Porandubas Políticas

Porandubas nº 97

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23/5/2007

 

TESTE DE FOGO

José Serra, ex-presidente da UNE, passa pelo primeiro teste de fogo do seu governo: a ocupação do prédio da Reitoria da USP pelos estudantes. Até o momento, tem atuado na retranca, ou seja, não usou a força policial para desocupar a Reitoria. Os estudantes gostariam de participar de um ato de força. Faz parte da simbologia da greve. A Reitora Suely Vilela, com muito bom senso, aceitou discutir parte das reivindicações. Esticou o prazo para a negociação. Caso Serra ultrapasse esse "pequeno" obstáculo, sem seqüelas, poderá dizer que venceu a primeira luta, mas não a guerra. Que vai haver muita confusão no governo tucano de São Paulo, ah, isso vai...

GERALDO VEM AÍ

Geraldo Alckmin começa a preparar as malas para voltar ao Brasil após o "ciclo sabático" nos Estados Unidos, onde aprendeu inglês e freqüentou um curso de política internacional. O próximo tour de Geraldo será pelo Brasil. Vai agradecer os votos que teve na última campanha e abrir os primeiros caminhos com vistas a uma presença maior no comando tucano do país. Lutará para ser o candidato a prefeito de São Paulo. O termômetro que aferirá a tensão pré-eleitoral será a bateria de pesquisas sobre os perfis de maior viabilidade. Serra se esforçará para emplacar Gilberto Kassab como candidato. Será uma luta esganiçada.

KASSAB E SEUS TRUNFOS

Diz-se que o prefeito Kassab tirará da cartola a simbologia da Cidade Limpa. Com ela, ganharia o passaporte da candidatura. Necas. A limpeza da cidade gera impacto nos segmentos médios. O povão quer mais, muito mais. E Kassab deverá embarcar em outra canoa ecológica: a despoluição do ar. Mandaria para a Câmara projeto voltado para o controle da poluição atmosférica, na esteira da reunião dos prefeitos de grandes cidades, realizada recentemente em Nova Iorque. Será mais um trunfo ? Necas. O povão quer mais, muito mais. Gilberto continuará a "kassab" de uma identidade até as proximidades das eleições. Quando, e se conseguir, será tarde.

MARTA OLHANDO A CENA

Marta Suplicy não consegue tirar o olho da periferia paulistana. Espera dela a massa de votos para voltar à Prefeitura. Hoje, o quadro assim se apresentaria: contra Kassab, daria um banho. Contra Geraldo, ficaria um pouco atrás. Mas poderá recuperar terreno. A conferir. Também poderá desistir se perceber que não terá chances.

GAUTAMA I

Pois é, esse tal de Zuleido Veras tirou de Buda o nome Gautama para batizar a sua empresa. Só que inverteu as lições deixadas pelo "sábio dos shakyas". As últimas palavras de Sidarta Gautama foram: "A decadência é inerente a todas as coisas compostas. Vivei fazendo de vós mesmos a vossa ilha, convertendo-vos no vosso refúgio. Trabalhai com diligência para alcançar a vossa Iluminação". Zuleido (que nome, hein ?) entrou em processo de decadência. Fez da res publica seu refúgio. E uma imensa casa, na Bahia, que é uma verdadeira ilha. Converteu uma porção de políticos para sua doutrina. Mas cometeu o erro de errar no capitulo da diligência. Antes de alcançar a iluminação, foi ofuscado pelas luzes da Polícia Federal.

GAUTAMA II

O príncipe Gautama viu três coisas que mudariam sua vida: um velho encurvado que não conseguia andar; um homem agonizante que se afligia com dores terríveis devido à grave doença; e um cadáver envolvido num sudário de linho branco. Foi, então, que Sidarta Gautama, o Buda, teve contato com a velhice, a doença e a morte, as três marcas das curvas da vida. Voltou ao Palácio e teve a quarta visão: um eremita que irradiava paz e profunda dignidade. Gautama impressionou-se tanto que decidiu renunciar à vida fútil e dedicar-se à busca da Verdade.

