Porandubas Políticas

Porandubas nº 778

O TSE continua sendo acusado de interferir no processo eleitoral. Grave.

21/9/2022

Abro com uma deliciosa historinha de Leonardo Mota.

I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum

Conta Leonardo Mota que o mestre Henrique era reputado marceneiro nos sertões de Sergipe. Sua especialidade estava nas camas francesas à Luís Quinze. Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era à Luís Quatorze; casos se queixasse da excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era cama francesa à Luís Dezesseis... O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido:

- Que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro?

- Você não sabe, não? Ali falta é o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha: aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque...

Nuvens plúmbeas

São as nuvens mais pesadas que pairam sobre nossas cabeças a uma semana e meia da eleição. A mais nervosa desses tempos de turbulência. Pois estamos ante ameaça do atual dirigente do país: "se eu não ganhar no primeiro turno, algo deverá ter acontecido no TSE". Ou seja, o TSE continua sendo acusado de interferir no processo eleitoral. Grave.

Credibilidade

As pesquisas, todas as que merecem credibilidade, colocam Lula na frente de Bolsonaro, que garante só acreditar no instituto que designa de "datapovo", que é responsável pelas multidões que vão às ruas aplaudi-lo. Ora, os institutos estão apostando em sua credibilidade. Não vão inventar resultados. O Datafolha tem longa tradição de seriedade.

Multidão não é maioria

Urge ponderar: multidão não é significado de maioria. Trata-se de um fenômeno de aglomeração, que tem a sua importância no fluxo de comunicação das campanhas, mexendo com o animus animandi das plateias. Mas não significa que ali, naquele amplo espaço de pessoas aglomeradas, tenhamos a maioria do povo brasileiro. Agora, vejamos a hipótese: e se Lula ganhar no 1º turno?

Golpismo

Para que haja um golpe, são necessárias certas condições: aplausos da população, engajamento das Forças Armadas, predisposição política do corpo parlamentar, apoio internacional, estado de espírito do povo. Todos esses componentes agem e interagem. Sem um deles, fracassa qualquer iniciativa golpista. A começar com as Forças Armadas, que, em sua maioria, têm compromisso com a democracia. E agirão profissionalmente.

Tumulto

Não queremos garantir paz e harmonia social. Apenas estamos alertando sobre a falta de elementos condicionantes do golpe. Bolsonaro deve ter seu termômetro. E este mede o estado febril da sociedade. Ele não tem a maioria do povo ao seu lado. E suas últimas incursões na frente eleitoral depõem contra sua imagem. Perdido por um, perdido por mil. Pode ser que este seja o lema de Bolsonaro para arremeter seu avião com certo grau de turbulência.

2º turno?

As pesquisas últimas sinalizam eventual vitória de Lula no 1º turno, chegando a 52% dos votos válidos. Este analista continua distinguindo um voto seguro em Ciro e em Simone. O que jogaria a eleição para o final de outubro. Há uma grande interrogação no ar. A certeza é que, salvo um milagre, Bolsonaro não deve ganhar no primeiro turno. O Imponderável costuma nos visitar. Mas escolhe caminhos nem sempre tortuosos.

O Sudeste

Continuo vendo o Sudeste como o pêndulo das eleições. O voto vencedor nesta região elegerá o futuro presidente. O Nordeste poderá não dar as respostas que os bolsonaristas apregoam.

O Auxílio Brasil

Começou a ser pago ontem. Os assistidos continuam achando que o patrono desta causa é Lula, por conta do Bolsa Família. E o Minha Casa, Minha Vida também tem mais força que a Casa Verde Amarela. Questão de imagem do passado, que continua forte com o lulismo.

O Centrão

A Lei de Lavoisier é e será inspiração para o Centrão. Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. O Centrão começa a se dissolver em pequenas células, marcando para os meados do próximo ano seus passos em direção ao governante do país. Seja quem for. Vai apoiar com todo o seu peso a caminhada do governante.

