Porandubas Políticas

Porandubas nº 733

Um breve olhar sobre a política e seus contornos.

29/9/2021

Abro a coluna com uma historinha que me foi contada pelo ex-senador Ramez Tebet, saudoso amigo.

Por ocasião da criação do Estado do MS, em 1979, a população de Campo Grande ficava assombrada com a caravana dos 17 grandes carrões pretos dos deputados estaduais que paravam diante da Assembleia Legislativa. Os carros ganharam logo o nome de "besourão" e, ao passarem pelas ruas, as pessoas logo faziam o sinal da cruz, na tentativa de afastar o medo daqueles carros que mais pareciam transporte de defunto. Ninguém se atrevia a andar num carro daqueles. Até que um dia, ao comparecer ao velório de um correligionário, numa cidade do interior, dirigindo um desses carros, o então deputado Ramez Tebet teve que atender ao pedido da família do defunto. Queriam por que queriam que o defunto fosse levado naquele carro. Nessa hora, não dá para negar. E lá vai o deputado carregando o caixão de defunto em seu "besourão". A história se espalhou por todo o Estado. Assim a fama negativa do carrão preto foi dissipada. O "besourão" passou a ser visto com outros olhos. A boa fama só veio, por incrível que pareça, depois de ter conduzido um defunto.

Panorama geral

Comecemos a coluna com um breve olhar sobre a política e seus contornos. Quem esperava um novo estilo Bolsonaro de ser acabou vendo o mesmo governante. Na ONU, fez um discurso com foco nos simpatizantes. Foi um périplo péssimo para a imagem do país. Na esfera parlamentar, o vai que vai à moda maria-fumaça. Muita fumaça e pouco fogo. Acomodação geral, com pautas que se perpetuam. Arthur Lira trabalha com um olho na reeleição para a presidência da Câmara. E parece enguia ensaboada quando se trata de matéria de interesse governista. Augusto Aras voltou à PGR, com jeitão independente, mas voltando ao estilo de bater continência ao constatar que pode ser o plano B de Bolsonaro para o STF, caso André Mendonça não emplaque. Impressão geral: tudo d'antes no quartel d'Abrantes.

Pergunta recorrente

O relatório da CPI da Covid-19, a cargo do relator senador Renan Calheiros, será encaminhado ao PGR, Augusto Aras, que, segundo o presidente Omar Aziz, de tão substancioso, não terá o destino da gaveta. Alguma providência será tomada, incluindo o presidente Jair Bolsonaro. Será encaminhado também ao STF e, segundo alguns juristas, ao Tribunal Internacional de Haia. Se metade das expectativas se confirmarem, o restante do ano terá esse tema como um dos pilares centrais da política. Quem acredita em punição do presidente da República, levante a mão: um, dois, cinco, sete.......só?

Aras com cara de paisagem

A dúvida começa com o PGR, Augusto Aras. Dará andamento ao relatório?

Insatisfação cresce

Some-se a avalanche das crises - a econômica, sanitária (que deve furar o ano novo), política e energética – e veremos o impacto sobre a população. O Auxílio Brasil poderá atenuar efeitos, mas a alta de alimentos e o preço da gasolina são combustíveis de fácil explosão. O presidente vai correr o país para comemorar seus mil dias de governo. Ouvirá impropérios mais que aplausos. Deus é brasileiro, mas nessa hora manda seus arcanjos tocarem a trombeta anunciando tempos de vacas magras. A conferir.

Fusão DEM-PSL

A fusão do DEM e do PSL poderá resultar no maior partido de direita do país. ACM Neto é o pai da ideia. E sua intenção é direcionar o partido na direção de Bolsonaro. O Brasil está mudando de feição e índole, mas Neto mais parece um barão das antigas, cioso dos limites de sua propriedade. Quer tomar o lugar do Centrão no latifúndio governamental. Há interesse de muita gente, mas essa fusão tende a ser uma grande confusão.

Pacheco e Alckmin

Rodrigo Pacheco tem um pé dentro do PSD de Kassab, que lhe prometeu a condição de vir a ser o candidato do partido à presidência da República em 2022. Geraldo Alckmin está também com um pé dentro do PSD. Seria candidato de Gilberto Kassab ao governo de São Paulo. Tem boas condições de se eleger. Sabe costurar tecidos esgarçados. Mas é precavido. Quer tomar mais pulso antes de uma decisão. P.S. Pacheco agregaria o adjetivo de "novo" e Alckmin simbolizaria o "experimentado".

André Mendonça

O "terrivelmente evangélico" André Mendonça deverá ser sabatinado nas próximas duas semanas. Davi Alcolumbre, o presidente da CCJ, a quem cabe a prerrogativa de convocar a sabatina está sendo vencido pela pressão de colegas. E garante que Mendonça não passa em plenário. Sei não. O governo conta com mil e um instrumentos de cooptação. Despertaria muita curiosidade o desempenho do pastor junto às dez cobras criadas do Supremo.

Relatório CPI no arquivo

Se o relatório da CPI da Covid-19 for para o arquivo, o que poderia acontecer? Muito palavrório com tendência à acomodação.

Vacina primeira-dama

A primeira-dama Michele Bolsonaro tomou vacina nos Estados Unidos. Uma estocada no SUS. Vir com a desculpa de que foi por insistência das autoridades norte-americanas não colou. Vacina no Brasil ganha marca de descrédito?

FFAS não cumpririam ordens?

Em entrevista à Revista Veja, Bolsonaro diz que possibilidade de golpe tem chance zero. E que as Forças Armadas não cumpririam uma ordem que destoasse da Constituição. Uma confissão ancorada em bases reais ou intenção de embaralhar o jogo? As Forças Armadas estão, sim, profissionalizadas. Mas há contingentes que rezam a cartilha bolsonarista. Quanto a golpe, só mesmo se o povo for em massa às ruas.

Prévias tucanas

João Doria corre o Brasil fazendo sua campanha para as prévias. Tem condições de levar a maioria dos diretórios. Eduardo Leite, governador do RS, é o azarão. E pode surpreender. Corre um certo sentimento de mudança nas veias dos participantes. Mas Doria é determinado e persistente, além de contar com a competente consultoria de perfis de primeira grandeza, como Antônio Imbassahy, ex-prefeito, ex-governador da Bahia, ex-ministro e ex-deputado. Um perfil admirado e respeitado.

Carta aos Brasileiros I

Há 44 anos, o jurista Goffredo da Silva Telles Jr., falecido no dia 27 de junho de 2009, dando vazão ao sentimento da sociedade brasileira, foi convidado para ler a Carta aos Brasileiros. O país abria as portas da redemocratização. Hoje, o Brasil vive sob o Estado de Direito, mas vegeta sob o Estado da ética e da moral, com um mandatário-mor que nega a ciência, é responsável pela pior gestão da pandemia de coronavírus 19 do planeta, e faz um vergonhoso discurso na abertura da ONU, privilégio que, historicamente, cabe ao Brasil desde 1947. Anos depois o professor Goffredo confessava ter vontade de ler uma segunda carta, desta feita para conclamar pela reforma política e por uma democracia participativa, em que os cidadãos votem em ideários, não em fulanos, beltranos e sicranos.

Carta aos Brasileiros II

Em setembro de 1993, na segunda Carta aos Brasileiros, o mestre Goffredo escolheria como núcleo a reforma política, eixo da democracia participativa com que sonhava. Mas falta disposição aos congressistas para fazê-la. Em 2022, Lula da Silva também leu sua Carta aos Brasileiros, onde pregava uma nova prática política e a instalação de uma base moral. Sabem qual a primeira palavra do discurso de Lula na posse? Mudança. Nada disso foi cumprido. O país continua ser um deserto de ideias. Um renomado homem de letras, imortal da ABL, sugere que os protagonistas do momento – todos os pré-candidatos à presidência – assinem uma nova Carta aos Brasileiros, explicitando seu compromisso com o rol de temas alinhados. É uma boa ideia.

Covid-19 dominada?

Há um vago sentimento de que a Covid-19 foi dominada e vive seus últimos momentos. Será? Os números apresentados diariamente pelo consórcio de mídia confundem e impõem muitas dúvidas.

Seca e nuvens de terra

O país vive um dos mais secos tempos de sua história. Correntes de terra nascem e sobem aos céus de nossas cidades, em um prenúncio de que teremos encontros com apagões logo mais. Cidades turvadas por nuvens de terra emolduram cartões postais de nossas plagas.

Petrobras

Bolsonaro diz que se reuniu com o ministro das Minas e Energia para discutir fórmulas que pudessem baratear o preço da gasolina. Imaginou o presidente algo em torno de R$ 4. Pois bem. Logo a seguir, o presidente Luna, da Petrobras, disse que nada iria mudar. Conversa e desconversa.

A forca mais alta

"Canuto, Rei dos Vândalos, mandando justiçar uma quadrilha, e pondo um deles embargos de que era parente del-Rei, respondeu: Pois se provar ser nosso parente razão é que lhe façam a forca mais alta." Padre Manuel Bernardes

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.