Porandubas Políticas

Porandubas nº 690

A vitória de Biden deixará o Brasil isolado da comunidade mundial; já a vitória de Trump garante fôlego ao país e animará as bases bolsonaristas na caminhada até outubro de 2022.

4/11/2020

Abro a coluna com o Ceará das boas histórias.

Está distituído

O major José Ferreira, cearense dos bons, amigo do padre Cícero, é quem relata: "Há muito matuto inteligente e sagaz, mas também há muito sujeito burro que, se a gente amarrar as mãos dele pra trás das costas, não sabe mais qual é o braço direito nem o esquerdo... Eu também conheço matuto que, abrindo a boca, já sabe: ou entra mosca ou sai besteira."

O major continua a conversa: "Quando foi criado o município de Missão Velha, a escolha do primeiro intendente recaiu num velho honrado, benquisto e prestigioso, mas muitíssimo ignorante. Cabia-lhe o encargo de declarar instituído o município. Um dos "língua" do lugar seria o orador oficial. Ele, o chefe do Executivo municipal, deveria dizer simplesmente: "Está instituído o município de Missão Velha!". Levou quinze dias decorando a frase, e, na ocasião da solenidade, exclamou: "Está DISTITUÍDO o município de Missão Veia."

A eleição bomba

No momento em que escrevemos esta coluna, o clima de fim de mundo toma conta dos EUA. Biden ou Trump? Já se disse praticamente tudo a respeito dos efeitos da vitória de um ou outro sobre o conjunto das nações e sobre a democracia. Trump, populista e demagogo, em defesa de teses conservadoras. Biden, veterano da política e comprometido com os eixos da democracia. As circunstâncias cercam esta eleição, principalmente a gestão da pandemia e os tristes eventos envolvendo a comunidade negra, culminando com a morte de afrodescendentes.

A nossa democracia

A observação é unânime na pauta dos analistas: a vitória de Biden deixará o Brasil isolado da comunidade mundial; a vitória de Trump garante fôlego ao país e animará as bases bolsonaristas na caminhada até outubro de 2022. Bolsonaro fará o que estiver a seu alcance para continuar no assento presidencial, mesmo sob a teia de problemas que fechará muitas portas de seu governo: a questão da economia, o meio ambiente, os generais sob puxão de orelhas, a administração da vacina contra a Covid-19, as relações comerciais, o fechamento de fronteiras ao Brasil.

Trafalgar errou?

Perdeu ou ganhou? Ontem, li que, ao contrário dos institutos americanos, a consultoria Trafalgar Group prevê vitória de Donald Trump contra o democrata Joe Biden na eleição desta semana. A empresa é conhecida por divulgar pesquisas mais amigáveis aos republicanos. Em seu site, o Trafalgar afirma que teria acertado o sucesso de Trump nas eleições de 2016. Em favor do Trafalgar, há previsões realizadas em 7 de novembro no Twitter, um dia antes da eleição de 2016. Nelas, a empresa apontou vantagem de Trump sobre Hillary em Michigan e na Pensilvânia, onde a maioria dos institutos errou. Agora, mais uma vez, a consultoria calcula que o republicano está na frente de Biden nesses Estados, com margem de 48,3%-45,8% e 47,8%-45,9%, respectivamente.

Centrão disperso

Não será fácil para o governo conseguir formar uma base uníssona, firme, capaz de lhe dar todo conforto no que concerne a projetos de interesse do Palácio do Planalto. A esfera política se assemelha a uma peneira. Há muitos furos onde pode vazar água, apoio. Ademais os dados da economia refletirão o estágio do planeta em matéria de recuperação do sistema econômico, fragilizado com a pandemia. Teremos sinais de melhoria para mais adiante, mesmo que as atividades rotineiras do comércio, da indústria e dos serviços sejam retomadas. O país estará na corda bamba, entre o risco da gastança, com a quebra do teto de gastos, em atendimento à política, e o desafio de garantir acesso limitado aos cofres do Tesouro. O Centrão nunca será uma unidade.

A bola na meia-esquerda

Os exercícios futuristas no campo da política indicam que a bola tem condições de correr em três direções: 1) no meio, quando os jogadores taticamente jogarem a pelota para um centroavante de muito fôlego correr sem ser derrubado até o gol; 2) pela direita, sob o clima intensamente favorável ao governo Bolsonaro, com a economia dando saldos positivos e o povo de bolso suprido. O problema é saber se o presidente, candidato à reeleição, terá a habilidade de Garrincha, capaz de driblar os melhores zagueiros do mundo; 3) a bola pode ser conduzida por um meia-esquerda, um craque capaz de sair de seu espaço, correr também pelo centro, pela esquerda e até pela direita. Claro, se tiver a habilidade de Pelé.

