Abro a coluna com uma historinha do comandante Idôneo.
Idôneo, o comandante
Em uma cidade fluminense, o chefe local era um monumento de ignorância. A política era feita de batalhas diárias. Um dia, o chefe político recebeu um telegrama de Feliciano Sodré, que presidia o Estado:
– Conforme seu pedido, segue força comandada por oficial idôneo. O coronelão relaxou e gritou para a galera que o ouvia:
– Agora, sim, quero ver a oposição não pagar imposto: a força que eu pedi vem aí. E quem vem com ela é o comandante Idôneo.
(Historinha contada por Leonardo Mota, em seu livro Sertão Alegre)
A crise - Breves comentários
(Ideias para um papo entre amigos e adjacências....)
- A quadra pós-carnavalesca não consegue esconder o temor que a crise político-institucional, com o perdão concedido ao deputado Daniel Silveira, chegue ao cume da montanha. Para piorar há outras fontes que alimentam a crise.
- O Ministério da Defesa, comandado pelo general Paulo Sérgio Nogueira, em nota, repudiou a fala do ministro do STF, Luis Roberto Barroso, de que as Forças Armadas estariam orientadas a desacreditar nas eleições, por causa de fraudes na urna eletrônica. Fato que se soma ao episódio do indulto.
- A Alta Corte do Judiciário e a Alta Corte governista estão com a expressão prestes a explodir. Mas o Supremo quer adiar qualquer decisão sobre o indulto, e não responder de imediato às demandas partidárias que chegaram à Casa da Justiça.
- Os generais do Palácio do Planalto, a partir do general Luiz Eduardo Ramos, fizeram coro à nota do ministro da Defesa. Ou seja, a cúpula militar se faz presente à mesa de discussão. E teria se alinhado em bloco ao presidente.
- O presidente Bolsonaro, em fala na Agrishow, em Ribeirão Preto/SP, referindo-se à demarcação de terras indígenas (marco temporal, que está em julgamento), disse que se o ministro Edson Fachin não atender o que o governo defende, teria duas alternativas: a) entregar as chaves do Executivo ao STF e b) não cumprir o que o Supremo determinar. Claro, sugerindo que seria esta sua alternativa.
- O quadro da expressão litigiosa se agrava.
- Não é ficção projetar um cenário de endurecimento, mais cedo ou mais tarde.
- O pano de fundo é nossa própria trajetória. Ao longo de sua história contemporânea, o país tem atravessado ciclos sucessivos de democracia e autoritarismo.
- Na área partidária, desde a Independência, o país já teve sete diferentes regimes partidários.
- Um golpe militar criou o Estado republicano, em 1889, surgindo, em 1891, a primeira Constituição. Tivemos um período democrático até a revolução de 30, quando se constituiu o governo provisório de Vargas.
-Depois, tivemos novos atos de força, que geraram o Estado Novo e a Constituição de 1937. Abrimos mais um ciclo democrático com a Constituição de 1946, interrompido pelo golpe militar de 1964 e o regime ditatorial.
- Em 1985, instaura-se a 4ª República, consolidada pela Constituição de 1988, que passou exprimir a emergência dos grupamentos sociais na composição do poder.
- A ciclotimia que tem balizado o sistema político nacional tem muito a ver com a situação de deterioração do país e o consequente estado de ânimo das elites e das massas.
- O regime militar só pegou, porque o ambiente social, conturbado, abria condições para sua implantação. As classes médias acorreram às ruas em passeatas.
- E o que tem isso com a atual situação do país? Hum, tristes lembranças. Não se pode deixar de ver um certo movimento embrionário, recheado de indignação, que agita bases bolsonaristas.
- Tem um razoável contingente que clama pelo endurecimento do regime.
- Brutamontes capazes de fazer falta, ameaçar juízes, blindar amigos e parceiros, cooptar a classe política com recursos do orçamento, enfim, fazer gols violentos podem ser ovacionados pela torcida.
- As forças democráticas estão de soslaio e com muito receio de que as coisas abram um espaço de caos.
Um herói?
- O Brasil está à procura de um herói. Mas o herói procurado não é aquele capaz de operar milagres, um São Jorge de espadas determinado a matar os dragões da maldade. Quem vestiu esse manto, como um ex-presidente alagoano, acabou sendo eleito presidente da República, mas foi tragado pelo tufão social, que forçou seu impeachment, a partir da maré de denúncias e escândalos vazados pela mídia.
- Até outubro, o eleitor estará à procura de um herói. Será que já o encontrou? Se não encontrou, ainda, o eleitor tem cerca de cinco meses para achá-lo.
- Ele não precisa apostar em heróis com a aura dos santos. Basta escolher um protagonista comprometido com os valores da democracia. O eleitor deve examinar os perfis, avaliar o passado, examinar suas propostas para o presente, compará-los entre si e escolher aquele que mais se afina ao ideal pelo qual luta.
