Volto a abrir as Porandubas com uma historinha hilária. Vamos à Paraíba.
Quanta terra...!
João Suassuna, velho coronel e líder político do Estado da Paraíba, pai do escritor Ariano Suassuna, perseguindo um trabalhador de seus imensos latifúndios, mandou dar um purgante de óleo de rícino, chamou dois jagunços. Sebastião Nery descreve:
– Levem esse cabra até a fronteira da fazenda. Vão os três a pé. E o purgante não pode fazer efeito em minhas terras. Se fizer, podem sumir com ele.
O homem saiu na frente dos dois capangas, andou, andou, apertou o passo, escureceu, e nada de chegar ao fim da fazenda. O remédio começava a torturar e o homem suando frio e andando ligeiro. De repente, não aguentou mais, gemeu:
– Êta coronel pra ter terra!
- Panorama
Recuperação
Por mais qualificados que sejam os profissionais que estão recuperando as obras de arte e os móveis destroçados dos ambientes dos Três Poderes, em Brasília, eles não serão os mesmos. Estamparão sinais do vandalismo, até nas lembranças que despertarão nas visões das pessoas. Cada vez que observo as cenas de destruição, transmitidas pelos meios de comunicação, sinto aumentar a perplexidade. Emerge a conclusão: a ignorância é a raiz da barbárie.
Jornalistas?
Assombro-me com o nome de jornalistas flagrados na paisagem destroçada: um, dois, três? Como um profissional de comunicação adentra essa cadeia de ilicitudes? Até uma ex-primeira-dama, da Paraíba, entra no show macabro, levando seu filho de 12 anos. Jornalista, que já exerceu atividades em emissoras de TV. Conhecida pelo bolsonarismo militante. Como as coisas mudam. Quem diria, amigas e amigos, que jornalistas cometem absurdos como o que vimos...
Filtro ideológico
Lula teria reconhecido, segundo O Globo, que a ideologia está atrasando a nomeação de quadros para a administração. Os indicados ou quadros que tendem a permanecer estão passando por uma filtragem com o fito de saber se estão comprometidos com o bolsonarismo raiz, o militante e destruidor. É fato que cada governo tem o direito de plasmar um mapa de seus integrantes com pessoas alinhadas ao seu modo de pensar. Urge ter cuidado com essa prática para evitar a formação de pensamento totalmente homogêneo, capaz de substituir o valor da competência pela régua ideológica, coisa mais usual nas ditaduras.
Intolerância
Pesquisa recente dá conta da intolerância que tem avançado na índole nacional: 51% dos brasileiros se confessam menos tolerantes, sem propensão ao diálogo e à harmonia. É um dado que chama a atenção, pois marca a identidade de um povo capaz de substituir a paz pela guerra. Aquele caráter traçado por nossos pesquisadores do passado, como Afonso Celso e Sérgio Buarque de Holanda, que teriam fincado em nosso ethos a marca do homem cordial.
Retrato do país?
Os brasileiros se veem mais divididos e menos tolerantes que há dez anos. E veem as divergências políticas como o principal foco de polarização no país. Trata-se de uma tendência mundial. É o que aponta uma pesquisa da Ipsos Mori feita para a BBC em 27 países com 19.428 mil pessoas. Questionados se as pessoas estão mais ou menos tolerantes em relação a pessoas com diferentes origens, culturas e pontos de vista se comparado com a década passada, cerca de metade dos participantes brasileiros disseram estar menos tolerantes.
Sérgio Buarque
Sérgio Buarque, que começou a escrever "Raízes do Brasil" em 1928, chegou a dizer que o termo "cordialidade" foi utilizado erroneamente pela direita brasileira, querendo interpretar seu caráter como a do ser "bonzinho". É o que escreve em O Tempo, João Pombo Barile (O Tempo é um jornal mineiro que publica semanalmente meus artigos). Barile lembra que, num artigo que chamou de carta a Cassiano Ricardo, Sérgio limpou as dúvidas. Em Raízes do Brasil, publicado em 1936, o autor mostra o brasileiro como "aventureiro, manipulador da inteligência, alguém cultuador de personalidade, resistente à hierarquia, incapaz de se organizar espontaneamente, ambicioso de prosperidade sem custo, da posição ou da riqueza fáceis." Traços bem diferentes do homem cordato.
