Abro com uma historinha de Pernambuco.
O defeito do cavalo
Em Caruaru/PE, o coronel João Guilherme, senador estadual e chefe político, comprou a um matuto um cavalo de sela. Cavalo bonito, mas com a pálpebra caída. Cego de uma das vistas. Ao descobrir o logro, o coronel ficou indignado. Fez vir à sua presença o espertalhão. Ameaçou-o de cadeia.
– Você teve a coragem de me vender um cavalo cego dum olho! Isso é uma falta de seriedade! Você fez negócio com um homem e não com um tratante da sua laia! Por que você não teve a franqueza de me dizer que o cavalo tinha esse defeito?
– Mas, seu coronéu, vamincê me desculpe, mas vou lhe dizer: o cavalo que eu lhe vendi não tem defeito, não!
– Não tem defeito? Não tem defeito? Então, você acha que um cavalo cego dum olho não tem defeito?
– Seu coronéu, vamincê me desculpe, mas eu acho que não tem não! Ser cego não é defeito: ser cego é uma infelicidade...
(Historinha de Leonardo Mota em Sertão Alegre)
- Panorama
Lula andante
O presidente Luiz Inácio começa a correr o país. O que faz bem. A ele e aos Estados a serem visitados. Acaba de ir novamente à Roraima, o Estado com a menor população do país, onde garantiu a legitimação das terras indígenas. É saudável um administrador que veja in loco as demandas das populações e das regiões. Governando dessa maneira, o mandatário finca estacas profundas no território, garantindo apoio das massas. E assim também começa a campanha eleitoral de 2026.
Bolsonaro ficante
Jair Bolsonaro não tem data marcada para voltar ao país. Ao que se sabe, estaria na terrinha por esses dias de março, mas o episódio das joias mudou sua agenda. Teme voltar no calor das repercussões negativas que os estojos dos presentes (?) causaram à sua já desgastada imagem. Dona Michelle vai se encontrar com o marido, se já não foi. O casal, na Flórida, discutiria o melhor momento para o ex-presidente voltar e os próximos passos a serem dados pela mulher como chefe do PL Mulher, cargo a assumir daqui a uns dias.
Câmara pedinte
O recado dado, há dias, pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, ao presidente Lula, ao dizer que este ainda não tem "base consistente" para aprovar matérias polêmicas, de interesse do governo, já deu resultados. Os parlamentares contarão com recursos mais polpudos – um montante de 40 bilhões – no Orçamento para direcionar a seus projetos. Lira tem a maior força política já conquistada por um dirigente da Câmara Federal no início de uma nova Legislatura. Incorpora, assim, o perfil de um primeiro-ministro.
As joias chocantes
As joias das arábias continuam a chocar as mentes racionais. Por que o ex-presidente, Jair Messias, não ordenou, logo no início da querela, entregar todos os estojos ao TCU? Protela a confusão e queima seus últimos estoques de credibilidade. A fogueira está alta. O incêndio deixa ver um monte de cinzas sobre o clã Bolsonaro. Dona Michelle é menos chamuscada.
Zaratustra
Se quereis atingir as alturas, usai as próprias pernas. Não vos deixeis levar para cima, não vos senteis nas costas e cabeças alheias. Aprendei, portanto, vós mesmos, ó homens superiores, a apoiar-vos firmemente nas vossas pernas. (Nietzsche)
A política como ela é - I
"Queria destacar a intransigente defesa democrática do país, da Constituição e dos valores. É uma defesa bem apresentada pelo governo Lula, principalmente expressada por seu ministro da Justiça, Flávio Dino, também pelo ministro José Múcio (Defesa) e outros ministros, e pelo próprio presidente da República." São palavras pronunciadas, segunda-feira, pelo ex-governador de São Paulo, João Doria, ao receber, em evento, o governador do Estado, Tarcísio de Freitas. Lembrando: João Doria fez oposição contundente aos governos do PT nos últimos anos.
A política como ela é - II
Já Tarcísio homenageou o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, por suas ações no Litoral Norte de São Paulo, por ocasião da enchente que devastou região de São Sebastião.
A política como ela é - III
O ex-presidente Jair Bolsonaro descartou a possibilidade de que o general Walter Braga Netto, seu ex-ministro e ex-candidato a vice, concorra à prefeitura do Rio em 2024. A candidatura de Braga Netto vinha sendo cogitada por setores do PL ligados à direção nacional e à bancada bolsonarista do partido. Braga Netto não deve ter gostado da queimação.
A política como ela é - IV
Jânio Quadros era perito na arte de se fazer surpreso. Perguntado por Leon Eliachar, o humorista, qual era seu slogan: 50 anos em 5 ou 5 anos em 60? Jânio responde: "50 anos em 5, mais o pagamento dos atrasados". O truque de mudar as palavras é comum. Ao político se pergunta: "o senhor vai dizer tudo o que sabe aos procuradores?" Resposta do político: "quem diz a verdade, tem tudo a seu favor. Quem não deve, não teme". O truque de deturpar as palavras é usual. "O sr. acredita que o relatório do Banco Central vai absolvê-lo?" Resposta: "O relatório pode ser uma peça de condenação ou de inocência. Quem me condena é a imprensa, não o banco".
