Abro a coluna com uma historinha de São Paulo.
"Me ajude, governador, me ajude"
Geraldo Alckmin é um colecionador de "causos". Todas as vezes em que nos encontramos, saca logo a pergunta: "E as Porandubas?". O ex-governador de São Paulo é dos nossos colaboradores. Leiam este "causo" de sua verve.
Um prefeito de São Paulo chega ao então governador, e, sem delongas, expressa a sua angústia:
– Governador, pelo amor de Deus, me ajude, me ajude, me socorra! Estou perdido!
– Por que tanta aflição, prefeito, afinal você está apenas no meio do mandato. Há dois anos ainda pela frente.
O prefeito, cochichando no ouvido do governador, em tom de confessionário, conta o motivo:
– Governador, eu exagerei. Prometi demais, governador. Muito mais do que podia cumprir. E hoje estou apertado por todos os lados. Não tenho condição de pleitear um novo mandato. Me ajude, governador, me socorra!
Alckmin abriu os braços, balançou a cabeça em sinal de dúvida, mas não teve coragem para dizer: "quem pariu Mateus que o embale". Preferiu abrir uma ruidosa gargalhada!
Prefeitos, as cobranças vão continuar.
Panorama geral
Clima menos pesado
A sensação é a de que o país começa a viver um clima menos pesado nos últimos dias. Em parte, pela reabertura gradual de atividades no comércio e nos serviços e em parte porque a população parece ter se acostumado com a rotina ditada pela pandemia, a partir do uso de máscaras. Mas não é o caso de relaxar. Em nove Estados, os números cresceram na última semana. O fato é que as regiões apresentam impactos diferenciados. Manaus, por exemplo, onde a situação era devastadora, entrou em queda. Já o Centro-Oeste vive momentos de altos números. Em Minas, ante a gravidade da pandemia, as autoridades pensam em resgatar o lockdown.
Perspectivas boas e ruins
Os horizontes sinalizam esperança e certo desânimo. A esperança emerge na onda de vacinas que começam a ser testadas em alguns países. Os relatos são otimistas. A Rússia entra na terceira fase de testes. Na Europa, Alemanha e Reino Unido avançam. Na China, os testes também estão avançados e contam até com a parceria brasileira. Em alguns países, a barreira sanitária tem impedido a disseminação da Covid-19. O lado pessimista aponta rebaixamento da imunidade das pessoas que desenvolveram anticorpos contra o vírus. Depois de alguns meses – falam em três – a pessoa poderá cair novamente doente. Uma espécie de vaivém. A mostrar que esse danado de bicho tem condições de ganhar força na esteira das fragilidades humanas.
Pós-pandemia
A cada dia aumentam as projeções de que o mundo jamais voltará a ser o que era. Há quem fale em uma ruptura que abrirá espaços a uma "explosão de inovação e uma política não binária". Quem diz isso é um dos mais renomados analistas da cena internacional, Thomas Friedman, colunista do New York Times, em conversa com Luciano Huck. Para o analista, a pandemia vai levar a uma demolição criativa e exigir uma visão ecossistêmica da realidade. O home office, por exemplo, veio para ficar, chegando-se a calcular que seja algo entre 30% a 40%. Os cuidados com a natureza redobrarão. A saúde estará em primeiro lugar das prioridades.
Gilmar x Forças Armadas
Mais uma pendenga no ar. Em uma conversa virtual, falando do vazio na política da saúde e no ministério ainda ocupado por um interino, o general Eduardo Pazuello, o ministro do STF, Gilmar Mendes, fez um comentário que desagradou às Forças Armadas. Teria sugerido que, a continuar a escandalosa situação, o Exército seria associado ao genocídio. O ministro das Forças, general Fernando Azevedo, fez nota de protesto. O vice, general Mourão, disse que Gilmar se excedeu. O mal-estar permanece no ar, esperando-se que o presidente do Supremo, Dias Tofolli, que já foi assessorado pelo general Azevedo, ponha panos molhados para abafar a fogueira.
Agora...
Sem querer entrar no mérito da questão, urge perguntar: por que isso ocorre? Ora, pelo excesso de militares no governo. Li que já passam de três mil colaboradores. É inevitável que se faça uma associação entre políticas de governo – fracasso ou sucesso – ao desempenho dos militares. Mesmo que se lembre o fato – militar reformado é civil no governo – de que eles integram o corpo governamental. Essa tentativa de separação é um drible expressivo. Com todo respeito.