O vândalo
A estatística que aponta a maioria dos brasileiros saturada com a tolerância combina com aquela personalidade "resistente" à hierarquia, capaz de participar de um 'quebra-quebra", atos de vandalismo.
Josué
O presidente da FIESP, Josué Gomes, foi destituído do cargo. Por um conjunto de atos que desagradaram as oposições, entre as quais, queixas de não dar atenção aos pequenos sindicatos e de assinar documento político, entendido como apoio à Lula. A reunião extraordinária, na segunda-feira, começou no início da tarde e terminou tarde. Josué se retirou da reunião. Os opositores fizeram uma segunda reunião e destituíram o presidente. A guerra vai esbarrar na Justiça. Coisa que vai acirrar os ânimos. Na sombra da oposição, está Paulo Skaf, que dirigiu a entidade por 17 anos. Skaf é um exímio articulador. Há dúvidas sobre quem será vencedor da contenda.
Lide em Lisboa
João Doria volta com toda a força ao seu caminho de ontem, no Lide, comandando eventos de envergadura. No Lide Brazil Conference, a se realizar nos dias 3 e 4 de fevereiro, em Lisboa, João vai receber um grupo de elite da política e do judiciário, com a conferência de abertura a cargo do ex-presidente da República, Michel Temer. Entre outras personalidades, confirmaram presença Bruno Dantas, presidente do TCU; Claudio Castro, governador do RJ; Simone Tebet, ministra do Planejamento; Ricardo Nunes, prefeito de SP; Rafael Greca, prefeito de Curitiba; a turma do judiciário, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski; os empresários Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, Abílio Diniz, da Península Participações, e Maria Luiza Trajano, do Magalu; Isaac Sidnei, da Febraban; Guilherme Nunes, Ceo do Capital Group, de Lisboa, e Giorgio Medda, do Azimut Group, da Europa.
Queixas
Detidos em Brasília, que prestam depoimentos à polícia sobre os atos de vandalismo dos quais teriam participado, com destruição de obras de arte e objetos nas sedes dos Três Poderes, fazem queixas: não gostam da alimentação, não têm Wi-Fi, não dispõem de meios para limpar lentes de contatos e, pasmem, denunciam até o fato de terem sido detidos e conduzidos ao espaço das investigações sem sua vontade. Ao que um juiz, ao ouvir esta reclamação, respondeu:
- Se o senhor não sabe, prisão é assim.
Fecho com a Bahia.
Não há crime...
Cosme de Farias foi um grande advogado dos pobres da Bahia. Enveredou também pela política. Vereador e deputado estadual por muito tempo. Vejam a historinha.
Um ladrão entrou na Igreja do Senhor do Bonfim e roubou as esmolas. Cosme de Farias foi para o júri:
– Senhores jurados, não houve crime. Houve foi um milagre. Senhor do Bonfim, que não precisa de dinheiro, é que ficou com pena da miséria dele, com mulher e filhos em casa com fome e lhe deu o dinheiro, dizendo assim:
– Meu filho, este dinheiro não é meu. Eu não preciso de dinheiro. Este dinheiro foi o povo que trouxe. É do povo com fome. Pode levar o dinheiro.
E ele levou. Que crime ele cometeu? Se houve um criminoso, o criminoso é o Senhor do Bonfim, que distribuiu o dinheiro da Igreja. Então vão buscá-lo agora lá e o ponham aqui no banco dos réus. E ainda tem mais. Senhor do Bonfim é Deus, não é? Deus pode tudo. Se ele não quisesse que o acusado levasse o dinheiro, tinha impedido. Se não impediu, é porque deixou. Se deixou, não há crime.
Cosme de Farias ganhou no verbo. O réu foi absolvido.