Abro a coluna com uma historinha, aqui já contada. A pedidos, volto com ela.
"O carro se atolou-se"
Walfredo Paulino de Siqueira, típico coronel da política pernambucana, foi escrivão de polícia, comerciante, deputado, industrial, presidente da Assembleia, vice-governador de PE.
Figura folclórica, como lembra Ivanildo Sampaio, ex-diretor de redação do Jornal do Commercio, de Recife, meu contemporâneo na faculdade.
Um dia, dois eleitores discutiam sobre o uso da partícula "se". O exemplo era com um automóvel que ficara preso em meio a um atoleiro.
O primeiro afirmava que a forma correta de se expressar era essa: "o carro atolou-se"; o outro insistia que não; o correto era "o carro se atolou".
Consultado, Walfredo deu a sentença salomônica:
– Escutem aqui, meus amigos. Se os pneus que ficaram presos foram os dois da frente, o correto é dizer que "o carro se atolou". Se foram os pneus traseiros, a gente fala assim: "o carro atolou-se". Mas, se ficarem presos os quatro pneus, os de frente e os de trás, então, meus filhos, a forma correta mesmo é: "o carro se atolou-se"...
Santana
Ontem, 26 de julho, os luisgomenses festejaram Senhora Santana, a padroeira de minha cidade, Luis Gomes, no Extremo-Oeste do Rio Grande do Norte, fronteira com Paraíba e Ceará. Viva!
Cuidado com Narciso
Eis o que ocorreu com Narciso.
Os deuses condenaram Narciso a se apaixonar pela própria imagem. Ele tomou-se de amores pela imagem quando se contemplava nas águas límpidas de uma fonte. A partir daí, obcecado pela paixão por aquele reflexo, Narciso nunca mais conseguiu arrancar-se àquela contemplação e se afastar da beira da água. Ali definhou até morrer.
Há candidatos fascinados pela própria imagem. Não sentem o que se passam. Não veem a paisagem. Não ouvem nem barulhos fortes, menos ainda sussurros.
Correm o risco de definhamento lento e gradual.
Michelle, um trunfo
Dona Michelle Bolsonaro, primeira-dama do país, de 40 anos, é um trunfo no jogo de cartas das eleições. Dizia-se que não iria participar da campanha. Hoje, está na linha de frente. Mostrou que tem certo carisma, fez um discurso-oração-declaração de amor ao marido presidente, circulou pelo palco da Convenção do PL, sob o anúncio messiânico que o Jair Messias é o Enviado. Os evangélicos e adjacentes devem engrossar a crença nos próximos tempos. Em suma, a adesão da pastora Michelle à campanha de palanque fecha a locução com o objetivo de realçar a faceta "divina" do humano candidato.
Haja dinheiro
O governo pede aos seus bancos e à Petrobrás que mandem os dividendos a que tem direito. Coisa de uns R$ 7 bilhões. Essa grana vai se somar aos recursos para viabilizar o Auxílio Brasil e outros programas. Este analista nunca viu tanto esforço para se jogar recurso numa campanha eleitoral. A cooptação atende ao primeiro instinto do ser humano, segundo Pavlov, o impulso combativo, a luta pela sobrevivência. Impulso que dispara o segundo, o nutritivo. Garanta a barriga.
O ataque ao STF
Ao atacar, mais uma vez, o Judiciário em seu discurso na Convenção do PL, chamando seus ministros de "surdos de capa preta", Bolsonaro, mais uma vez, dá mostras que não ouve a voz do bom senso. Pois nesse momento, a razão mostra a necessidade de candidatos se apresentarem como pessoas moderadas, equilibradas, respeitosas. Ainda mais quando o candidato postula a reeleição ao cargo maior do país. O que estaria por trás dessa expressão destrambelhada? Estratégia.
Quanto pior, melhor
O capitão Jair põe fé na confusão, tensão, querelas, brigas entre alas, se possível, com repercussão. Ora, ele vem conseguindo há bom tempo ditar a pauta das mídias. Todos os dias, lá está ele com as suas palavras, termos fortes, alguns beirando as margens do dicionário chulo. Desse modo, anima as bases, supre os compartimentos emocionais de seus simpatizantes, pondo mais lenha na fogueira do antilulismo. Vejam bem: se Lula for ao 2º turno, não será um passeio a sua vitória, como alguns profetizam. O PT não conseguirá, da noite para o dia, limpar os borrões que sujam sua imagem.
Getúlio Vargas
Locuções de Getúlio Vargas:
– A metade dos meus homens de governo não é capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo.
– Quase sempre é fácil encontrar a verdade. Difícil e, uma vez encontrada, não fugir dela.
– Eu sempre desconfiei muito daqueles que nunca me pediram nada. Geralmente os que se sentam à mesa sem apetite são os que mais comem.
– Os políticos olham muito o passado, se esquecem do presente e, principalmente, do futuro. Mas é perigoso este cacoete, pois quem muito olha para trás acaba torcendo o pescoço.
MDB dividido?
