Porandubas Políticas

Porandubas nº 72

11/10/2006


ALCKMIN APIMENTADO I

Que Alckmin ganhou o primeiro debate, poucos duvidam. A vitória teria sido maior se o discurso não fosse tão "paulistizado". Falou muito de São Paulo. Deveria ter expressado programas e ações para as regiões brasileiras. As poucas referências feitas – hospitais do Rio de Janeiro, recriação da Sudene no Nordeste – foram canibalizadas pelo resgate de sua ação administrativa em São Paulo. A crise da agricultura – a maior nos últimos 40 anos – o aperfeiçoamento dos programas sociais e mesmo a questão energética poderiam ter merecido mais atenção. Alckmin colocou Lula no canto do ringue nos dois primeiros blocos. O presidente sentiu os golpes. Reagiu, sim, mas passando a impressão de que estava tonto.

ALCKMIN APIMENTADO II

O debate não traz muitos votos aos contendores. O maior impacto se observa na consolidação das posições. Os eleitores de Lula se distanciaram ainda mais de Alckmin e vice-versa. Os indecisos, esses sim, são mais afetados. O tucano deve ter conquistado votos nessa faixa. Mas a repercussão positiva do debate poderá melhorar a imagem do tucano junto a setores médios. Define com mais precisão seu perfil, motiva as bases, coopta de vez as cúpulas partidárias engajadas na campanha e abre espaços na mídia.

LULA SEM TREINAMENTO

Para o candidato que é palanqueiro por excelência, o desempenho foi um desastre. Lula quase não se dirigiu ao telespectador, quase não olhou para as câmeras, fez gestos e caretas – bem flagradas – de quem não estava gostando. O maior mérito de Geraldo foi colocar a agenda tucana sobre a agenda petista. Conduziu o debate, não foi conduzido. Lula mostrou-se enferrujado. O melhor orador das massas sentiu faltar discurso na goela. Não foi eficaz inclusive quando entrou no terreno da ironia.

PEGADINHAS

Pior foi entrar nas pegadinhas geraldinas. Quando Alckmin se referiu à crise do mensalão, lembrando a denúncia de Roberto Jefferson, usou o termo "compra de deputados". Aí Lula, escorregando na resposta, disse que a "compra" criminosa de deputados começou no governo FHC. Logo, reconheceu ter havido compra. Quando o tucano se referiu ao Aerolula, dizendo que, eleito, venderia o avião para fazer hospitais, Lula, irritado, caiu na armadilha, usando o mesmo termo negativo "Aerolula". Mas a irritação maior ocorreu quando Geraldo criticou o uso sigiloso dos cartões corporativos.

A GRANDE PERGUNTA

De onde veio o dinheiro? Eis aí a pergunta-chave que ditará o discurso das próximas semanas.

AÉCIO, O FATOR DECISIVO PARA ALCKMIN

Aécio Neves se apresenta, a cada dia, como o fator decisivo para uma eventual vitória de Geraldo Alckmin. Promete dar ao candidato tucano 60% dos votos válidos de Minas Gerais, um colégio eleitoral de 13 milhões. Geraldo teve naquele Estado 40% dos votos e Lula 50%. Esta semana, mobiliza 300 prefeitos em apoio ao tucano. Quer se mostrar mais eficaz que José Serra em São Paulo.

JACQUES WAGNER, O FATOR DECISIVO PARA LULA

Jacques Wagner, uma das maiores surpresas destas eleições, promete dar a Lula 80% dos votos da Bahia, colégio eleitoral de 10 milhões de eleitores, o quarto maior do País. Se isso ocorrer, Lula expandirá a votação no Nordeste, decisiva para sua eleição. ACM quer dar o troco, dizendo que vai melhorar a performance de Geraldo no Estado. Será uma briga de gigantes. A conferir.

DELFIM, O FIM ?

Por que Delfim Netto não se elegeu deputado federal? Já se disse que foi derrubado por Orestes Quércia, que quase acaba com o PMDB em São Paulo, com seu desempenho de menos de 5% dos votos. Mas há outra explicação. Delfim aderiu a Lula. Tirou fotos com Lula. O eleitorado tradicional do ex-ministro da Fazenda sentiu-se atraiçoado. Delfim jamais poderia ter aderido ao governo Lula, identificado que é com a mais refinada elite empresarial paulista. Que deu o troco. O voto de opinião delfinista desapareceu.

DINHEIRO DO BICHO ?

