Fura ele, Jesus!
Deu-se na encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da Paraíba. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo. Elenco escolhido dentre os moradores e no papel de Cristo, foi escolhido o cara mais gato da cidade. Ensaios de vento em popa. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'.
– Como? – reclamaram – Você não ensaiou!
– Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala!
O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. Cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas.
– Oxente, cabra, tá machucando! Reclamou Jesus, em voz baixa.
– É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o centurião.
E tome mais chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião:
– Vem, desgraçado! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num cara sem defesa!
O centurião correndo, Jesus com a peixeira correndo atrás, e a plateia em delírio gritando:
– É isso aí! Fura ele, Jesus! Fura, aqui é a Paraíba, não é Jerusalém, não!
- Panorama
Felicidade se estreita
O que é a felicidade? Cada terráqueo tem a sua definição. Seria uma composição de muitas coisas: bens materiais, paz de espírito, convivência harmoniosa com os outros, realizações pessoais e feitos que aumentam a autoestima, segurança, cumprimento de metas e objetivos e mais... e mais... e mais...! As pesquisas chegam a mensurar tudo isso? Há dúvidas. Medir coisas concretas, vá lá, medir coisas abstratas, ah, essa é tarefa inviável. De qualquer modo, vamos aos índices mostrados por pesquisas. O Brasil despenca no ranking da felicidade. Ocupa um longínquo lugar – 49º, tinha o 38º lugar no ano passado - no ranking de felicidade da World Happiness Report, iniciativa da ONU. O 1º. lugar no mundo é da Finlândia. O Afeganistão está no 137º lugar. E tem mais inferno adiante. Já o norte da Europa ganha as palmas de territórios abençoados.
Dá para se perceber?
Sim. Com a infelicidade, o clima ambiental se fecha. Torna-se mais contraído. Ruas mais tristes. Mais pedintes, mais habitantes sem teto, mais violência, mais imprecações, a sensação de que o paraíso está acenando um adeus, o inferno de nossas vidas aperta o cerco. Desconfiança, promessas não cumpridas, odor de sangue e morte. Aqui e ali. Na França, por exemplo, o fogaréu toma as ruas. A reforma da Previdência, de Macron, é frustrante. Pelo bem, diz ele, das contas públicas. Aliás...
Custo, gasto e investimento
O tema cai bem nessa quadra política. O presidente Luiz Inácio "ensina": os livros de economia estão errados. Ou precisam aperfeiçoar seus focos. Não dá mais governar, segundo os padrões tradicionais. Porque a tal política de contenção de gastos, o tal teto de gasto, segundo Lula, praticamente inviabiliza a administração. Não há margem, ainda segundo ele, para assegurar crédito aos pobres e desvalidos. Tudo é gasto. Deveria haver ponderação sobre o que é custo, gasto e investimento. Na área social, as políticas devem ser entendidas como investimento e não como gasto. Economistas de peso avisam: muita calma com o andor. É possível conciliar teto de gastos com políticas de crédito e de investimentos. Juros, inflação, crescimento do PIB, tudo isso deve ser colocado no caldeirão.
O fato é que...
Se não houver crescimento, o país descambará na direção do beleléu. E se isso ocorrer, nada feito para os governantes, que preferem ver o país cedendo em políticas sociais do que refluindo no compasso do gasto. O sucesso do comandante Lula da Silva dependerá do êxito econômico. Se der certo, poderá, mais adiante, se reeleger. Ou eleger quem quiser. Até um poste? Ih, nesse caso, será complexa a equação. O país tem um cordão umbilical com o passado. E tem medo de novas tragédias. Cautela e caldo de galinha...! Bom, o fato é que nossas plagas estão vacinadas (ou não?) contra as pragas da política.
São Jorge
São Jorge lutando contra o dragão da maldade – inflação, juros altos, alimento caro, hospital sem equipamentos, miséria galopante. Há anos o sistema cognitivo nacional associava Lula à imagem de São Jorge. Hoje, não. A imagem do maior exemplo da dinâmica social no Brasil mais parece um cavaleiro da Távola Redonda, na borda de uma imensa mesa oval, onde estão também o rei Arthur, o príncipe Rodrigo, o guerreiro Elmar, o comandante Bivar et caterva... e onde há, ainda, uma cadeira destinada a... Valdemar, o equilibrista.
