ALCKMIN 1
Geraldo Alckmin está mais perto de uma vitória do que de uma derrota. Claro, se a aritmética fosse o maior parâmetro para balizar uma campanha. São Paulo, com 28 milhões de votos, e Minas Gerais, com 13 milhões, somam 41 milhões de votos. Há dois meses, a distância que separava Lula de Alckmin, em Minas, era em torno de 25%. Perdeu por 10 pontos percentuais. Aécio teve 77% dos votos válidos de Minas. Há, portanto, amplas condições para o tucano ganhar esses pontos ou mesmo ultrapassar Lula. Em SP, Serra teve quase 58% dos votos válidos, enquanto Alckmin teve 54%. Com mais 4 pontos, igualando Serra, ou mesmo ultrapassando esse índice – o que não é difícil – Geraldo ultrapassaria Lula em 7 pontos percentuais.
ALCKMIN 2
Há, ainda, o Sul, onde Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná têm 15% dos votos do país. Geraldo venceu nessa região, com 22 pontos na frente de Lula no RS, 15 pontos no PR e 23 pontos percentuais em SC. Ora, as campanhas serão intensamente polarizadas. Yeda Crusius, tucana, uma surpresa, poderá levar a melhor no RS, aumentando a vantagem; em SC, Luiz Henrique é o favorito e vota em Geraldo. No Paraná, Requião é favorito e vota em Lula. Mas a polarização e federalização da campanha deverá melhorar a posição do senador Osmar Dias, candidato ao governo pelo PDT, que perdeu o primeiro turno por apenas 4 pontos. Ou seja, Geraldo deverá aumentar seu cacife na região.
LULA 1
Lula precisará reforçar suas posições onde perdeu. Mas deverá encontrar fortalezas comandadas por Serra e Aécio e mais os prováveis vencedores do segundo turno na região Sul. Por isso, restará a Lula expandir sua votação no Nordeste. Tem dois grandes comandantes na região: Jacques Wagner que ganhou de maneira surpreendente na Bahia, derrotando o carlismo (ACM) e Ciro Gomes, no Ceará, eleito com a maior votação proporcional do Brasil.
LULA 2
Mas o Nordeste todo tem um pouco mais do que a votação do Estado de São Paulo. Lula terá ainda muitas dificuldades, porque os candidatos que colaram a imagem nele não esperavam segundo turno. E os adversários não pediam votos para Alckmin, temerosos de uma derrota deste. Agora, os campos serão melhores definidos, cada candidato pedindo votos para um lado e para outro. Neste caso, a vantagem de Lula diminui.
LULA 3
Teremos uma luta muito sangrenta. Vai haver uma guerra de dossiês. E os discursos deverão ganhar tons acima da escala. No primeiro momento, Alckmin ficará no ataque e Lula na defesa. Depois, Lula deverá partir para a briga mais feroz. As pesquisas qualitativas avaliarão os ânimos eleitorais. O voto dos pobres nunca esteve tão distanciado dos votos das classes médias. Ancorado nessa situação, Lula tentará se aproximar do meio da pirâmide social. Haverá tempo? Geraldo, por sua vez, deverá prometer aperfeiçoar a rede de proteção social.
SURPRESAS
Surpresa número 1: a eleição do petista Jacques Wagner, na Bahia; surpresa número 2: a posição de Yeda Crusius, no RS, para o primeiro lugar, deslocando Germano Rigotto para a terceira posição. Disputará com Olívio Dutra, do PT, e é a favorita; surpresa número 3: a grande votação, quase encostando no senador Suplicy, de Guilherme Afif Domingos, em São Paulo; surpresa número 4: o segundo turno no Paraná, onde se esperava que Requião levasse a melhor no primeiro turno.
RORAIMA E AMAZONAS
A maior vitória de Geraldo, em termos proporcionais, ocorreu em Roraima, onde conseguiu quase 60% contra 26% de Lula. E a maior vitória de Lula, em termos proporcionais, foi no Amazonas, onde ganhou de 78,07% contra 12,45%.
