Porandubas Políticas

Porandubas nº 756

20/4/2022

Abro a coluna com uma historinha do Piauí.

Mão Cheinha era louco e muito querido no Ceará, conta Sebastião Nery. Um dia, levaram-no para o Sanatório Meduna, no Piauí. Mão Cheinha, muito vivo, acabou virando louco-chefe. Tomava conta dos outros e era respeitado por isso. No sanatório, havia um pé de mangueira que nunca dava fruta. Mão Cheinha achava que a mangueira tinha de produzir manga. Chamou oito loucos:

– Olha, minha gente, vocês todos são mangas maduras. Vão lá para cima. Quando eu gritar, as mangas vão caindo, porque manga madura cai. Manga madura sempre cai. Uma a uma. E chispem. Subam.

Os oito subiram. Mão Cheinha, de baixo do pé de mangueira, gritou:

– Manga um!

Pluf! O primeiro louco se esborrachou no chão aos gritos de "ai, ai, ai".

– Manga dois! Manga três! Manga quatro!

Iam se largando lá de cima e arrebentando-se cá embaixo. Gritos e mais gritos. O louco-chefe mandou:

– Manga sete!

Nada.

– Manga sete!

Nada.

– Manga sete, seu p...!

O sete respondeu:

– Mão Cheinha, chama manga oito, pois eu ainda estou verde!

Brevíssimas

Observações para iniciar uma conversação.

-PSDB, seja qual for o desfecho, será um partido fragmentado, desunido, desestruturado.

- Bolsonaro ganha uns pontinhos na intenção de voto por causa do programa de auxílio e ainda porque a vida está voltando ao normal – a pandemia começa a ficar para trás.

- Lula passou a amedrontar por causa de suas recentes falas que lembram o velho Lula de palanque: a classe média é escravista, vai revogar a reforma trabalhista e as bases sindicais deveriam fazer mobilização diante das casas dos parlamentares em vez de gastarem fortunas indo à Brasília.

- Campanha de São Paulo, com Haddad na frente, é um retrato do momento. Rejeição ao petismo em São Paulo é recorde no país. É difícil que o PT eleja Fernando Haddad para governador de SP.

- Federação de partidos é uma alternativa sem futuro. Poucas federações e muita desconfiança. Quatro anos juntos? Para o país, é uma grande temporada.

- Motociatas de Bolsonaro são mais uma opção de passear de moto. Engajamento ideológico é pequeno.

- Estão fazendo comício, aqui, ali e alhures. Não pode haver comício agora. TSE faz de conta que não vê.

- Marcio França, se for ao 2º turno com Haddad, levará a melhor. O mesmo pode ser dito em relação a Rodrigo Garcia, o vice que assumiu no lugar de João Doria.

- Campanhas gastarão a maior grana que já se viu em verbas partidárias. Fundão chega a R$ 5 bilhões.

- PT poderá fazer a maior bancada de deputados Federais.

- MDB, que liderou a lista de maior partido desde a eleição de 1986, perde o trono. Sai fragmentado.

- Baleia Rossi é bem articulado e tem conseguido segurar o partido. Mas as velhas raposas do MDB já tomaram seu rumo.

- As mulheres terão boa votação na campanha. Este analista projeta aumento da bancada feminina.

- As bancadas especializadas – agronegócio, profissionais liberais, policiais, mulheres, negros etc. – tendem a adensar sua representação em função da maior organicidade social.

- São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro formam o chamado Triângulo das Bermudas e decidirão o pleito. São Paulo, sozinho, tem 35 milhões de votos.

- Alguns nomes são considerados puxadores de votos: Boulos em São Paulo; Dalagnol no Paraná; Datena em São Paulo; Roseana Sarney (MA); José Serra, em SP; José de Abreu (ator) (será candidato?); cantor Netinho, na Bahia; ex-governador Fernando Pimentel, em MG; Eduardo Bolsonaro (?) em SP, entre outros. Observação: é possível haver muita decepção.