Encolhimento
Mais um cálculo se apresenta: os donos de fortunas financeiras vão encolher cerca de 6% na esteira da pandemia. Ou seja, essa montanha de dinheiro descerá para US$ 300 bilhões, subindo novamente ao patamar de US$ 490 bilhões apenas em 2024, com expansão anual média de 13,2%.
Testando
A coluna sempre acompanhou o desempenho dos governadores, assinalando resultados de pesquisas e até de enquetes, levantamentos sem critérios científicos. Hoje, propõe aos leitores dos Estados para darem uma nota de 0 a 10 ao desempenho de seus governantes. Se tiverem conhecimento do desempenho de outros figurantes, podem atribuir também uma nota. Enviar questionário por e-mail (clique aqui).
- Eduardo Leite- Rio Grande do Sul - ( )
- Carlos Moisés- Santa Catarina – ( )
- Fátima Bezerra -Rio Grande do Norte ( )
- Wilson Witzel – Rio de Janeiro ( )
- João Doria – São Paulo ( )
- Wellington Dias – Piauí ( )
- Paulo Câmara – Pernambuco ( )
- Ratinho Junior – Paraná ( )
- João Azevedo – Paraíba ( )
- Helder Barbalho – Pará ( )
- Romeu Zema – Minas Gerais ( )
- Reinaldo Azambuja – Mato Grosso do Sul
- Mauro Mendes – Mato Grosso ( )
- Flávio Dino – Maranhão ( )
- Ronaldo Caiado – Goiás ( )
- Renato Casagrande - Espírito Santo ( )
- Ibaneis Rocha – Distrito Federal ( )
- Camilo Santana – Ceará ( )
- Rui Costa – Bahia ( )
- Wilson Lima – Amazônia ( )
- Waldez Goes- Amapá ( )
- Renan Filho – Alagoas ( )
- Gladson Cameli – Acre ( )
- Mauro Carlesse – Tocantins ( )
- Belivaldo Chagas- Sergipe
- Antonio Dennarium – Roraima ( )
- Marcos Rocha – Rondônia ( )
O papel dos governadores
Será vital o papel dos governadores na eleição de 15 de novembro. Desta feita, há um tema posto na mesa da política e que reúne todos os protagonistas: governadores, prefeitos e vereadores – a Covid-19. (Livrem-se desse número rsrs). Portanto teremos uma campanha municipal com toques estaduais. Se o governador é bem avaliado no combate à pandemia, passará sua boa imagem aos seus candidatos. A recíproca é verdadeira. Mas a micropolítica deverá também dar o tom: os benefícios às cidades, bairros e regiões. O atendimento às demandas rotineiras do eleitorado.
Polarização nas grandes cidades
Questão recorrente: a polarização estará nas urnas? Sim. Mas restritas às grandes cidades. Os conflitos entre bolsonaristas e esquerdistas não refluirão no curto prazo. A polarização é o pasto onde se refestelam os bandos extremos. O eterno conflito alimenta os dois lados do cabo de guerra. Com o tempo, haverá arrefecimento deste posicionamento, sob a saturação que sobe aos sistemas cognitivos das classes médias, a partir da teia gigantesca dos profissionais liberais.
Um ano mais triste
Mesmo a campanha eleitoral entrará na queda das folhas mortas de outono ou nos ares mais gélidos do inverno. E nem a primavera de setembro será capaz de transferir cores vivas à campanha. Vivemos um ano triste sob a visão de milhares de covas ao nosso redor. Não será simples apagar visões lúgubres. Curtiremos o inverno de nossas desesperanças e não celebraremos a primavera como nos anos passados. Não se trata de entrar em sofrimento. Mas os tempos de angústia não passam tão rápido como as ventanias desse assombrado inverno. Que a natureza se renove, traga-nos ares mais puros e nos aponte, até o Natal de dezembro, um fio capaz de nos levar ao campo de novas esperanças. Buscar a felicidade é um ato de lindeza do ser humano.
