Abro a coluna com duas historinhas hilárias, uma do PR, outra do RN.
Xaxixo
Antônio Constâncio de Sousa, deputado pelo antigo PSP (PR), pediu um aparte a Armando Queiroz, líder do então governador Ney Braga na Assembleia Legislativa.
– Não dou o aparte, não. V. Exa. não está à altura de participar dos debates. V. Exa. não é capaz de citar uma palavra com 3 x.
– Sou, sim. Xaxixo.
Pensava em salsicha.
Hotel zero Km?
O deputado do Rio Grande do Norte desceu no aeroporto Santos Dumont, no Rio, pegou um táxi:
– Hotel Zero Quilômetro.
– Zero Quilômetro? Não tem esse hotel, não.
– Tem, sim. Em frente ao Hotel Ambassador.
– Ah, Hotel OK. Senador Dantas, não é?
– Não, senhor, Deputado Antônio Bilu, de Natal.
Panorama
- Corrupção
De tanto ser prato diário na mídia – Lava Jato, Witzel, outros governadores, delações premiadas, ações de busca e apreensão pela PF -, a corrupção vai diminuindo o tamanho do seu território no país. Não é o caso de garantir que vai ser extirpada. O jeitinho brasileiro, os dribles que os espertos costumar usar para cometer ilícitos, a sinuosidade no comportamento integram a alma brasileira. E nessa hora, Deus avisa que não é tão brasileiro, como alguns garantem. Isso é mais coisa pro Belzebu e seus capetas. Mas os crimes contra a administração pública tendem a diminuir. Mais controles, maior transparência, cidadão mais racional e exigente.
- Justiça
O acesso à Justiça, ainda difícil para as margens carentes, também avança sob o impulso de uma miríade de entidades intermediárias, que defendem minorias, agrupamentos étnicos, gêneros etc. Um fenômeno muito interessante do Brasil de hoje é a organicidade social, que confere maior autonomia e poder de decisão aos grupamentos que se formam, a cada dia, na sociedade. Esses novos agrupamentos, sob lideranças mais jovens, ganham o status de novos polos de poder. Por isso, a pressão sobre os mecanismos da Justiça é mais forte. O Brasil também avança nessa área.
- Educação
Norberto Bobbio também incluiu a educação para a cidadania como uma das promessas não cumpridas pela democracia. Pois bem, o grande filósofo italiano morreu sem ver o início de um ciclo mais cidadão. No Brasil, infelizmente, a Educação não tem sido tratada nos últimos tempos de maneira elevada como merece ser privilegiada a árvore mater de uma Nação. Mas a movimentação de lá para cá, das margens para o centro, vai propiciar a semeadura de uma densa floresta de educadores. Uma questão de tempo. Não há força que resista ao vento dos tempos.
- Segurança Pública
Essa é uma área mais complicada. A conflituosidade se expande no mundo, sob a gigantesca teia de gangues, drogas, máfias, competição de grupos armados, enfim, sob a lei da metralhadora. Governos, como o de Trump e o do Bolsonaro, defendem o armamento da população como uma saída pragmática para enfrentar a criminalidade. Erro de ótica. Construir os pilares da Casa das Armas é deixar de lado os fundamentos da Casa da Educação. Nem Trump nem Bolsonaro terão sucesso, com o avanço civilizatório, de sedimentar esta estratégia.
Imagem crescente
Saindo do plano teórico para a nossa realidade, comecemos com a constatação de que o brasileiro começa a se acostumar com o jeito brusco e às vezes estrambótico do governo. A anormalidade, a truculência acabam formando uma camada impermeável sobre o corpo social. Mas essa aceitação só viceja em um terreno adubado com massa, mesmo pequena, de recursos no bolso do cidadão. O auxílio emergencial deu uma sobrevida à imagem positiva do governo. Até quando? O presidente acaba de anunciar a suspensão do Renda Família, programa que iria substituir o Bolsa Família. Então, qual será a marca popular do governo lá para as margens de outubro de 2022? Tenho dúvidas se a economia conseguirá segurar a posição confortável do presidente Jair.