-Tem, ainda, a bancada bolsonarista de raiz: Zé Trovão (líder dos caminhoneiros); Mayra Pinheiro, ex-secretária da Pasta da Saúde, conhecida como capitã Cloroquina; Nise Yamaguchi, que integrava o gabinete paralelo no Ministério da Saúde; Queiroz, o operador da rachadinha. Interrogação: o ex-deputado Eduardo Cunha voltará? Dizem que sua filha ocupará o lugar do pai como candidata no RJ.

- Eleição muito provável é a do ACM Neto ao governo da Bahia. O baixinho está bem situado.

Breves

Neste bloco, vamos tentar desenhar as paisagens que começam a se desenhar nos horizontes:

1. O fim de um ciclo – O país ainda não se libertou do ciclo autoritário. Bolsonaro consegue reviver problemas antigos. Tanto que os vídeos vazados do Supremo Tribunal Militar levantam as feridas e mortes da tortura. O tema tem passaporte para trilhar o discurso eleitoral. Campanha polarizada pegará fogo.

2. A família Bolsonaro – Fincou-se como uma forte estaca eleitoral. O mais radical, o deputado Federal Eduardo Bolsonaro, acaba de colocar Brilhante Ustra na galeria de seus heróis. Muita gente acredita nessa hipótese. Um torturador acabará ajudando ao deputado Bolsonaro se eleger mais uma vez com uma grande votação? Coisas da política brasileira.

3. Desconhecimento – Quanto a situações negativas envolvendo outros filhos, o presidente aprendeu com os caciques da velha política: faz tempo que não converso com o Renan (o número 4). Não sei o que faz. Foi mais ou menos esse o sentido de sua expressão sobre o filho, que mora com a mãe. Ora, isso até pode ser verdade. O que significa em outros termos: não controlo a vida de nenhum filho. Só faltaria dizer: que Renan, Renan? O Calheiros?

4. Joyce e Janaína – Ninguém atravessa um rio no mesmo lugar. Tanto Joyce Hasselmann quanto Janaína Paschoal não terão as mesmas votações extraordinárias da eleição de 2018. As águas do rio são outras.

5. A caciquia – Os caciques do MDB e de outros partidos não terão o poder de mando de outros tempos. Não elegerão facilmente seus apadrinhados. Mesmo o maior deles, o ex-presidente José Sarney, está debilitado. Renan Calheiros vai apoiar Lula em Alagoas. O voto de Lula no Estado já é dele, de Luiz Inácio, há muito tempo. Renan Filho é candidato ao Senado.

6. Sinais de renovação – Vai haver certa renovação, sim, nas casas legislativas. Mas não devemos esperar por uma grande mudança. O eleitor brasileiro é, no final das contas, mais conservador do que renovador.

7. Requião – O ex-senador Roberto Requião quer voltar ao governo do PR, governado por Ratinho Júnior. Este aposta em Bolsonaro. Requião, até que enfim, encontrou o partido onde sua linguagem é bem aceita.

8. O PT no RN – Fátima Bezerra, governadora, pode se reeleger pelo PT por ter liderado bem a política no Estado e porque os eventuais opositores estão com receio de enfrentar o poder da máquina. Fátima não tem adversários à altura. Ou tem? Apareceu um corajoso.

9. Fábio Dantas, do Solidariedade, ex-vice governador, será o candidato das oposições ao governo do RN. Na chapa ao Senado, estará o ex-ministro e ex-deputado Rogério Marinho. Fábio se convenceu de que o cavalo está passando na sua frente, pronto para uma corrida. Tem boa estampa e fluidez de pensamento. Impregna-se do "novo". Comenta-se que tem boas chances. A conferir.

10. O PT deverá fazer a maior bancada de deputados Federais. E fará uma bancada que dominará a política nos Estados. Será seu reencontro com a história. Será o último ciclo de importância no partido? Vai depender da saúde de Lula.

