Abro a coluna com uma deliciosa historinha da Paraíba.
‘O POVO TAMBÉM ME CONHECE, ZÉ’
Zé de Dora era um barbeiro da cidade de Santa Rita, no interior da Paraíba.
Quando comprou seu primeiro carro, resolveu ir a João Pessoa dar um passeio. Chegando lá, não tendo conhecimento de semáforos, saiu cortando tudo que era sinal - verde, amarelo e vermelho.
Ao ultrapassar os sinais vermelhos, os outros motoristas gritavam - "BARBEIRO". “BARBEIRO”.
Quanto mais chamavam o Zé de "Barbeiro", mais ele ficava orgulhoso. E acenava, agradecido.
Ao retornar a Santa Rita, sua mulher perguntou:
- E aí, Zé, como foi na capital?
Zé, orgulhoso, respondeu:
- Maria eu nem te conto! Tu sabe que em João Pessoa sou mais conhecido do que aqui em Santa Rita?
- Que é isso Zé, deixa de conversa.
- Pois então vamos juntos para eu te mostrar.
Saíram Zé de Dora e a mulher para passear em João Pessoa. Lá chegando, Zé foi cruzando os semáforos, um aqui, outro ali, sem se preocupar se estavam verdes, amarelos ou vermelhos. Ao cruzar o primeiro semáforo vermelho, um motorista que quase bateu o carro no do Zé, gritou:
- "CORNO". “Seu CORNO”.
Maria, nervosa, logo abriu a boca:
- ZÉ, vamos voltar logo pra Santa Rita, Zé, pois aqui o povo também me conhece.
Panorama
1. Campanha nas ruas
A campanha eleitoral ganha foro oficial com as convenções partidárias, que se iniciam esta semana. A convenção do PDT, de Ciro Gomes, será a primeira, hoje, quarta. A do PT será realizada amanhã e a de Bolsonaro, no domingo. Mas a campanha já está nas ruas. Lula e Alckmin, correndo de um lado para outro, com foco na articulação política; Bolsonaro, juntando multidões em suas motociatas e Ciro, fazendo palestras e Simone, pequenas reuniões.
2. Quem junta mais?
As dúvidas se entrelaçam no corredor das versões: quem junta mais gente? Este analista recebe vídeos das duas principais campanhas, a de Lula e a de Bolsonaro. Sem querer questionar a edição dos vídeos, coisa para as alas envolvidas, vê-se claramente que as motociatas de Bolsonaro e sua chegada aos ambientes exibem maior número de pessoas. Lula, ao que parece, tem evitado mobilização de rua. Com a campanha oficializada, são previsíveis multidões aqui e ali.
3. Nordeste
A região nordestina tem sido o alvo dos dois candidatos. Ambos passaram por lá nos últimos dias. E as pesquisas começam a mostrar crescimento de Bolsonaro no Nordeste, não a ponto de superar os índices de Lula, mas diminuindo a distância. Depois do Sudeste, que soma mais de 50% dos votos, o Nordeste será palco de grandes batalhas. Lula ainda exibe o mérito de ser o pai do Bolsa Família. Bolsonaro, com muito esforço, ainda não conseguiu disseminar a ideia de ser o pai do Auxílio Brasil.
4. Combustíveis
Dos 27 Estados, 14 e o DF anunciam redução da alíquota do ICMS sobre o etanol. Em São Paulo, a cobrança do imposto caiu de 13,3% para 9,57%. O etanol deve ter preço competitivo em relação a outros combustíveis, de acordo com a PEC dos Benefícios, que incorporou a PEC dos combustíveis. Se o consumidor acusar as reduções no etanol, na gasolina e no diesel, Bolsonaro faturará o preço menor. Seu grande desafio é comunicar tudo isso a menos de três meses das eleições.
5. O Judiciário como alvo
O Poder Judiciário continuará sob a mira do capitão-atirador. Os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luis Barroso serão intensamente alvejados. Moraes continua duro, mandando bolsonaristas retirarem fakes das redes sociais. Fachin recusou participar da reunião com embaixadores. As tensões chegarão ao pico da montanha. Bolsonaro quer arrumar um pretexto para o dia seguinte ao anúncio do vitorioso do pleito. Se for ele, poderá alegar que teve mais votos do que os anunciados. Se for o derrotado, SDS.... Só Deus Sabe...
6. Reunião com embaixadores
A conversa que o presidente teve com embaixadores, na segunda feira, foi um ato de extrema gravidade. O presidente da República e Chefe de Estado anuncia ao mundo, de forma oficial, que as eleições brasileiras serão fraudadas. E o anúncio se dá na residência do Presidente. Um prédio do poder público usado como quartel general de campanha.
Provas? Não há. Apenas suspeitas e extenso blábláblá. Os “argumentos técnicos” das Forças Armadas, reunidos pelo Ministério da Defesa, são um castelo de areia. Os embaixadores saíram confusos. A reunião contou com a presença do general Augusto Heleno, do Advogado Geral da União, Bruno Bianco, do presidente do STM, Luis Carlos Gomes Mattos, Carlos França (ministro das Relações Exteriores), Paulo Sérgio Nogueira (ministro da Defesa), Ciro Nogueira (ministro da Casa Civil) e general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), entre outros. Embaixadores foram alertados por seus países a não endossar a tese do presidente.
Mas a interrogação fica no ar.