A política como ela é - V
O truque da auto-justificação é artimanha para encobrir a verdade. "O senhor favoreceu fulano de tal, que tem folha corrida de corrupção"? E o político responde: "sou uma pessoa que acredita nos outros; sempre procurei ajudar. Se alguém utilizou de minha boa fé, não foi com minha aprovação". Simular idiotice ou demência não é comum, mas fingir-se de doente, isso, sim. No capítulo da santificação, a regra é comum: os políticos não costumam reconhecer os pecados. São todos inocentes ou vítimas. Não são orgulhosos, invejosos, vaidosos ou arrogantes. São franciscanos, beneditinos, lazaristas, cristãos. É assim a santa política.
A política como ela é - VI - Mazarino
Um dos precursores do marketing político foi o cardeal Mazarino, que recebeu o cardinalato sem nunca ter sido ordenado, mas em função dos dotes diplomáticos e dos bons serviços prestados a Luis XIII, como ajudante do cardeal Richelieu, tendo a este substituído. Pouco antes de morrer, Mazarino escreveu um Breviário dos Políticos, com pérolas como estas: "age com os teus amigos como se devessem tornar inimigos; o centro vale mais do que os extremos; mantenha sempre alguma desconfiança em relação a cada pessoa; a opinião que fazem de ti não é a melhor do que a opinião que fazem dos outros; simula, dissimula, não confies em ninguém e fala bem de todo mundo. E cuidado. Pode ser que neste exato momento, haja alguém por perto te observando ou te escutando, alguém que não podes ver". Eis a política como ela é.
Constituinte exclusiva
A ideia faz parte do eterno retorno. A ampulheta do virar e revirar-se, na simbologia de Nietzsche, nos visita com o retorno do tema pela cabeça do senador Humberto Costa (PT-PE). O argumento: uma Constituinte exclusiva impulsionaria a reforma política. Pano de fundo: necessidade de o governante fazer maioria nas casas parlamentares, sem o balcão de trocas. O assunto, na visão deste escriba, não passa na garganta social. O xarope é amargo. Muito amargo.
Mandatos no STF
Volta também a ideia de se estabelecer prazo para exercício dos ministros no STF. Pela vontade de se libertar da espada do Judiciário, que paira sobre sua cabeça, a esfera parlamentar se inclina favorável à tese. 8 anos, 10 anos, 12 anos? Os lobbies começam a se movimentar. Disputa com viés político.
Quem mandou matar Marielle Franco?
A pergunta se aproxima de uma resposta mais certeira.
Liberdade x censura
É tênue, muito tênue, a linha que separa a liberdade de expressão e a censura. As redes sociais precisam de alguma ferramenta que as controle? Pode se dizer tudo o que se quer e o que se pensa? Ou deve haver limites. Informar, interpretar, emitir juízo de valor com responsabilidade ou desobrigar uma fonte a respeitar os limites éticos? Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes defendem limites. O presidente da Câmara, Arthur Lira, é favorável às porteiras escancaradas. Eis uma boa mesa de debates.
Gêneros
Neste mês de março, dedicado às mulheres, urge reconhecer: o gênero feminino avança em sua luta pela igualdade. De posições com os homens, de cargos, de competência, de salários. Viva! Viva! Viva!
A negritude
Graças à sua luta, ao seu fervor, à sua resiliência, a negritude também dá passos avançados. A população negra do Brasil alarga seus espaços na cena social e na paisagem institucional. Viva! Viva! Viva!
Imagens que ficam
Há imagens que se perpetuam na consciência coletiva. E, não raro, resvalando pelo inconsciente. Querem uma? Um cidadão desfilando no Rolls-Royce da presidência, pela praça dos Três Poderes, sentado no banco traseiro do automóvel, enquanto o pai, em pé na parte dianteira, acenava para os participantes do evento de posse como presidente do Brasil. Dia 1 de janeiro de 2019. O cidadão: Carlos Bolsonaro. Estrategista das redes sociais do candidato Jair. Tinha um revólver na cintura. Pronto para apertar o gatilho. Cena extemporânea, hein? Pano de fundo: lembranças da facada em Juiz de Fora.
Cena triste
Polícia Federal cumprindo mandados de busca e apreensão contra um desembargador do TRF-1 e seu filho, suspeitos de corrupção ativa e passiva. Ontem, terça-feira.
Fecho com hilárias passagens.
O Código Penal
Aluno de Direito ao fazer prova oral:
– O que é uma fraude?
– É o que o senhor, professor, está fazendo, responde o aluno.
O professor fica indignado:
– Ora essa, explique-se.
Então diz o aluno:
– Segundo o Código Penal, 'comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar'.
Reservista
Numa vara da Fazenda, no interior de São Paulo, o perito era coronel do Exército e o juiz, Plínio Gomes Barbosa, não sabia. Houve discussão, o coronel começou a gritar, o juiz bateu a mão na mesa e deixou o coronel sozinho.
– Se o senhor continuar nesse tom, ponho-o daqui para fora.
– Não saio, não. Sou coronel do Exército.
– Então quem se retira sou eu, que sou reservista da 3ª categoria.