11. Luciano Bivar, do União Brasil, fechou uma Federação de Partidos. O problema que enfrentará: capital político para administrar todas as demandas que chegarem à sua mesa. A Federação que o PT fechou com o PV e o PC do B (Brasil da Esperança) já foi registrada em cartório.

12. O vice Mourão - Hamilton Mourão, o vice-presidente da República, será candidato a senador pelo RS. Terá de aprender discurso de palanque. E expressar o desejo de ser eleito. Mourão parece um ser superior. E ultrapassou os limites do bom senso, ao gracejar com a tortura. (Ver os áudios vazados do STM).

13. Kassab – Gilberto Kassab, presidente do PSD, deverá ter maior influência na política. Sabe articular, ouvir e administrar bem as pressões. Seja quem for o eleito, estará bem na próxima administração.

14. João Doria sempre foi determinado. Mas, nos últimos tempos, deixou a ponderação de lado. Se não se eleger, tchau. A política não perdoa. Recuperar um partido cindido é tarefa para um gigante, mas João ainda não tem esse corpo. Deixaria de ser candidato dando lugar a outro? Hipótese descartada... mas em política, o impossível acontece.

15. O melhor e mais competente consultor de João Doria é o ex-prefeito de Salvador e ex-governador da Bahia, Antônio Imbassahy, que tem feito o que pode. Um grande praça e um ótimo cabo eleitoral. Sério.

16. Fernando Haddad, voz corrente, está a um passo do Palácio dos Bandeirantes. Este analista, porém, ainda não acredita nesta hipótese. Vamos ver mais adiante.

17. Milton Leite é presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Tem votos distritais, regionalizados. Qualquer boa aliança em São Paulo, capital, passa por suas decisões.

18. Simone Tebet não aceitará a posição de vice numa chapa presidencial, seja com Eduardo Leite ou outros. Simone é determinada. Tem um sonho. E é firme no seu ideário com o pai, Ramez Tebet.

19. Geraldo Alckmin cometeu a maior dissonância cognitiva de sua vida. Aos gritos, aos gritos (repito), fez elogios ao maior líder popular do Brasil – Lula. É um fato. Mas Alckmin gritando no microfone não combina com a imagem apaziguadora do ex-governador. Este analista de Porandubas, que tem em Alckmin um dos seus leitores semanais, teve de se beliscar para constatar que não era um sonho.

20. Onde está José Dirceu? Trata-se do quadro mais preparado do PT, sem querer entrar na polêmica de problemas na Justiça. Zé Dirceu foi o maior responsável pelo amadurecimento do PT. Domina muito bem a moldura política. Deve estar articulando por aí...

21. O Triângulo das Bermudas - Conhecida como a área que produz ciclones e derruba aviões, na região do Caribe, o Triângulo das Bermudas é o território que elegerá o próximo presidente. Juntos, SP, MG, RJ e ES tem mais de 50% dos votos do país. Só SP tem cerca de 35 milhões de votos, seguido de MG, com quase 20. Anotem.

22. Tempos de Odorico Paraguaçu, em Sucupira: compras de viagra e próteses penianas para o Exército. Este analista pensou que era uma pegadinha. Dias Gomes, o saudoso novelista, está gargalhando no túmulo.

23. FMI revisa para cima estimativa de crescimento do Brasil e corta previsão global.

Tirano

Maquiavel conta no Livro III dos Discursos sobre os primeiros 10 livros de Tito Lívio a história de um rico romano que deu comida aos pobres durante uma epidemia de fome e que foi por isso executado por seus concidadãos. Argumentaram que ele pretendia fazer seguidores para tornar-se um tirano. Essa reação ilustra a tensão entre moral e política. Mostra que os romanos se preocupavam mais com a liberdade do que com o bem-estar social.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.