O marketing capenga

Um bom marketing ajuda a eleger, mas é o candidato quem se elege. Marketing mal feito, ao contrário, ajuda um candidato a perder as eleições. Não adianta um bom marketing se o candidato é um boneco sem alma. Candidato não é sabonete. Tem vida, sentimentos, emoção, choro e alegria. Portanto, muita coisa depende dele, de sua alma, de seu calor interno, de sua identidade. Marketing há de absorver essas condições para evitar transformar pessoas em produtos de gôndolas de supermercado. Em um primeiro momento, a inserção publicitária na TV até pode exibir o candidato de forma mais genérica, por falta de tempo para expor conteúdo. Mas o eleitor não se conformará com meros apelos emotivos e chavões-antigos, como os usados para embalar perfis saturados (candidatos beijando crianças e velhinhos, tomadas em câmera lenta mostrando o candidato no meio do povo, etc.).

O velho Brasil

Um sujeito comprou uma geladeira nova e para se livrar da velha, colocou-a em frente a casa com o aviso: "De graça. Se quiser, pode levar". A geladeira ficou três dias sem receber um olhar dos passantes. Ele chegou à conclusão: ninguém acredita na oferta. Parecia bom demais pra ser verdade. Mudou o aviso: "Geladeira à venda por R$ 50,00". No dia seguinte, a geladeira foi roubada!

- A foto de Lula com oito ex-presidenciáveis tem apenas valor simbólico. Não agrega votos. Faltaram FHC, José Serra e Dilma.

- Disputa acirrada no PT, caso Lula seja o vencedor do pleito: quem comandará a economia? Mercadante? Geraldo Alckmin? Meirelles?

- Pesquisas do RN dão como certa a vitória de Fátima Bezerra (PT) no primeiro turno. Mas é bom seguir o conselho: eleição e mineração, só depois da apuração.

- Ronaldo Caiado poderá se eleger no 1º turno em Goiás.

- Quem tem também boas chances de ganhar no 1º turno é Romeu Zema, em MG.

- Em São Paulo, a luta acirrada é pelo 2º lugar. Quem disputará com Fernando Haddad, do PT? Tarcísio, candidato de Bolsonaro, ou Rodrigo Garcia, o atual governador tucano?

- Esperemos pelo alardear de denúncias contra o TSE. Serão inevitáveis.

- Bolsonaro, como se esperava, fez na ONU um discurso para suas bases.

- Disse que acabou com a corrupção, vacinou a população e protegeu a renda das famílias. "Somos uma nação com 210 milhões de habitantes e já temos mais de 80% da população vacinada contra a covid-19. Todos foram vacinados de forma voluntária, respeitando a liberdade individual de cada um."

- Sem seguir a liturgia, Bolsonaro cumprimentou Charles III com um amplo sorriso e a mão no ombro do monarca. Parecia íntimo, que não pode ser tocado.

Fecho a coluna com a família do Plural.

Arandú, em São Paulo, começou sua história como pequeno povoado, no bairro do Barreiro, no município de Avaré. Em 1898, um pedaço de uma fazenda leiteira da região foi doado para a construção de uma capela. Elevado a distrito de Avaré/SP, em 1944, recebeu na ocasião a atual denominação. Em 1964, conquistou a emancipação política. No primeiro comício, os candidatos a prefeito exibiam seus verbos. Dentre eles, José Ferezin. Subiu ao palanque e mandou brasa:

- "Povo de Arandu, vô botá agua encanada, asfaltá as rua, iluminá as praça, dá mantimento nas escola..."

Ao lado, um assessor cochichou:

- "Zé, emprega o plural."

O palanqueiro emendou:

- "Vô dá emprego pro prural, pro pai do prural e pra mãe do prural, pois no meu governo não terá desemprego."

(Historinha enviada por Marcio Assis)

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.