Extrema-esquerda? Nunca

Sob qualquer cenário, inclusive uma paisagem desoladora, não se deve apostar em bola correndo pela ponta esquerda, quase pelas bordas do campo. A ponta esquerda fará papel de coadjuvante, jogando a pelota para a grande área para seus pares aproveitarem a cabeçada. Que os comentaristas esportivos usem suas expressões mais certeiras para abrir os espaços do campo e definir melhor os goleadores da disputa de 2022.

Mourão

O vice-presidente, general da reserva, Hamilton Mourão, tem firmeza na fala. Disse alto e bom som que se a vacina da China for aprovada pela Anvisa, o Brasil irá adquiri-la. Bolsonaro já havia dito que essa vacina não será comprada pelo governo. O destempero deixa o presidente no corner do ringue. Mourão exprimiu bom senso. P.S. Se Jair descartá-lo como candidato a vice, o general poderá se candidatar ao Senado. E dará tempo a escolher um Estado mais viável que o RJ. A conferir.

Neutro

Aliás, o vice-presidente diz que se as eleições presidenciais nos Estados Unidos terminarem em conflito, o Brasil deve adotar posição "neutra". Arremata: "Não temos nada a ver com as questões internas americanas. Isso é princípio constitucional nosso. A gente não admite ingerência nos nossos assuntos internos e também não fazemos nos assuntos internos dos outros".

Lira tem chances?

Por mais que tenha nas mãos a alavanca do Centrão, é complexa a tarefa de Arthur Lira de ganhar o comando da Câmara. O Centrão deve encontrar dificuldades em atrair o apoio de grandes legendas para a candidatura do líder do PP. Baleia Rossi, presidente do MDB, é uma opção que cresce na preferência de algumas siglas. E contaria com o apoio do presidente Rodrigo Maia.

Base municipal

A base de lançamento dos foguetes presidenciais será construída até o fim deste mês, quando teremos o segundo turno do pleito municipal. Ao que se sabe, a essa altura, é que o bolsonarismo não terá grande performance nas capitais e grandes cidades. O presidente, depois de analisar o quadro dos resultados, escolherá a sigla que o abrigará para o pleito de 2022. Nem todas as grandes siglas se oferecem para recebê-lo, ao contrário do que se ouve aqui e ali.

São Paulo

A campanha na capital paulista continua morna. Bruno Covas garante seu lugar no 2º turno. Contra quem? Russomano, como prevíamos, tem dificuldades de manter sua posição. A colagem em Bolsonaro não dá certo por aqui e, em muitos casos, por ali. Surpreende o crescimento de Boulos. Márcio França quer se esforçar para ser a terceira via, quebrando a polarização. Está difícil.

TV ou redes?

Quem está conseguindo ser mais influente na campanha? TV, rádio ou redes sociais? Tem analista apostando muito na TV e no rádio. Nesta eleição, não vejo tanta influência. Tudo está com cara de coisa já vista. As redes sociais criaram muita expectativa. Mas têm exercido pouca influência. São mais veículos de manutenção do ânimo de bases e simpatizantes. Não agregam votos novos.

Violência aumentou

Até o momento, 15 candidatos foram assassinados no país desde o dia 17 de setembro, primeiro dia após o fim das convenções. Foram mortos 14 candidatos a vereador e um candidato a prefeito em cidades de interior em 12 Estados, o que significa uma média de assassinato ligado à eleição a cada três dias. Registraram-se no mesmo período ao menos 19 tentativas de assassinato de candidatos com armas de fogo.

Fecho a coluna com um pouco de humor.

Einstein

Certa vez, Einstein recebeu uma carta da Miss New Orleans onde dizia a ele: "Prof. Einstein, gostaria de ter um filho com o senhor. A minha justificativa se baseia no fato de que eu, como modelo de beleza, teria um filho com o senhor e, certamente, o garoto teria a minha beleza e a sua inteligência". Einstein respondeu: "Querida miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza".

Conselho para a Miss

José Américo de Almeida, autor de A Bagaceira, político paraibano e um dos maiores tribunos brasileiros. Uma historinha com ele.

Margarida Vasconcelos, eleita Miss Paraíba, foi visitar o velho José Américo no casarão avarandado da praia de Tambaú, em João Pessoa. Chegou falando muito, falando demais, maltratando o português e as ideias. Queria conselhos:

- Doutor José Américo, o que o senhor me recomenda para eu representar bem o Estado no concurso de Miss Brasil, lá no Rio?

- Minha filha, você quer mesmo um conselho? Então fale o menos possível. E, se puder, não abra a boca.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.