7. Hackers
O presidente insinua que os hackers vão invadir o sistema. O que, de certa forma, é um convite para que eles comecem a furar o bloqueio. A contaminação do processo se espalha como vírus no sangue. Fake news ganham status oficial.
8. Paisagem paulista
A paisagem eleitoral do maior colégio eleitoral do país sinaliza um segundo turno entre Fernando Haddad e Rodrigo Garcia, PT versus PSDB. Tarcísio de Freitas, o candidato de Bolsonaro, já ganhou a marca de “um estrangeiro” no Estado. Inscreveu-se como morador de São José dos Campos. Mas o ex-ministro da Infraestrutura (Republicanos) não mora no endereço que declarou como seu domicílio no estado de São Paulo. Será difícil chegar ao 2º turno. Rodrigo tem mais chances. E expressa mais modernidade que Fernando Haddad. De Haddad, Delfim Netto já dizia: é o único marxista do PT.
9. Projeto de 4 décadas?
O abre-alas do discurso eleitoral anuncia: se o PT ganhar as eleições presidenciais e o governo do Estado de São Paulo, as próximas décadas estarão sob o jugo autoritário. O PT aprendeu com seus erros. Colocou Dilma no despenhadeiro. Agora, sabe como dominar, cooptar, dividir para somar. Se Lula ganhar lá e Haddad, aqui, o lulismo criará as bases para uma hegemonia nunca vista no país. Junta-se a fome com a vontade de comer. Tal previsão está sendo “parafusada” pelos “engenheiros” da máquina petista.
10. MDB com Lula
O MDB é mesmo uma confederação de partidos. Mesmo tendo Simone Tebet como candidata do partido, 11 diretórios estaduais decidiram fechar posição em torno de Lula.
11. O líder informal
Conta Roger-Gérard Schwartzenberg, em O Estado Espetáculo, que o rei Luis Felipe suprimiu o cerimonial solene nas Tulherias, passeava por Paris com seu chapéu cinzento, e parava para conversar com os operários de uma construção. Que Pierre Trudeau, pai do atual primeiro-ministro do Canadá, Justine Trudeau, abandonando a liturgia oficial, escorregou pelo corrimão de uma escada, envergava uma camisa Lacoste, paletó esporte e usava sandálias. Que Giscard d’Estaing, presidente da França, vestia uma camisa quadriculada e tocava acordeão nas ruas de Paris, semanas depois de ter jogado como centro-avante num time francês.
12. A dissimulação
Em Paradoxo do Comediante, Diderot descreveu: “o que faz os autores medíocres é a extrema sensibilidade...e é a ausência absoluta de sensibilidade que prepara os atores sublimes. As lágrimas do comediante escorrem de seu cérebro; as do homem sensível descem do seu coração. Dir-se-á – o orador é sempre melhor quando se inflama, quando irritado. Nada disso. É quando ele finge estar encolerizado. Os comediantes impressionam o público, não quando estão furiosos e sim quando representam bem o furor’.
13. Buraco negro
'Polícia dos buracos negros' descobre primeiro buraco negro estelar 'adormecido' fora da Via Láctea. Esse fenômeno é bastante difícil de ser detectado. “Conseguimos identificar uma agulha num palheiro”. afirmou um astrônomo do projeto. Ciência avança sob os olhos de bárbaros que ainda povoam o planeta.
14. Mais de 200
Há mais de 200 pré-candidatos aos governos de Estado. Campanha mais participativas das últimas décadas.
15. Marketing segmentado
Este consultor tem chamado a atenção dos perfis que se postam na arena eleitoral. Ante o alto grau de organicidade social, a campanha deste ano será a de maior apelo aos grupos organizados da comunidade política. Movimentos, alas, setores, organizações de todas as modelagens – sindicatos, associações, federações, etc-, sinalizam para um marketing segmentado. Ou seja, o discurso com maior eficácia é aquele que se direciona aos grupos organizados, cujas demandas devem receber respostas e compromissos por parte de candidatos.
16. Pasteurização
Após as eleições, a paisagem política deverá ganhar novo ordenamento. O país fechará a era da pasteurização partidária para abrir, em seu lugar, o ciclo de conteúdos claros e doutrinas com substância programática.
17. Imagem do PT
O Partido dos Trabalhadores, seja qual for o resultado das eleições, deverá se submeter a um processo intenso de limpeza de imagem. As velhas mancham – Nós e Eles – ainda deixam milhares de eleitores com receio de ficar sob seu cobertor. Persiste o estigma de partido autoritário. Que deixou manchas fortes no tecido democrático.
18. Alckmin
Geraldo Alckmin, em caso de eventual vitória do petismo, deverá ser o porteiro com a missão de abrir portas no meio do arco ideológico.
19. O modelo Palocci
Diz-se que Lula gostaria, caso ganhe as eleições, de ressuscitar o modelo Palocci, ou seja, colocar um político na economia. Com a finalidade de pacificar a área política. Ora, os efeitos daquela modelagem ainda hoje causam arrepios.
20. Covid-19
A pandemia continua com seus números macabros. Média alta de casos, mortes na faixa de 300 pessoas, diariamente. A pandemia chegou para ficar. Não irá embora de repente. Nossa cultura gera impermeabilização de sentimentos. A morte banalizada.
Fecho com Fernando Pessoa
Se sou alegre ou sou triste?
Francamente, não o sei
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei? ( Sem título- 20-08-1930) Fernando Pessoa
In Jose Paulo Cavalcanti Filho – Fernando Pessoa – o livro das citações. Ed. Record, 2013. RJ/SP