Frentes ideológicas
Teremos na eleição de 2022 três frentes com viés ideológico: uma frente de Direita, capitaneada pelo presidente Jair Bolsonaro que, aliás, poderá puxar um grupo de centristas; um grupo de Centro-Esquerda, a se formar com eventual aliança de partidos comandados pelo PDT e pelo PSB; e uma frente de Centro-Direita, a se formar com a aliança de partidos de esquerda e de centro, sob a égide do PSDB e possivelmente DEM. Alguns grandes partidos, como o PMDB, estarão olhando de soslaio para os dois lados. E poderemos ter ainda uma Frente de Esquerda, sob o comando do PT e apoio do PSOL. O PT, porém, só se aventurará em mais uma campanha se constatar que o clima social de 2022 o empurrará em direção às urnas. Lula, com discurso radical, já começa a dar o tom. Este consultor não acredita que o Brasil de amanhã ainda comportará Lula.
Ciro Gomes
Será o piloto da navegação de centro-esquerda. O problema que eternamente o atordoa: a inteligência emocional. Engolfa-se nas ondas emotivas. Perde o eixo. A seu favor, conta com bom domínio sobre a realidade brasileira, o saber mexer com contas e números. Bom debatedor.
João Doria
Deverá ser o piloto da frente de Centro-Direita. Pode contar a seu favor eventual boa avaliação de desempenho em São Paulo, que governa; o fato de ter boa fluência, apesar de mostrar certa superficialidade nas análises. Tem disposição, garra e recursos para fazer uma campanha eleitoral de grande visibilidade no país. Tem contra ele a imagem de "muito certinho, arrumadinho", como este consultor tem ouvido. Mas exibe uma carreira política ascendente. E um troféu de vitorioso. Vai depender do clima social e econômico de 2022.
Bruno, o primeiro teste
A candidatura do tucano Bruno Covas à reeleição para a prefeitura de São Paulo será o primeiro grande teste em direção ao amanhã. Como é sabido, o PSDB atravessa momentos turbulentos, com as denúncias sobre o senador José Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin. FHC já deu o que tinha de dar para ancorar a identidade do partido. Resta, agora, um novo teste pelas urnas.
Campanha fragmentada
A campanha municipal será um painel de cores diferentes. Uma parede de mosaicos diferentes. Partidos serão desprezados em detrimento de nomes. Teremos imensa fragmentação partidária.
Maior interesse
O número de pretendentes será maior que o do último pleito municipal em 2016. A denotar maior interesse de brasileiros em participar da política.
Rio, um desastre
O Rio de Janeiro desce o despenhadeiro da política. E as coisas não vão parar no Palácio das Laranjeiras. Podem pegar candidatos a prefeito. O mais belo cartão postal do Brasil. Lama por todos os lados.
Raposas e porcos-espinhos
Perguntam-me: e aí, quem ganha as eleições deste ano? Governistas ou oposicionistas?
Valho-me do relato do escritor John Lewis Gaddis, em seu denso livro "As Grandes Estratégias". Fala ele das estratégias de Xerxes, o rei dos reis, e do seu tio, Artabano. Os dois tinham estratégias diferentes e o interesse do rei era derrotar os gregos, como descreveu Heródoto a qualquer custo.
O ano era 480 a.C. Xerxes queria atravessar o Helesponto, atual Dardanelos, e queria porque queria vencer os gregos e, depois, conquistar a Europa. Um imprudente, ou, na imagem de Isaia Berlin, um "porco-espinho", que sabe uma só coisa, mas muito importante, enquanto a raposa sabe muitas coisas.
Artabano alertava: cuidado. Como atravessar o rio? Como alimentar o exército? O que fazer se conseguir chegar lá? Xerxes replicava: se formos levar em consideração tudo, não faremos nada. Mandou amarrar 360 embarcações umas às outras e fez outra ponte com 314 embarcações. Todas curvas para se adaptarem aos ventos e correntes. Transformou, como disse, água em terra. E na área de terra, mandou construir um canal, transformando terra em água. Um feito. Mas Artabano continuava alertando: como essas milhares de pessoas vão suportar a fome e a sede?
Mas o "porco espinho" confia que derrota tudo que aparece à sua frente. Artabano voltou para casa e Xerxes avançou. Em Termópilas, onde Leônidas resistira aos invasores, mas acabou vencido, Xerxes se deparou com o mesmo dilema de Napoleão. Como enfrentar o mau tempo? Resumo: os gregos afundaram sua frota e massacraram os sobreviventes. O rei, derrotado, acabou aceitando o conselho do tio Artabano e voltou para casa. Acabou, aterrorizado por Temístocles, a partir às pressas e abandonar seu exército à própria sorte.
A raposa olha para todos os lados, prós e contras; circunstâncias e oportunidades. O porco-espinho só olha para a frente. Acredita demais em sua vitória.
Resposta à pergunta que me fazem: os candidatos, estilo raposa, terão melhores condições de ganhar.