PT x PT
Quem ganhará a luta no cabo de guerra? O PT que é favorável à responsabilidade fiscal ou o PT que aposta na gastança para preservar a farra eleitoral? Lula será o juiz. Na visão deste analista, a alma populista de Lula tem mais força para vencer o cabo de guerra.
João Doria
Dia 27, segunda, a partir das 18h30, na livraria da Travessa, no Shopping Iguatemi, será lançado o livro "João Doria, o poder da Transformação", de autoria do jornalista e escritor Thales Guaracy. Prefácio de Fernando Henrique e pela Matrix Editora. Será um evento e tanto. O ex-prefeito e ex-governador de São Paulo deve levar uma coleção de canetas para atender aos autógrafos de uma fila quilométrica. O mundo social e a esfera política estarão lá, sem dúvida. João tem enorme poder de mobilização. A coluna Porandubas estará presente.
Juros cedendo
A previsão é quase consensual. A taxa Selic recua do patamar de 13,75 ao ano. Devagarinho, sim.
Beleza na política
Que a madame Bolsonaro quer investir em sua beleza, não há dúvida. A mídia estampa sua cara ao lado de um influencer e fabricante de cosméticos. E apresenta uma linha By Michelle. Levará ela sua fisionomia charmosa para a política? É o que parece. Assume o comando do PL Mulher.
Reforço à amizade
Xi Jinping e Vladimir Putin, os todo-poderosos da China e da Rússia, deram um passo avançado no caminho da Guerra Fria. Xi foi visitar Putin em Moscou e ambos reafirmaram sua aliança histórica. A visita ocorre três dias após a Corte Internacional de Haia ter emitido mandado de prisão contra o maioral da Rússia por ter cometido crimes contra a Humanidade. P.S. Segunda-feira, um caça russo "vigiou" o voo de um supersônico norte-americano nas proximidades da fronteira da Rússia. O ato foi considerado uma ofensa. Os ânimos se exaltam.
Israel x palestinos
Os ânimos também se exaltam no Oriente Médio. O ministro das Finanças de Israel, em um evento na França, disse, alto e bom som, que não existe cultura palestina. Que não existe povo palestino. Confrontos à vista.
Ucrânia
Sem previsão, a paz entre Rússia e Ucrânia. Putin jamais assinará acordo de paz tendo de devolver territórios anexados à Rússia. Zelenski, o ucraniano, também não admite acordo tendo de referendar os espaços ocupados pelo invasor. Um jogo de perde-ganha.
Parlamentarismo às avessas I
Por aqui, o chefe do Executivo conta com duas armas para aprovar sua agenda legislativa: projeto de lei ordinária (PLO) e MP, Medida Provisória. Politicamente fraco, costuma valer-se desta última; quando possui ampla maioria, a arma é o PLO. E o Legislativo torna-se refém do Poder Executivo, que detém as prerrogativas de propor medidas e leis, "controlar" (?) a execução do orçamento e vetar projetos. Torna-se legislador, transforma-se em artífice de um parlamentarismo às avessas. Essa modalidade de parlamentarismo invertido, a propósito, foi aplicada, por aqui, em 1847, quando Pedro II, inspirando-se no modelo inglês, adaptou à sua conveniência.
Parlamentarismo às avessas II
No parlamentarismo, o primeiro-ministro, normalmente indicado pelo partido majoritário, comanda o gabinete e passa a exercer o governo. O imperador, ao contrário, fazia-se de Poder Moderador, escolhendo o presidente do Conselho de Ministros, e este indicava os membros do Ministério. Na discordância, demitia o Ministério e dissolvia a Câmara. Hoje, temos uma versão caricata do passado. O Executivo aplica o cipoal legislativo que constrói ou encomenda, em contraste com o presidencialismo de democracias consolidadas, como a norte-americana, onde o presidente não pode propor leis e nem controla a elaboração e a execução do orçamento.
Fecho a coluna nas ruas de Madrid.
Amor próprio
Um maltrapilho dos arredores de Madrid pedia esmolas com grande dignidade. Um transeunte lhe disse:
"Não tem vergonha de exercer essa infame atividade quando pode trabalhar?"
"Senhor, respondeu o mendigo, peço-lhe esmola e não conselhos".
Tendo dito isto, deu-lhe as costas, com toda a empáfia castelhana. Era um mendigo orgulhoso esse; pouca coisa bastava para ferir-lhe a vaidade. Por amor de si mesmo pedia esmola; e ainda por amor de si mesmo não permitia que alguém lhe fizesse qualquer reprimenda. (Voltaire)