Homenagens
São muitos os brasileiros e instituições que merecem homenagens por terem, ao longo de suas vidas, dedicado esforços em prol do desenvolvimento do nosso país. Em muitas Nações democráticas, a partir dos EUA, esse denodado espírito cívico é intenso e constantemente lembrado. Por aqui, os benfeitos são quase sempre jogados na vala do esquecimento. Neste momento de valorização de perfis cívicos, faço questão de citar uns poucos para tentar enaltecer o orgulho que temos de algumas instituições e perfis de grandeza:
1. Pesquisadores de Institutos, hospitais, associações e afins dedicados às descobertas sobre a pandemia que nos consome.
2. Profissionais da Saúde, a partir da valorosa categoria de enfermeiras (os).
3. CIEE – A maior ONG brasileira, focada na educação e desenvolvimento do jovem.
4. Instituto Mais Plural – Espaço de Debates sobre Realidade Brasileira, reunindo pensadores dos melhores quadros do país e comandado pelo advogado, ex-presidente da OAB/SP, Marcos da Costa.
5. Instituto Baccarelli – Que abriga a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Exemplo magnífico de empreendimento social.
6. Profissionais do cotidiano, com destaque aos entregadores de comidas e produtos que abastecem famílias.
Pessoas físicas
7. Antônio Ermírio de Moraes - (Homenagem Póstuma) – Benemerência – O mais integrado empresário brasileiro à causa da saúde. Exemplo de grandeza, simplicidade e dedicação.
8. Jorge Gerdau – Empresário que pensa grande sobre o país.
9. Juca de Oliveira – Ator e autor de grandes peças que elegem o riso como ferramenta crítica.
10. Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF, um humanista de primeira grandeza.
11. Drauzio Varella - Um médico que faz da expressão um remédio para salvar vidas.
12. Luiz Trabuco – Um profissional respeitado e do mais alto nível que ajuda o país com sua identidade ligada às finanças. Bom pensador.
13. José Pastore – Um iluminado analista das questões do trabalho. Um sábio.
14. Dom Fernando Figueiredo – O bispo da Zona Sul com sua simplicidade para levar Deus aos mais carentes. Simpatia irradiante.
15. Luiz Carlos Hauly- Ex-deputado, que faz da reforma tributária o credo de sua vida.
16. Roberto Dualibi – Um publicitário que conferiu grandeza e respeito à arte publicitária.
17.Marcelo Alecrim – Um dos melhores exemplos do empreendedorismo nacional.
18. Renato Meirelles – Alto executivo, um sábio da malha ferroviária do país.
19. Ignacio Loyola Brandão – Um cronista que faz bem à nossa alma com seus belos textos sobre a vida cotidiana.
20. Walter Maierovitch – Jurista, ex-desembargador, comentarista de alto nível da CBN, intérprete de complexos problemas que envolvem a teia institucional.
Campanha eleitoral
Estratégias e táticas
Candidatos de todos os partidos ganham mais força quando estabelecem planejamento de suas campanhas. Pequeno roteiro:
- Buscar o apoio de entidades organizadas da municipalidade - sindicatos, associações, federações, clubes, movimentos, núcleos;
- Montar sistema de aferição (pesquisa) de modo a mapear demandas e interesses dos bairros e regiões;
- Estabelecer um programa abrigando ações e projetos específicos para as áreas e elegendo como focos determinados setores da sociedade (mulheres, crianças, jovens, etc.);
- Criar agenda de eventos - pequenos eventos, bem articulados, com pequenos grupos, de forma a estabelecer forte interação entre os interlocutores; mais eventos pequenos funcionam melhor que eventos grandes;
- Criar forte identidade - eleger dois ou três grandes eixos que possam identificar rapidamente o candidato, de forma a estabelecer um diferencial em relação a outros;
- Escolher um grupo de conselheiros entre os nomes mais respeitados da comunidade e que sirva de referência;
- Estabelecer um fluxo de comunicação para a campanha, obedecendo aos ciclos: lançamento do nome; crescimento da campanha; consolidação da visibilidade; maturidade; clímax da campanha e declínio. Deixar volumes maiores para as últimas fases;
- Formar ampla rede de apoiadores/cabos eleitorais de confiança, fazendo com que cada eleitor seja, ele mesmo, um cabo eleitoral;
- Formar uma teia de divulgadores/trombetas de campanha, pessoas que começam a falar das virtudes e qualidades do candidato, de modo natural, conquistando, assim, a simpatia dos ouvintes. Sem demonstrar arrogância;
- Planejar o dia D. Dia das Eleições. Logística, visibilidade/publicidade (controlada), sistemas de articulação/mobilização/apuração, etc.