O MDB é uma confederação de partidos. Agora mesmo, uma ala entra na Justiça para adiar sua Convenção. O evento está marcado para hoje, quarta. A ala questionadora apoia-se no argumento de que a Convenção deve ser presencial, não virtual. Alega, ainda, que estaria comprometido o sigilo do voto usando-se a rede virtual. Baleia Rossi responde, dizendo que os estatutos permitem tal forma. Quem entrou com o recurso foi o presidente do MDB, prefeito de Cacimbinhas, Alagoas, do grupo liderado pelo senador Renan Calheiros. Hoje, segundo Simone, a Convenção virtual consagrará seu nome. Vamos ver. Em política, não há certezas.
Simone
A candidata Simone Tebet, senadora do MS, é quem mais tem crescido nas pesquisas. Na última pesquisa do IPESPE, ela pontou 4%. Na anterior, 2%. Aumentou, portanto, 100%. Uma questão de releitura das pesquisas (sem risos...). Já vi candidatos, com 2% em junho/julho, ganharem eleições majoritárias em Estados. Segunda-feira, Simone exibiu boa performance em entrevista concedida ao time da Globo News. Respondeu a todas as questões. Demonstrou conhecimento e fluidez de ideias.
O novo manifesto
Agosto vem aí. E com ele, a lembrança do professor Goffredo da Silva Telles. Que leu sua Carta aos Brasileiros em 8 de agosto de 1977, às 20h00, no Largo de São Francisco, repleto de estudantes, gente do povo e personalidades. No próximo 11 de agosto, o ex-ministro do STF, Celso de Mello, lerá um Manifesto em Defesa da Democracia no mesmo Largo. Assinado por mais de 3 mil pessoas.
Goffredo
Este analista era amigo do professor Goffredo. Tive a honra de receber dele pequenas mensagens, em cartões, com sua letra miúda, parecendo um desenho. Fazia referências a meus artigos em O Estado de São Paulo, onde escrevi por mais de duas décadas na segunda página. Certa feita, ao visitá-lo em seu amplo apartamento na avenida São Luiz, fez questão de oferecer-me seus livros. E, em um deles, Palavras do Amigo aos Estudantes de Direito, fez pequenas correções de letras e acentos e frases truncadas. Enorme deferência. Foi uma longa conversa sobre o país, recheada da sabedoria do mestre. Quão grande era esse Brasileiro.
Theotônio
Também apreciava meus artigos o afamado civilista e processualista civil, professor Theotônio Negrão, com quem fiz amizade por intermédio de uma amiga que o auxiliava, a advogada Maria Augusta. Visitei-o, ele já com dificuldade de locomoção, e, com sua simplicidade e lucidez, me transmitiu sábias palavras. Que tempos.....!
Homenagens
Presto minhas homenagens a esses dois grandes vultos do Direito nas pessoas dos amigos advogados, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, Luiz Flávio Borges D’Urso, Carlos Miguel Aidar, Marcos da Costa, Marcelo Martins de Oliveira, Vitorino Francisco Antunes Neto, Eurico Leite, Fernando Fernandes e José Paulo Cavalcanti, entre outros.
Pessoa
- "Não sei quem sou, que alma tenho"
(Consciência de plenitude – Fernando Pessoa)
- "Não sabemos da alma
Senão da nossa;
A dos outros são olhares
São gestos, são palavras"
(Sem Título, 1934 – Fernando Pessoa
In José Paulo Cavalcanti Filho, Fernando Pessoa, O livro das Citações)
Espetáculo e política
" ..os mundos do espetáculo e da política vão se entrosando cada vez mais. Como se, expostos às mesmas sujeições e igualmente forçados a seduzir o público, os performers do cinema e da política se compreendessem às mil maravilhas".
...A política é um exercício da sedução e quase um prolongamento da Arte de Amar, de Ovídio. Para ele, governar é mais seduzir que convencer. Valendo-se de todos os recursos do charme....chegando às raias donjaunismo..."
In Roger-Gérard Schwartzenberg, O Estado Espetáculo.
Fecho com a
"A casa do cacete"
No primeiro mandato de Garibaldi Filho, como governador, deu-se a largada dos projetos de recursos hídricos, com as adutoras que se tornaram marca registrada do seu governo.
Em Pau dos Ferros, na inauguração oficial, Garibaldi foi cobrado de público pelo abastecimento d’água da cidade. Sem se afobar, como é do seu hábito, o governador pegou carona na cobrança popular com indisfarçável irritação: "Vou botar água em Pau dos Ferros nem que a água venha da casa...". Aí parou.
Sentindo que não podia ir além, repetiu a frase: "Já autorizei Rômulo Macêdo a elaborar o projeto e vou botar água em Pau dos Ferros nem que a água venha da casa do...". Parou de novo.
Populares de raciocínio apressado completaram: "Da casa do cacete...". O orador foi sutil e perspicaz: "Eu não queria dizer essa palavra...". Risos gerais. "Gari" guardara a postura e conseguiu o resultado.
(História contada pelo espirituoso escritor Valério Mesquita).