MENSALEIROS E SANGUESSUGAS
6 dos 50 parlamentares sanguessugas voltarão ao Congresso; 5 dos 11 mensaleiros absolvidos pelo plenário da Câmara voltaram. Severino Cavalcanti, que prometia voltar em grande estilo, rodou. Delfim Netto, que saiu do PP para o PMDB, fica em casa. Valdemar Costa Neto, que renunciou ao mandato, ganha nova chance.
A CULTURA POLÍTICA, COMO ELA É...
Clodovil, o costureiro que agora vai tentar costurar o tecido político, revela a primeira grande aspiração: conhecer o ambiente do novo emprego, como chama. E chegará criticando o "terno de tergal" dos políticos. Vai chegar chiquérrimo. Levará, ao lado, um coronel de 70 anos, Paes de Lira, que teve 6.673 votos, puxado que foi pela votação de 493.951 votos. Um voto meio cacareco-televisivo-emotivo-debochado. A cultura política tupiniquim tem dessas coisas ... hilariantes e extremamente exóticas.
E O SENADOR COLLOR, HEIN ?
Como será a reapresentação do senador Fernando Collor ? O passado virá à tona ? E como será o engajamento de Collor na campanha de Lula, a quem já aderiu ?
SERRA E AÉCIO
Serra e Aécio se enfrentarão numa queda de braço. Ambos querem demonstrar mais força na alavancagem de Geraldo.
O COMPROMISSO
Os dois governadores tucanos esperam que Geraldo, caso vença, cumpra o compromisso tácito: queimar a reeleição e implantar um mandato de 5 anos. Como isso pode ocorrer se foram os tucanos que a criaram ? Sugestão que Alckmin poderá adotar: colocar o tema para a decisão do povo por meio de plebiscito ou referendo.
A PROPAGANDA É VISTA
A propaganda eleitoral está entre os cinco programas mais vistos da TV. No segundo turno, a audiência crescerá. O debate terá picos de audiência. Que os candidatos se preparem e ... se benzam. Amém!
NO RN
O segundo turno mais imprevisível ocorrerá no RN, onde disputam Vilma Faria, do PSB, atual governadora candidata à reeleição, e o senador Garibaldi Alves, do PMDB. Diferença de menos de dois pontos. Vilma está na frente, mas Garibaldi elegeu o senador. Interessante...
AS PESQUISAS
A campanha passou um bom tempo na geladeira. Quando isso ocorreu, as pesquisas detectaram muito bem a intenção de voto. Quando a campanha saiu do congelador para o forno quente da boca-de-urna, muitas pesquisas deram com os burros n’água. Mesmo Institutos como o Ibope caíram do cavalo. Rio Grande do Sul e Bahia estiveram longe dos acertos das pesquisas. Carlos Augusto Montenegro, o sério e atento dirigente do Ibope, deverá dar uma adequada explicação para o fato de as pesquisas não detectarem os últimos movimentos nervosos que se passam na moldura cognitiva do eleitorado. Haja dissonância....!
O PMDB DIVIDIDO
Renan e Sarney farão campanha do segundo turno para Lula. Michel Temer, Garotinho, Luiz Henrique e Jarbas Vasconcelos, entre outros, se desdobrarão para dar a vitória a Alckmin. Como sempre, o PMDB come nas duas beiradas.
UMA AULA DE CIVISMO
O Brasil deu uma aula de civismo e democracia. Mesmo levando alguns perfis manchados para o Congresso. A democracia não é um sistema perfeito. Mas ainda é o melhor sistema. Com já dizia Churchill: "Ninguém pretende dizer que a democracia seja perfeita ou sem defeitos. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo sobre todas as demais formas que se têm experimentado; todavia, ainda não se criou melhor governo que o democrático."
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