E se o dinheiro para a compra do dossiê veio mesmo do jogo do bicho, que bicho vai dar na semana antes do pleito de 29 de outubro ? Se der bode, será bode expiatório. Nesse caso, Lula estará seriamente ameaçado. Mas se for zebra, nesse caso Lula se salvará. Porque a zebra, na mata do dossiêgate, significaria algo como: "o dossiê foi armação para prejudicar Lula". Façam suas apostas.

FREUD INOCENTADO ?

Freud Godoy, o segurança de Lula, voltou à mídia. Nos últimos dias, a nota recorrente é a de que é inocente. Foi carimbado por Gedimar Passos, o homem que teria providenciado o dinheiro. Onde está a verdade ?

VOTOS DE HELOÍSA E BUARQUE

Cerca de 70% dos votos de Heloísa Helena e Cristovam Buarque deverão entrar na urna tucana. O restante irá para Lula e uma parte, menor, seguirá para a lata dos votos nulos.

ACIRRAMENTO NO PR E RN

Duas campanhas de segundo turno serão muito acirradas: PR e RN. No Paraná, Requião, do PMDB, disputa com Osmar Dias, do PDT. Estão, hoje, empatados em 45%. No RN, Vilma Faria, a governadora do PSB, disputa com o senador Garibaldi Alves, do PMDB. Estão igualmente empatados. A decisão virá dos votos de Natal (capital), Mossoró (a maior cidade) e Parnamirim, o terceiro maior colégio eleitoral, onde o prefeito Agnelo Alves, tio de Garibaldi, promete dobrar a votação do peemedebista. A conferir.

NIVELAMENTO POR BAIXO

O ministro Hélio Costa, das Comunicações, tentando sensibilizar os colegas de Ministério, lembrou que eles não são funcionários concursados, não são técnicos e, portanto, se Lula perder, eles também perderão os empregos. Baixo nível. Linguagem de apelação.

CAMPOS MAIS PERTO DA VITÓRIA

O deputado Eduardo Campos (PSB), ex-ministro de Lula e sobrinho de Miguel Arraes, está mais perto da vitória em Pernambuco. O pefelista Mendonça Filho, que tem o apoio do senador eleito Jarbas Vasconcelos, do PMDB, ameaça roer as cordas. O vice de Geraldo, José Jorge (PFL), pode amargar uma derrota em seu Estado.

PRÓXIMOS DEBATES

O saco de agressões ficou cheio no primeiro debate. Os próximos, apesar de contundentes, deverão aprofundar temáticas como segurança, educação, energia, saúde, transportes, assistência social. Os candidatos precisarão, agora, demonstrar conhecimento de causa.

O MELHOR DEBATE

O debate da TV Bandeirantes foi o melhor evento da temporada eleitoral. Mais que isso: foi o acontecimento político mais acirrado dos últimos tempos.

PF NA BERLINDA

A Polícia Federal está diante do dilema: dar a resposta para o dossiêgate antes ou depois do segundo turno ? Se a resposta vir antes, prejudicará Lula. Se o imbróglio for desvendado um dia depois do segundo turno já não servirá para Geraldo Alckmin. O que fazer ? As duas bandas da PF devem estar nervosas.

IMPRECISÕES

O primeiro debate foi também um show de imprecisões. Dados errados. Informações manipuladas. Abordagens desvirtuadas de ambas as partes. Questão: se um candidato quiser anular o outro, mostrando inverdades, o outro anulará o primeiro usando a mesma arma. Vai dar empate na soma dos erros.

O BRASIL DIVIDIDO

A impressão pode não ser correta, mas o debate entre Lula e Geraldo mostrou dois discursos: um, dirigido ao Brasil que mais paga; outro, voltado para o Brasil que mais recebe. Isso é muito ruim. Dois Brasis afastados, duas bandas que se distanciam. Um corpo só dilacerado.

INSEGURANÇA

Ninguém, em sã consciência, poderá dizer que Lula ganhará a campanha. Ninguém, no uso do senso, poderá garantir que Geraldo será o vitorioso. A insegurança é total. Dos candidatos, das bases, das cúpulas e também dos analistas. Inclino-me a dizer que, pela lógica aritmética, o vento ruma na direção de Geraldo, considerando-se a vantagem teórica que tem em SP, MG, RS, SC e PR. Mas Lula poderá comprovar a velha regra da política: tudo pode ocorrer. Principalmente se estourar o balão no Nordeste.

DELEGADO OU ADVOGADO ?

Lula comparou Geraldo a um "delegado de porta de cadeia". Pelo que se sabe, a expressão é usada para definir um tipo de advogado, geralmente o profissional que inicia a dura vida no ramo da advocacia. O delegado geralmente despacha em sua sala na Delegacia.

____________

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.