Abro Porandubas com o espetacular Ariano Suassuna, o famoso autor de Auto da Compadecida e grandes aulas sobre o conhecimento humano. Antes, um parêntesis. Este escriba tem o maior respeito por suas leitoras e leitores. A historinha de hoje não sinaliza desrespeito, tão somente um exemplo dos "causos" hilários protagonizados por Ariano, que incluo na categoria tão celebrada por Vergílio na Eneida: "poetis et pictoribus omnia licet" ("Aos poetas e pintores, tudo é permitido").
Dito isto, vamos à historinha.
O escritor pernambucano Ariano Suassuna (1927-2014) estava terminando a aula quando certo estudante, tatuado, jeitão de hippie, óculos redondos, bolsa com franjas e chinelo de couro, faz a pergunta respondida de pronto:
— O senhor não acha que o rock é um som universal?
— Meu filho, som universal só conheço três: arroto, espirro e peido.
A estrela do bolsonarismo
Olavo de Carvalho, a estrela que brilha nas mentes bolsonaristas, desaparece aos 74 anos de idade. Era um descrente da Covid e das vacinas. Perdeu para o vírus, que deve ter se aproveitado do conjunto de comorbidades do guru. Foi embora do Brasil por descrédito na política e esperançoso de que, longe, poderia fazer "uma igreja" com seus crentes. Nunca polemizei com o "filósofo", que massacrava todos aqueles de quem discordava.
Certa vez
Certa vez, deparei-me com um artigo de Olavo disparando flechadas contra esse escriba. Não entendi a razão. Fiz, ao longo de minhas análises políticas, severas críticas ao lulismo. Nunca li na cartilha de Lula. Mas sempre reconheci seu valor e sua persistência na política. Olavo foi duro, considerando-me um lulista. Risos. Leu errado. Era de sua índole questionar tudo e todos. Não respondi. Morreu sem minha resposta. Descanse em paz.
E agora?
Pergunto-me: e agora, o que poderá ocorrer com a leva de crentes que liam nas páginas do guru? Continuar a desacreditar na Covid? Dizer que morreu de causas naturais? E os fiéis ex-ministros Abraham Weintraub, da Educação, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores? Aliás, o que fará Weintraub? Candidato a que? Deputado Federal por São Paulo, talvez esta seja sua melhor opção.
Viabilidade
Só para lembrar os fatores que explicam a viabilidade de um governo, segundo Carlos Matus, ideólogo chileno: a) a viabilidade política; b) a viabilidade econômica; c) a viabilidade cognitiva e d) a viabilidade organizativa. Bolsonaro acertou os ponteiros da viabilidade política, com o apoio do Centrão. Está perdido na questão da organização de seu governo, com ministros o desajudando. Está carente na viabilidade econômica, com o PIB sendo rebaixado pelo FMI. E quanto à viabilidade cognitiva, também fica a dever, com a montanha de dúvidas que persistem e obscurecem a identidade do governo. Afinal, o que quer e para onde pretende levar o país?
O que espera Bolsonaro?
Afinal de contas, quais os trunfos que se escondem na cabeça do Bolsonaro? O programa Auxílio Brasil? Recuperação da economia? Capacidade de Carlos Bolsonaro fazer milagres nas redes sociais? Ora, o filho Eduardo, o deputado Federal, está sendo isolado da campanha por seu radicalismo? Em política, tudo é possível. Mas, mesmo como reconhece a Bíblia, será difícil passar um elefante no buraco de uma agulha.
Lula
E Luiz Inácio, hein? Da esquerda do "vira a mesa", dos velhos tempos da luta de classes, Lula agora vira um perfil que quer atrair os integrantes do centro e até da direita. E até, tu, Geraldo Brutus? O que te impressionou a ponto de apagar tudo que disseste de Lula e fazer de conta que ambos são amigos desde os tempos dos primeiros passos? O que a política não faz, hein?
Matreirice
Lula transformou-se em renomada raposa da política. Matreiro como jamais foi. Uma espécie de José Maria Alkmin dos tempos de outrora. Conhecem esta?
O milagre de Fátima
José Maria Alkmin, a raposa mineira, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber o que era.
– Água milagrosa de Fátima.
– Mas tudo isso?
– Lá em Minas o pessoal acredita muito nos milagres da água de Fátima. Não dá para quem quer.
– O senhor pode desenrolar?
– Pois não, meu filho.
– Mas, deputado, isso é uísque.
– Ué, não é que já se deu o milagre?
Pico da contaminação
O pico da contaminação está à vista. Teremos novamente a avassaladora onda de contaminação que persistiu por ocasião da variante Delta no ano passado. Espera-se que tudo volte ao normal? Sonho. O desespero está nos estabelecimentos hospitalares, onde faltam insumos e mão de obra para enfrentar a onda da Ômicron. Quem entrou em hospital ou conversa com profissionais da saúde sabe o tamanho da encrenca.
Tasso e Simone
Tasso Jereissati está sendo procurado por Lula para papear sobre sua adesão ao candidato petista. Esse analista não acredita que Tasso embarque nessa. E Simone Tebet, Tasso? Quem sabe ela não dá um salto? Quem sabe, cai a ficha de milhões de brasileiros que desejam aposentar o radicalismo? Fui amigo de Ramez Tebet. Um dos perfis mais dignos que este escriba conheceu em sua vida profissional de comunicação política. Simone é uma política de respeito. Já provou ser uma grande administradora. Foi prefeita de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, onde deixou um rastro forte de sucesso.
E se o bicho for longe...
E se o vírus Ômicron não sair da paisagem e continuar no pano de fundo da campanha eleitoral? A radicalização tende a se intensificar. A conferir.
Federações
As federações partidárias constituem uma solução para clarear a política. Partidos com um mesmo tronco identitário tendem a se unir, ficando mais fácil ao eleitor compreender os espaços do arco ideológico, direita, centro-direita, centro, centro-esquerda, esquerda. Os partidos se comprometem a passar quatro anos juntos. Distribuição correspondente aos espaços midiáticos e recursos partidários. Se um quiser sair, as federações precisam contar com pelo menos três protagonistas. A política mais clara permitirá escolher por conteúdos e programas ideológicos.
SP e MG
Olhem o que pode acontecer com Minas Gerais, que é uma síntese do Brasil, uma banda virada para o Nordeste, outra banda virada para o Sudeste. E o carro-chefe da Federação, São Paulo?
O interiorzão
Este analista costuma conversar com eleitores do fundão do país, em sua maioria, eleitores fanáticos de Bolsonaro, que não se cansam de conclamar: "aqui, Lula já era. Bozo ganha de lavada". Podem até acertar suas previsões. Mas nos centros médios e avançados, o voto em Bolsonaro se esvai, diminui, seca a olhos vistos. A não que ser que nossos olhos não consigam mais enxergar bem. Estou há 40 anos olhando para a paisagem.
Fecho a coluna com a fama dos políticos.
Ninguém tem provas
Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso.
— Muito prazer! — diz ele.
— O prazer é meu! Saiba que já ouvi muito falar do senhor!
— É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas!