CHINAGLIA E DIRCEU
Arlindo Chinaglia, no debate da TV Câmara, disse que não tem compromisso com a anistia ao ex-deputado José Dirceu. Balela. Até porque Dirceu tem todo o direito de levar adiante a intenção de usar o expediente constitucional da iniciativa popular, pelo qual qualquer cidadão pode apresentar projeto de lei à Câmara Federal, se tiver o lastro de 1 milhão e 200 mil assinaturas. Portanto, qualquer presidente da Câmara, seja Chinaglia, Aldo Rebelo ou Gustavo Fruet, terá de dar provimento a este instrumento de nossa democracia direta. Aliás, José Dirceu continua a agir intensamente, conversando com ministros e assessores, reunindo-se com empresários, fazendo, enfim, o que sabe fazer com competência: articular. Roberto Jefferson, que abriu a crise do mensalão, se diz contrário ao pedido de anistia do ex - todo poderoso chefe da Casa Civil. Besteira. Ele também poderá se valer deste direito. Qualquer expressão contrária a um projeto de lei de iniciativa popular é anti-democrático. A questão não é esta, mas a aprovação ou rejeição do pedido pelo plenário da Câmara. Aí são outros quinhentos.
SERRA E AÉCIO
O governador José Serra foi o primeiro a abrir os horizontes de visibilidade com
vistas a luta presidencial de 2010. Fez-se presente na solidariedade às vitimas do trágico acidente da linha 4 do Metrô paulista, garantindo às famílias pronta ação do Estado se as concessionárias regatearem ou protelarem o pagamento das indenizações a que têm direito. Abriu o bico contra o PAC, anunciado com estardalhaço por Lula. Um a zero para Serra. Mas Aécio Neves decidiu agir. Fez-se presente à reunião de governadores, em Brasília, para reivindicar participação dos Estados no bolo. Querem algo como R$ 15 bilhões que sairiam de receitas federais (DRU, Cide e CPMF). Falou forte como porta-voz dos governadores presentes, inclusive alguns do próprio PT. Marcou um tento e empatou o jogo com José Serra.GOVERNISMO RACHADO?
Seja Chinaglia ou Rebelo o novo presidente da Câmara, os sinais indicam forte racha na base governamental. Os petistas não gostaram de ouvir de Aldo Rebelo a acusação de que a democracia brasileira estaria ameaçada com tanta concentração de poder, caso Chinaglia viesse a ocupar o terceiro cargo na linha de sucessão presidencial. PC do B e PSB, mais que fechados, não assistirão impassíveis a uma administração petista na Câmara e dizem que não querem ser compensados com Ministérios. É ver para crer.
ALCKMIN CHAMUSCADO?
Geraldo Alckmin viajou para a "quarentena" nos Estados Unidos onde fará cursos de política e sociologia em Harvard. É uma curva a que todos os perdedores apreciam fazer antes de retornar à reta da política. Mas ele desaparece de cena por alguns meses – voltará em julho – deixando no ar a seguinte dúvida: saiu ou não chamuscado do episódio com a cratera que vitimou sete pessoas, responsável que foi pela contratação do consórcio? Resposta: é pouco provável que o eleitor o aceite como culpado por ocasião do processo eleitoral de 2008, quando os opositores tentarão incriminá-lo. O povo tende a acreditar que este tipo de acidente ocorreria com qualquer governante. Portanto, a ser esse o discurso da oposição, tenderá a cair no vazio.
SERRA COM KASSAB
O governador José Serra tem todo o interesse em incentivar a reeleição para a prefeitura de São Paulo. Os serristas não esqueceram o movimento comandado por Alckmin que o tornou candidato tucano à presidência da República. É visível o muro de Berlim que separa os dois grupos. Por isso, Serra se empenhará fortemente na candidatura Kassab. Mas se defrontará com a barreira intransponível que define os limites de uma candidatura: pesquisa eleitoral. Alckmin estará seguramente à frente de todos os outros candidatos. Pelo menos, num primeiro momento.
KASSAB, O ARDILOSO
Sabe-se que o prefeito Gilberto Kassab é um dos melhores articuladores do pefelismo. Desconhecia-se, porém, a face ardilosa do vice de José Serra na prefeitura. Ao reduzir a margem de tolerância dos radares para a aplicação de multas, sem comunicar a população de maneira apropriada – com campanha de esclarecimento de opinião pública –, o prefeito Gilberto permite o infame trocadilho que seu sobrenome permite: "com Kassab, nunca se sabe". Como a população detesta incertezas, o que se sabe é que sua candidatura esbarrará no limite da intolerância popular. Falta a Kassab a principal virtude do governante: sensibilidade.
COM FERRO E SEM CARISMA
Dilma Rousseff, a poderosa ministra-chefe da Casa Civil, pode até ser chamada de dama-de-ferro, mas não possui nenhum carisma. A linguagem que usa mesmo em ocasiões solenes – como o famoso “teje” – aumentará o borrão sobre o seu perfil. Quem acredita que será pré-candidata à presidência da República em 2010, terá a mesma chance de ganhar sozinho um prêmio de 50 milhões na Mega-Sena. Fato que, é bom lembrar, não é de todo impossível, mas é muito difícil de acontecer. Curiosidade: dona Dilma, aliás, com todo respeito, com seu jeito ranzinza parece até a sogra que ninguém quer ter.
PDT E PTB: PARA ONDE IRÃO?
Uma certeza: se Jefferson continuar na presidência do PTB, o partido será destroçado, com fugas parlamentares em direção a outros partidos da base aliada como o PR, do vice José Alencar. Para manter a presidência partidária, o homem que pôs fogo no mensalão precisará, com nervos de aço, epíteto musical de sua predileção. Tudo indica que ficará a ver navios. Quanto ao PDT, o mais provável é a acomodação do senador Cristovam Buarque na presidência da Comissão de Educação do Senado Federal, dentro de uma negociação de gosto governista, e a manutenção de uma postura de independência do bravo senador Jefferson Peres. Na esfera dos deputados, a sinalização aponta para uma aproximação ao ninho da situação. Nada resiste à irresistível força do poder central, principalmente grupos que não rezam com convicção por nenhuma cartilha ideológica.
LULA E A DEMOCRACIA
Demorou, mas Luiz Inácio, de tanto ouvir conceitos estapafúrdios de Hugo Chávez, acertou no alvo ao combater a vocação antidemocrática do populista que se considera o legítimo herdeiro de Simon Bolívar. Lula simplesmente mandou dizer a Chávez que uma verdadeira democracia não faz concessões a manobras autoritárias. Se o discurso foi "para inglês ver", é o que veremos mais na frente quando os dois, testa a testa, se encontrarem nos periódicos encontros de ambos. Lula poderá dizer que não queria dizer aquilo e Chávez poderá garantir que não ouviu o que seguramente ouviu.
INVESTIMENTO EM BURACO
O governo tem dito que só irá tapar os buracos quando terminar a temporada de chuvas. Todos os dias, a mídia escancara o "Custo Brasil da Buraqueira". E faz pouco tempo que o governo propagou, em campanha de opinião pública, que estava transformando o queijo suíço das estradas em queijo prato. Ou seja, gasta uma montanha de dinheiro em buracos, que receberão, meses depois, mais recursos. Buracos sempre profundos. Dinheiro que sai do bolso do povo.
E A ELEIÇÃO ALAGOANA, HEIN?
A eleição alagoana, que elegeu governador o tucano Téo Vilela, está sob averiguação. E se for comprovada fraude no processo, quem acredita que dará resultado? Uma pedra do jogo chama-se Renan Calheiros, que deverá presidir novamente o Senado. Foi o principal aliado de Vilela. Renan não deixaria o fogo se alastrar por receio que as chamas cheguem a sua pele.
ZECA, GRANA GARANTIDA ATÉ MORRER
Zeca do PT, ex-governador do Mato Grosso do Sul, ganhou um presentão dos deputados estaduais: pensão vitalícia de R$ 22,1 mil. A ética de Zeca do PT é a ética do PT do mensalão. Vamos ver se a ação da OAB contra a pensão de Zeca terá sucesso.
DORIA, UM ORGANIZADOR
João Doria Jr., o polivalente da comunicação brasileira, acaba de ser perfilizado pela Revista Veja. Merece. João é inteligente, agregador, afável, líder e espirituoso. E é mágico na arte de ganhar dinheiro. Arte que 180 milhões de brasileiros gostariam de dominar. Eu mesmo bem que tentei ser seu aluno número um, mas só consegui inscrição para a próxima encarnação. E mesmo assim entrei no último lugar da lista.
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