Porandubas Políticas

Porandubas nº 812

Os institutos de pesquisa começam a nos mandar pesquisas de intenção de voto para as Prefeituras no pleito do próximo ano. Donde sai a pergunta: é para considerar? Não servem? Aqui, vai a resposta: índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus.

12/7/2023

Abro a coluna com uma historinha dos velhos tempos.

Promessas de campanha

A historinha foi enviada por um leitor do Paraná.

Candidatos de duas famílias disputavam a prefeitura de uma pequena cidade. Final de campanha. A combinação era de que os dois candidatos e seus familiares teriam de usar o mesmo palanque. Discursou, primeiro, o candidato que tinha 70% de preferência dos votos:

- Povo da minha amada terra, povo ordeiro, trabalhador, religioso e cumpridor de suas obrigações. Se eleito, irei resolver o problema de falta de água e de coleta de esgoto. Farei das nossas escolas as melhores da região, educação em tempo integral. Vou construir uma escola técnica do município...

E arrematou:

- E tem mais, meus amigos, ordeiros, religiosos e cumpridores de seus deveres morais, vocês não devem votar no meu adversário. Ele não respeita nossa gente, nossas famílias, nossos costumes! Ele desrespeita nossa igreja. Ele nem se dá ao respeito. Vocês não devem votar nele. Porque ele tem duas mulheres.

O adversário, com 20% de intenção de voto, quase enfartou quando viu a mulher, ao seu lado, cair no palanque. Ela não aguentara ouvir a denúncia do adversário de que o marido tinha uma amante. A desordem ganhou o palanque. A multidão aplaudia o candidato favorito e vaiava o adversário. Cabos eleitorais começaram a se engalfinhar. Passado o susto, com muita dificuldade, o estonteado candidato acusado de ter duas mulheres começa seu discurso, depois de constatar que a esposa estava melhor:

- Meu amado povo, de bons costumes e moral ilibada, religioso e cumpridor de seus deveres morais, éticos e religiosos. Quero dizer aos senhores e senhoras aqui presentes, que, se agraciado com seus votos me tornar o prefeito desta cidade, farei uma mudança de verdade. Não só resolverei o problema da falta de água, como farei também o tratamento de todo o esgoto do município, construirei uma escola técnica e um novo hospital!

A massa caçoava do coitado e de sua mulher. Foi em frente:

- Vou melhorar o salário dos professores, a merenda das crianças e ainda vou instituir o Bolsa Cidadão. Agora, prestem bem atenção. Se os amigos acharem que não podem votar em mim porque tenho duas mulheres, votem no meu adversário. Mas saibam que a mulher dele tem dois maridos.

A galera veio abaixo. O pau comeu. Brigalhada geral. Urnas abertas. O candidato chamado de corno perdeu. O adúltero ganhou com 76% dos votos.

I Parte

Panorama

Bolsonaro está morto?

Não. Ao contrário da opinião de alguns analistas, Jair ainda levanta a tocha do messias para milhares de pessoas que apostam em sua caminhada em direção à terra prometida. Por quê? Porque veste o manto do antipetismo. Impregna-se dessa imagem. E com ela, desfraldará a bandeira oposicionista nas eleições para prefeito e vereadores no próximo ano.

Um presente ao PL

Sua inelegibilidade, decidida pelo TSE, foi um presente ao PL, o maior partido da Câmara, com 99 deputados. A razão é que seu cacife para dominar o partido se arrefece. Ou seja, ele está politicamente fraco. Repito: politicamente. Porém, sob o prisma eleitoral, está forte. Não tem poder de mando no partido, mas conserva influência eleitoral. O PL continuará sob o domínio de Valdemar da Costa Neto, o boy, que usará Bolsonaro como isca para pescar votos em todo o país.

A visão dos eleitores

Existe um sentimento geral de que o PT é uma ameaça. Que o partido dos trabalhadores é contra as liberdades, contra propriedade, defensor de regimes como os da Venezuela, Cuba e Nicarágua. Lula tem ajudado a manter essa percepção, referindo-se a eles com certa constância. O presidente, ao que se constata, não tem papas na língua. Mais solto e tão verborrágico quanto se apresentava em mandatos anteriores. Lula tem pressa. E o PT poderá, mais uma vez, contar com o contexto internacional, favorável ao Brasil.

Limites do bolsonarismo

Mas o bolsonarismo raiz tem limites. Não ganhará tanta força se a situação da economia mundial favorecer o Brasil. Por bolsonarismo raiz devemos entender os eleitores que se identificam profundamente com a extrema direita. Pois há muitos simpatizantes de Bolsonaro que tomam posição apenas porque são antipetistas. Não gostam do PT. E optam por um protagonista que possa vencer a pretensão hegemônica do petismo.

Sorte do PT e do Brasil

Dito isto, vamos aos fatos: um panorama recessivo ameaça as economias europeias e a norte-americana. A China projeta um crescimento menor e depende de commodities, a partir dos nossos grãos. O Brasil registra uma das maiores safras de sua história. E a política liberal gestada pelo ministro Fernando Haddad recebe aplausos. A economia sob Haddad tem sido um azougue no apoio do mercado. Com as reformas na frente econômica, pode puxar o governo Lula para a liderança no conjunto das nações em desenvolvimento. Portanto, peço atenção dos leitores. Minha análise sobre o bolsonarismo tem a ver com o sucesso e/ou insucesso do governo Lula III.

