- Parte I
A avaliação dos governantes
A primeira parte da coluna desta quarta será dedicada à análise das razões que contribuem para colocar os governantes no fundo do poço ou no pico da glória, sejam eles prefeitos e governadores, seja ele presidente da República. Não adianta querer olhar apenas para as pesquisas de avaliação de imagem. Olhem, senhoras e senhores governantes, para o seu dia a dia. O roteiro abaixo tem a intenção de colocá-los na sala de aula da credibilidade.
Promessas - Não se deve prometer o que não se poderá cumprir. O país exige verdade, sinceridade. Alegorias, promessas mirabolantes, planos fantásticos acabam sendo cobrados pelo cidadão.
Identidade - Um político deve ter identidade, personalidade, eixo. Coluna vertebral torta gera desconfiança. A imagem que um político quer projetar deverá corresponder ao seu conceito. Não convém uma comunicação exuberante para enaltecer feitos inexistentes. Quando isso ocorre, o eleitor fará sua avaliação nas urnas. Coluna reta abriga as vértebras da lealdade, coerência, honestidade e senso do dever.
Representação social - Representar o povo significa escolher as melhores alternativas para propiciar bem-estar. Discurso demagógico para amenizar as dores das periferias angustiadas não vai resistir ao tempo. O apoio que o povo dá ao político, hoje, poderá, amanhã, ser retirado. O governante sério se preocupa com rumos permanentes e medidas condizentes com as demandas das populações.
Sabedoria - Sapiência não significa vivacidade. Sabedoria é mistura de aprendizagem, compromisso, equilíbrio, paciência, busca de melhores alternativas, capacidade de convivência e decisões racionais. Já a vivacidade reflete a cara de fisiológicos, aproveitadores e demagogos.
Cheiro do povo - O cheiro do povo está nas ruas, nos ônibus, no metrô, nos escritórios, nas fábricas e nos espaços rurais. Há governantes que se isolam em seus gabinetes e, até nas catástrofes, não dão as caras. A população, principalmente a vitimada por desastres naturais, sabe quem está a seu lado. O trabalho (estafante...?) de Brasília e dos rincões mais distantes do território não impede que um político saia de suas tocas.
Esconderijos - Não dá mais para alguém se esconder. A corrupção, é claro, não acabará. Mas é preciso atentar para o fato de que as denúncias sobre negociatas e trocas de favores ilícitos constituem o prato predileto das redes sociais e das mídias. Alguém pode estar ingerindo um alimento indigesto e amanhã todo mundo ficará sabendo. A hora requer transparência.
Discurso - O discurso que vinga deve ser composto por propostas concretas, viáveis, simples e de metas temporais. Sua adaptação ao momento é fundamental. A população dispõe de entidades que a representam em diversos foros, algumas delas com atuação política tão importante quanto a das casas representativas.
Simplicidade e modéstia – O homem público não precisa se vestir com a roupa de Deus. A honraria que os cargos conferem é passageira. Mandatos pertencem aos eleitores. Ser simples não é deixar se fotografar com crianças no colo, ou comer cachorro quente na esquina e gesticular para os transeuntes. Simplicidade é pensar bem, dizer bem e agir com naturalidade. Sem artimanhas e maquiagens. O marketing da atualidade se inspira em verdade.
Estado e Nação - A Nação é a pátria, que acolhe a população. É o território onde os cidadãos se sentem bem, gostam de viver e constituir um lar. O Estado é a entidade técnico-jurídico-institucional, composta por interesses e conflitos, recebendo as críticas de pessoas e grupos de diversas classes. Aproximar o Estado da Nação constitui a missão basilar da política, compromisso cívico inegociável. O Brasil de hoje e do amanhã vislumbra essa meta.
- Parte II
Raspando o tacho
- A afirmação de Lula de que, na próxima cúpula do G-20, Putin poderia vir ao Brasil, sem medo, pois não seria preso, é a quinta-essência do lema L’État c’est moi, de Louis XIV, da França. O Estado sou seu, tentou garantir dom Luiz, do Brasil.
- Ainda bem que, alertado e surpreso com a repercussão negativa da afirmação, corrigiu a "loucura" dizendo que seria a Justiça a tomar qualquer decisão sobre a prisão de Vladimir Putin, caso venha a entrar em território brasileiro em 2024.
- Eis o que disse Lula: Eu não sei se o tribunal, não sei se a Justiça brasileira vai prender. Isso quem decide é a Justiça, não é o governo [brasileiro], nem o Parlamento. É importante. Eu, inclusive, quero muito estudar essa questão desse Tribunal Penal [Internacional], porque os Estados Unidos não são signatários dele, a Rússia não é signatária dele também. Então, eu quero saber por que o Brasil é signatário de um tribunal que os EUA não aceitam. Por que somos inferiores e temos que aceitar uma coisa?