- Cuidado, eleitor: não compre gato por lebre. Há muito lobo querendo se passar por cordeiro. E há muito canalha desejando parecer santo.
Ligeiros sinais dos tempos
- A vitória de Emmanuel Macron, na França, permite aos franceses viver mais uma temporada sob a bandeira da democracia. Mas, aqui pra nós, a direita avançou. Marine Le Pen teve desempenho um pouco melhor que no pleito passado. Ficou menos radical.
- O socialista Jean-Luc Mélenchon tem condição de ser o primeiro-ministro? Se fizer maioria nas eleições legislativas que ocorrerão em 12 de julho... A tendência é que seja escolhida por Macron a ministra do Trabalho, uma mulher, Élisabeth Borne. Macron e seu primeiro-ministro, Édouard Philippe, estão verificando os registros tributários e potenciais conflitos de interesse entre os cotados para o ministério.
- A direita cresce aqui, ali e acolá. Um pesado sinal dos tempos. A democracia não tem dado respostas suficientes às demandas sociais.
- Trump foi condenado a pagar 10 mil dólares por dia se não entregar documentos autorizados a vir a público pela Justiça.
- Os generais russos, quando vão despachar com Putin, levam as falas por escrito. Temem errar. Ou gaguejar?
- Quem sai com a imagem arranhada nesses tempos turbulentos e de guerra é ele mesmo, Vladimir Putin, que calculou mal os custos para a Rússia. E recebeu péssima consultoria de seus generais.
- Putin pode tomar uma decisão tresloucada por ver os EUA ajudando a Ucrânia com armas e dinheiro. A conferir.
- Por aqui, com exceção do PT, partidos lançaram candidatos oficialmente. Lula não se pronunciou a respeito do indulto de Bolsonaro e ainda não disse que é candidato do PT à presidência da República. Parece, até, que espera por algo. O que seria?
- Este analista tem ligeira desconfiança (incerteza?) sobre a candidatura de Lula. Um mistério cerca seu aviso, ainda não dado, de que será o candidato.
- Bolsonaro, por sua vez, quer esticar a corda até vê-la esgarçada e prestes a se romper. Sua situação vai depender da economia.
- P.S. Paulo Guedes testou positivo no Covid-19. Era muito prevenido.
- O Centrão irá dar apoio ao presidente Jair até quando?
- João Doria irá até o fim? É determinado, mas tem bom senso. O clima no PSDB está mais para um calor intenso.
- João levou um "bolo" de Luciano Bivar e Simone Tebet. Havia um jantar dos três nessa segunda. Mas o presidente do União Brasil e a senadora do Mato Grosso do Sul não toparam jogar os holofotes ao ex-governador de SP e candidato (por enquanto) do PSDB à presidência da República. Mas sabe-se de um almoço apenas com os presidentes de partidos.
- Eduardo Leite dá mostras de que recuou, deixando o terreno livre para João avançar. Mas se este não sair do lugar?
- O general e ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz pôs seu nome à disposição do Podemos, partido ao qual se filiou.
- Sérgio Moro sinaliza que não será candidato a nenhum cargo. Nem a deputado. Foi engolido pelas circunstâncias.
- Simone Tebet tem conversado muito sobre economia e meio ambiente com grandes economistas e ambientalistas. É determinada. Mas irá até o fim? O tempo dirá...
- A vida voltou ao normal? O Brasil voltou à velha rotina. E se tivermos novos surtos? A vida passou a valer menos? Na visão de muitos contingentes, sim.
- Anita é o furacão brasileiro nas paradas musicais do planeta. A moça tem muita sensibilidade para o marketing.
- O cara fez uma oferta: 41 bilhões de dólares. Os donos do Twitter não aceitaram. "Peraí, é assim? Vocês gostam de dinheiro?" Então, coçou os bolsos e mandou: "aqui estão mais 3 bilhões de dólares". Dobrou os donos e comprou o Twitter. Elon Musk, o homem mais rico do mundo, faz o que quer. Até inventou uma viagem espacial.
- O novo dono do Twitter preside quatro empresas das quais ele é o cofundador. São elas a Tesla (montadora), SpaceX (sistemas aeroespaciais), Neuralink (chips cerebrais) e a The Boring Company (infraestrutura).
- O principal negócio do bilionário é a fabricante de carros elétricos Tesla, que tem como missão acelerar a transição mundial para o uso de energias sustentáveis. Já a firma aeroespacial Space X se tornou a primeira empresa privada a enviar astronautas para a órbita terrestre em maio, numa parceria com a Nasa.
- Uma excentricidade. "Desafio Vladimir Putin para um combate individual. A aposta é a Ucrânia", tuitou Musk. O empresário usou o alfabeto cirílico, utilizado pelos russos, para escrever o nome de Putin e alguns trechos da mensagem.
- Até onde Elon Musk irá?