eleição de outubro próximo. Lula vai correr o país, tentando nadar nas águas da estabilidade da economia. Se o ambiente lhe for favorável, com os brasileiros agradecidos por terem um bom dinheiro no bolso, Luiz Inácio será o maior eleitor em outubro. A recíproca é verdadeira.

A pororoca

É possível haver uma pororoca, com ondas balançando a canoa eleitoral? Sim. Tudo vai depender dos ventos, ou mais brandos e acolhedores ou mais devastadores. As siglas estão com um olho voltado para os fundos partidários e o outro tentando descobrir o espírito das ruas. E tome liberação de emendas. Lula escancara a porta do Tesouro. Nunca se viu tanta grana em ano eleitoral. Ou tudo ou nada. Uma derrota do petismo seria uma catástrofe. O pleito fechará ou ampliará os horizontes do amanhã.

A direita em pé

A direita já não tem vergonha de se posicionar como tal no arco ideológico. Maior possibilidade de ganhar estofo na contemporaneidade. E seu quadro mais significativo será Ronaldo Caiado. Mais que Tarcísio de Freitas. O governador de Goiás leva vantagem de ter melhor avaliação. Transmite a receita da experiência política, seja na esfera parlamentar, seja no espaço do Executivo. Precisa começar a se mostrar por inteiro ao país. Ganhar adeptos. Formar vínculos.

A esquerda deitada

A esquerda ainda se encontra deitada. Parece acomodada. O PT e Lula tomam conta dos cantos e recantos da esquerda. Os mais radicais do PSOL ou PSTU se encontram distantes dos grandes conglomerados. A exceção é Guilherme Boulos, o mais forte pré-candidato à prefeitura de São Paulo. Se Boulos se firmar, a esquerda teria a chance de vir a governar a maior metrópole do país, e, sob essa moldura, adubar as sementes da floresta de 2026.

Kassab escondido

Gilberto Kassab já foi melhor no campo da articulação e visibilidade. Parece escondido. O comandante do PSD estaria sob a sombra do lema "passarinho na muda não pia". É estranho seu desaparecimento. O que seu amigo Guilherme Afif Domingos, também secretário da gestão Tarcísio, em São Paulo, acha?

Aloysio Nunes em zigue-zague

Aloysio Nunes Ferreira, uma das melhores cabeças pensantes destas terras, caminha em zigue-zague, dois pra lá, dois pra cá. Continua no PSDB e vai dirigir a APEX, a partir da Bélgica. O ex-governador e ex-senador estava à frente da SP Negócios, ligada à prefeitura de SP, chefiada por Ricardo Nunes, do MDB. Nomeado por Lula, que demonstra ser um bom pescador.

Curto ensaio ético I

A entrada na terceira década do século XXI pode significar a abertura de um ciclo ético na política? A pertinência da questão se relaciona aos movimentos pela depuração ética, que brotam no seio da sociedade e o motor principal são as denúncias de velhas práticas e obsoletos padrões no modus operandi da política. O fato é que uma fogueira ética começa a esquentar a paisagem política não apenas brasileira, mas internacional, deslocando eixos tradicionais de poder para a sociedade, que passa a ser mais autogestionária e determinada a cumprir as suas metas de bem-estar.

Curto ensaio ético II

A ética na política e na administração pública é um dos instrumentos que a sociedade coloca no plano estratégico de suas lutas. E a consequência imediata dessa vontade ocorre no palco político. A relação entre ética e política é bastante estreita, tratando a primeira, pela visão aristotélica, da análise das virtudes, a busca da felicidade, a consideração sobre o conceito de justiça e a segunda tratando da análise das normas constitucionais e dos regimes mais adequados para bem servir a comunidade. Portanto, não há justiça, virtude ou felicidade à margem da sociedade política. O plano político afeta o plano ético e vice-versa. Donde se pode concluir que qualquer aperfeiçoamento ético no país terá fortes repercussões sobre a arena política, o terreno da administração pública, a relação entre o poder público e os grupos privados e o perfil da autoridade.

Raspando o tacho

- O programa de recapeamento do prefeito Ricardo Nunes começa a exasperar os motoristas na capital paulista. Muita interrupção do fluxo de trânsito. Congestionamentos promovem indignação.

- A Covid voltar a atacar forte. Os registros de casos e mortes aparecem com intensidade.

- A dengue também exibe dados preocupantes. Nas gavetas, faltam vacinas.

- Cheias ao norte, chuvas no Nordeste, seca em algumas regiões. O retrato de um país continental.

- O PSDB quer evitar revoada de tucanos. Está difícil.

- A janela partidária será aberta em 7 de março, fechando-se em 5 de abril. Permite que candidatos que detenham mandato possam trocar de partido sem que sejam punidos por infidelidade partidária. Isso pelo motivo de a legislação proibir a troca partidária ao longo do mandato.

- Lula deixa de responder perguntas inconvenientes. Uma, de uma repórter de Valor Econômico, Lu Aiko Otta, sobre o evento de Bolsonaro na avenida Paulista.

Fecho a coluna com uma historinha sobre o bem e o mal.

Jung e o rei africano

Jung perguntou, uma vez, a um rei africano:

– Qual é a diferença entre o bem e o mal?

O rei meditou, meditou e respondeu às gargalhadas:

– Quando roubo as mulheres do meu inimigo, isso é bom. E quando ele rouba as minhas, isso é muito ruim.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.