- Só para lembrar. Lula nomeou, em 2003, a juíza Sylvia Steiner, para compor os quadros do TPI. Mais recentemente, petistas até tentaram pedir a condenação do ex-presidente Bolsonaro por aquele Tribunal. Dizer que não conhecia essa Corte até o momento, como frisou na cúpula do G20, é driblar a verdade.
- Há um conjunto de 123 países que firmaram compromisso com o Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia. Os signatários do Estatuto de Roma se comprometem a cumprir as disposições do Órgão. O Brasil, em 2002, ainda sob FHC, aprovou o TPI. Leiam:
Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002.
Promulga o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição,
Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, por meio do decreto legislativo no 112, de 6 de junho de 2002;
Considerando que o mencionado Ato Internacional entrou em vigor internacional em 1o de julho de 2002, e passou a vigorar, para o Brasil, em 1º de setembro de 2002, nos termos de seu art. 126;
Decreta:
Art. 1º O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, apenso por cópia ao presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.
- O planeta está dando sinais de saturação. E responde às ações de degradação feitas pelos dominadores do poder com catástrofes e terríveis eventos. Inundações, ciclones, tempestades, terremotos ocorrem em diversos recantos. Como em Marrakech, no Marrocos, na Líbia, nos EUA, e em cidades do Rio Grande do Sul, Brasil.
- O fenômeno El Nino, com o esquentamento das águas dos oceanos, ainda poderá provocar este ano muita devastação. Como o planeta aguentará o aumento de sua temperatura em 2,5% nas próximas décadas, já dando sinais de que as águas estão mais quentes?
- Alckmin (com n) levou oito ministros em sua viagem, domingo último, ao Rio Grande do Sul. E arrumou R$ 741 milhões para ajudar cidades e populações. Pelo tamanho da tragédia parece pouco. Geraldo cumpre bem o seu dever. Pessoa que cultiva a simplicidade.
- O G20 passou para a coordenação do Brasil. Por enquanto, simbolicamente. A presidência efetiva terá início em em 1º de dezembro de 2023 e se encerra em 30 de novembro de 2024. A agenda do G20 será decidida pelo governo do Brasil, com apoio direto da Índia, última ocupante da presidência, e da África do Sul, país que exercerá o mandato em 2025.
- Lula faz bem em acentuar que o Mercosul, hoje sob a presidência do Brasil, não aceitará as restrições feitas pela União Europeia. Restrições que golpeariam os programas dos países que integram o bloco.
- Alexandre de Moraes, o ministro mais midiático do STF, acalenta ódios e anima platéias, que acompanham as ocorrências junto ao Judiciário, que carece esforço para resgatar a boa imagem. Viu, ministro Barroso, nosso próximo presidente da Alta Corte!
- Ex-deputado estadual e ex-prefeito do município, Carlos Grana lidera, hoje, a disputa para prefeito de Santo André, com 19,5% das intenções de voto. O 2º lugar é de Luiz Zacarias, vice do prefeito Paulo Serra, com 15,2%. Pesquisa do Paraná Pesquisas que a coluna acaba de receber.
- O transplante cardíaco de Faustão despertou a sociedade. As doações de órgãos têm aumentado.
- O super festival The Town, que levou uma multidão a Interlagos, em SP, teve muitos problemas de logística e apoio, escondidos da mídia. A partir das imensas filas para comprar alimentos. Haverá outro em 2025. Plano de Medina. Claro, se o imprevisível não der as caras. Batam na madeira três vezes...
- Esperemos o discurso de Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU nos próximos dias. Será ouvido com muita atenção. Luis Inácio tenta repor o Brasil na moldura das Nações a serem ouvidas. Mas comete frequentemente "luladas".
Fecho a coluna com a era JK.
O ciclo Kubitschek
Figura carismática, Juscelino Kubitschek era jovial, alegre. Encarnava o Brasil moderno. Em 1959, o palhaço Carequinha popularizou uma batucada de Miguel Gustavo – Dá um jeito nele, Nonô ("Meu dinheiro não tem mais valor./Meu cruzeiro não vale nada./Já não dá nem pra cocada./Já não compra mais banana./Já não bebe mais café./Já não pode andar de bonde./Nem chupar picolé./Afinal, esse cruzeiro é dinheiro ou não é?"). O ministro da Fazenda era o mineiro José Maria Alkmim (com m). O clima ambiental era de descontração, como demonstra a historieta gráfica da revista Careta:
"Juscelino: – Preciso de divisas, ouro, seu Alkmim, para as realizações do meu governo.
O ministro: – Ouro, seu Juscelino?! Eu sou Alkmim, não sou alquimista".
JK vestiu a camisa do desenvolvimento e seu slogan "50 anos em 5" foi um sucesso. Colou. Seu sorriso era a estampa de um país feliz.
(História narrada pela historiadora Isabel Lustosa)