ZULEIDO I

Comecemos pelo fim. Da Verdade, Zuleido tem apenas o sobrenome: Vera, Verdade. Veras (no plural) é sinônimo de coisas de verdade, coisas reais. Zuleido preferiu um significado mais sonante para "reais". Grana mesmo. Ele viu três coisas: governantes que viviam à sombra de propinas; o corpo agonizante da administração pública do país, que vegeta na cama da incúria; e cadáveres espalhados no meio do mato, como pontes inacabadas e estradas e obras superfaturadas. Foi, então, que Veras se deparou com a ganância dos governantes, a corrupção dos políticos e o desprezo pela coisa pública. De volta ao refúgio, na Bahia, teve a quarta visão: uma porta semi-aberta na Comissão de Orçamento e planilhas com números sobre as mesas. Zuleido impressionou-se tanto com a imagem que decidiu renunciar à vida digna e dedicar-se à busca de coisas Reais com $.

ZULEIDO II

E, por falta de maior diligência, Zuleido Veras caiu no alçapão.

VEM MAIS POR AÍ

Se a PF puxar o fio do rolo orçamentário, mais uma leva de pessoas será "levada" sob algemas para prestar depoimentos. Dizem que a tarja preta cobrindo nomes de implicados acoberta uma figura exponencial do Governo. A conferir.

O PMDB DE SARNEY / RENAN

Desce o PMDB de José Sarney e sobe o PMDB de Michel Temer. Silas Rondeau era da cota dos senadores. A questão é: se o ministro cair, o partido emplacará novo nome ? O PT já tem quatro nomes na mira. A Câmara defenderá a vaga na cota do Senado.

NAVALHA NO CONGRESSO

O Congresso está na defensiva. CPI da Navalha na Carne, agora não. Será difícil que PPS e PSOL consigam levar aprovar esta Comissão Parlamentar de Inquérito.

FHC E ITAMAR

Depois de separados por longo tempo, FHC e Itamar Franco voltam a se ver, sob as bênçãos apaziguadoras do governador Aécio Neves. Durante um evento em Belo Horizonte, um ao lado do outro, se estranharam no início, mas festejaram o reencontro no final do jantar no Palácio das Mangabeiras. Ainda bem que o topete de Itamar não caiu sobre as olheiras do ex-parceiro.

LULA RI DE ORELHA A ORELHA

Luiz Inácio Lula da Silva estampa um largo sorriso. Começa a desapertar os nós dados pelo senador José Sarney. Falta energia a Rondeau, o homem do Ministério das Minas, para se segurar nos desvãos do Ministério de Lula.

A GREVE NA PF

A Polícia Federal tem dado demonstrações de eficiência. Mas não seria mais conveniente fazer a greve um pouco mais adiante ? A boa imagem da instituição não pode e não deve ser colocada no saco das oportunidades. Mas urge lembrar: os policiais federais apenas pedem que se cumpra o compromisso patrocinado pelo ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, de reposição salarial que chega aos 27%. Portanto, uma reivindicação justa. O governo é que não cumpriu a palavra.

CONGRESSO PARALISADO ?

A Operação Navalha ameaça paralisar o Congresso. A sombra de Zuleido passará um bom tempo acinzentando o Plenário congressual.

OUTRO SILAS EMPACADO

Tem mais um Silas na espera. Silas Brasileiro, ex-deputado do PMDB mineiro, foi indicado para a Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura. Seu nome não foi ainda digerido pelo corte política que cerca o presidente Lula. A bancada faz pressão. A nomeação pode sair esta semana. Esse nome Silas parece azarado.

MAIS UM GOVERNADOR NA BERLINDA ?

Comentários de bastidores: o governador do Piauí, Wellington Dias, seria a bola da vez em matéria de navalhada na carne.

JAQUES WAGNER EM SÃO PAULO

Na próxima segunda-feira, o governador da Bahia, Jaques Wagner, será homenageado no almoço da ADVB. Os empresários farão perguntas sobre o momento político. O que seria um momento bastante descontraído poderá ter minutos de tensão. Não se acredite, porém, que empresário fará perguntas sobre o passeio que ele e a ministra Dilma Roussef fizeram na lancha de Zuleido Veras, o homem que não encontrou a verdade.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.