Guerra

A guerra da Ucrânia x Rússia, por sua vez, tem levado substanciais recursos dos países da OTAN e dos EUA. Suas economias também sofrem impactos da guerra. E a posição do Brasil, nem lá nem cá, fazendo certa intermediação, é um fator de impulso às exportações, a par de uma articulação equidistante. Todos esses componentes precisam ser considerados. Até a posição do Brasil para alavancar sua indústria bélica – fabricação de blindados, principalmente – está sendo negociada com a Alemanha, produtora de peças. Empecilho tem sido a proibição do país em exportar armas/tanques velhos para a Ucrânia.

Haddad

Voltemos ao ministro Haddad. Pode ser o trunfo de Lula para 2026. Claro, se o governo der certo. Haddad ganhou a confiança do mercado, tem sido um grande articulador do governo, tem uma cara jovial. Lula se depara com a questão da idade e da perspectiva de viver momentos mais tranquilos com sua mulher, Janja. Mas o presidente deixará essa decisão para o último momento. Não quer acirrar as querelas partidárias que um anúncio antecipado provocaria. Sua intenção é a de fazer o maior governo da história. É matreiro e sabe esperar. Uma raposa. Haddad, por sua vez, é o traço de união que liga o PT do passado ao futuro.

Índices de intenção de votos

Os institutos de pesquisa começam a nos mandar pesquisas de intenção de voto para as Prefeituras no pleito do próximo ano. Donde sai a pergunta: é para considerar? Não servem? Aqui, vai a resposta: índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de semanas seguidas, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre.

II Parte

Raspando o tacho

- A escolha do senador Eduardo Braga, do MDB, para relator do projeto de Reforma Tributária, no Senado, é uma jogada inteligente do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, sob a confiança de que o parlamentar amazonense vai acolher os pontos defendidos pelo governo.

- Quem está se saindo bem no fichário político é o senador piauiense, ex-ministro de Bolsonaro, Ciro Nogueira. Defende Bolsonaro e se mostra fiel. Sem açodamentos.

- Ciro se prepara para apitar alto no próximo capítulo eleitoral.

- O bate-boca no PL continua. O grupo de 20 deputados que votaram a favor da reforma partidária foi alijado da rede de mensagens. A dissensão pode acabar em saída de parlamentares em momento oportuno.

- Tarcísio de Freitas, governador de SP, pensa na reeleição em 2026 e não na candidatura presidencial. Que seria seu alvo em 2030. Conta a esse analista fonte séria do Palácio dos Bandeirantes.

- O PT pensa em ter entre 6 e 89 candidatos fortes para a prefeitura de capitais em 2024. Mas as parcerias com os partidos que formam a bancada de apoio ao governo atrapalham sua meta.

- Calado, de boca fechada na CPI dos Atos Golpistas, Mauro Cid, o ex-ajudante e ordens de Bolsonaro, diz muita coisa. Acoberta situações. É uma confissão.

- Há um grupo nas Forças Armadas que ainda não digeriu o governo Lula. Os bastidores estão infestados de conversas de tom negativista.

- Os setores de alimentação, bebidas e combustíveis são responsáveis pela deflação de preços em junho. A população aplaude com o pequeno aumento no poder de compra.

- A nomeação de novos ministros para o STJ forma um imenso rolo compressor a querer influenciar o processo junto a Lula. Que vai agir de maneira política.

- Aliás, a intenção do presidente é fazer alianças com viventes do céu e do inferno. Pretende organizar imensa fortaleza de defesa no Congresso. Na área ministerial, isso implica a mudança de nomes em boa parte da Esplanada dos Ministérios.

- Putin acabou chamando o comandante do Grupo Wagner, Prigozhin, para uma conversa. O comandante levou seus principais chefes. O grupo, ao que se diz, está de volta à Rússia. Estava em Belarus. Pragmatismo. Grana e poder.

- Lula teria perguntado a Biden: você será candidato à reeleição? O presidente dos EUA teria respondido: sim. Lula deve ter pensado: minha idade em 2026 não será problema.

- Lições de Napoleão e Sherman

- É bom recordar as lições de Napoleão. Que dizia: faire som thème em deux façons (fazer as coisas de dois modos). O general William Sherman, que comandou a campanha de devastação durante a guerra da secessão norte-americana, também lembrava: "Ponha o inimigo nos cornos de um dilema." Nunca um político deve trabalhar com uma única hipótese. Um candidato precisa dispor de algumas alternativas.

Fecho a coluna com Tenório Cavalcanti, na verve de Sebastião Nery

Armado de admiração

Tenório Cavalcanti, udenista e adversário político de Vargas, foi ao Catete numa comissão de deputados. Andava nas manchetes dos jornais por causa de suas estripulias em Caxias, na base da “Lourdinha” (metralhadora) e da capa preta. Getúlio o cumprimentou, olhou bem para o volume do revólver embaixo do braço esquerdo, sob o paletó:

– Deputado, o senhor está armado?

Tenório ficou vermelho, mas não perdeu o bote:

Sim, presidente, armado de admiração por Vossa Excelência.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.