Abro a Coluna com o dr. Dantinhas, da Bahia.
O vice-versa
Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Jeremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama:
– Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu.
Reta final
A 11 dias da eleição, os dois candidatos que estão na frente tentam consolidar seus índices, enquanto o núcleo que registra índices abaixo de 15% luta para aumentar os números de seus protagonistas. Bolsonaro, que agrega entre 30% a 35%, e Haddad, entre 23% a 26% (pesquisas diferentes), se esforçam para ganhar o passaporte do 2º turno. Ciro e Alckmin lutam para dar um salto triplo nessa reta final, mas se deparam com grandes dificuldades. Não conseguem atrair o "voto útil", que parece entrar na bacia dos dois primeiros, cada qual querendo se apresentar como a melhor opção para o Brasil.
Entrada no segundo turno
Desde a redemocratização, apenas duas vezes os líderes nas pesquisas de intenções de voto na reta final das campanhas não foram para o segundo turno - faltando duas semanas para a votação, os primeiros colocados das eleições de 1989 e de 2014 perderam fôlego e não terminaram o primeiro turno entre os dois primeiros colocados. Em 1989, Leonel Brizola, do PDT, esteve em segundo durante a maior parte da campanha, mas perdeu posição a menos de 15 dias da disputa para Luiz Inácio (PT), que viria a ser derrotado por Fernando Collor (PRN). Já em 2014, a candidata Marina Silva, na época disputando pelo PSB, perdeu fôlego na reta final da campanha, sendo superada por Aécio Neves (PSDB), que foi ao 2º turno e perdeu para Dilma Rousseff (PT).
BTG/Pactual
A rodada FS5, patrocinada pelo BTG/Pactual, e apresentada nesta segunda, traz esses resultados: na pesquisa espontânea, Bolsonaro tem 31%, Haddad, 17%, Ciro, 7% e Alckmin, 4%. Na estimulada, Bolsonaro tem 33%, Haddad sobe para 23%, Ciro, 10% e Alckmin, 8%.
Em SP, maior colégio
No maior colégio eleitoral do país, SP, com 33 milhões de eleitores, a situação hoje é esta de acordo com o Instituto Paraná Pesquisas: Fernando Haddad tem 14,7%, contra 14,4% de Geraldo Alckmin. Na liderança permanece Bolsonaro com 30,4% das preferências. No grupo abaixo, estão Ciro Gomes (7,9%), Marina Silva 5%.
Temor a Bolsonaro - I
Os eleitores que se postam na linha contrária a Bolsonaro temem que o Brasil volte a viver sob o tacão de uma ditadura, com supressão das liberdades, censura e a índole discriminatória do capitão: racismo, violação de direitos de minorias, de gêneros (mulheres), misoginia etc. As declarações de Bolsonaro, no passado, exibem um perfil extremamente conservador e agressivo. Por conveniência eleitoral, ele anuncia um manifesto onde tentará desfazer ditos do passado e proclamar seu respeito aos direitos individuais e coletivos. Persiste, porém, o receio de uma volta aos tempos da ditadura.
Temor a Bolsonaro - II
Teme-se que o candidato tenha dificuldades na articulação com o Congresso Nacional, ensejando, assim, condições para a repulsa/desaprovação a suas políticas e consequente erosão do tecido governativo. Eventual ruptura implicaria grave crise institucional, com participação, inclusive, do braço armado das forças.
Temor a Haddad - I
O temor que Fernando Haddad gera se liga ao revanchismo do PT, que, chegando ao poder, reinstalaria uma máquina burocrática locupletada de petistas. Que certamente vão querer "dar o troco" aos grupos que afastaram o partido do poder central. A questão: o PT continua se considerando o abrigo de vestais, gente pura, pessoas assépticas. O inferno, pensa, são os outros. Consideram-se os mocinhos, e os outros, os bandidos. São mestres na arte de mistificação e da simulação.
Temor a Haddad - II
Chegando ao poder, fincariam militantes e quadros de todos os espectros nas profundezas da administração, adotando a estratégia de tapar todos os buracos para coibir o ingresso de adversários. A partidarização da estrutura estatal é apenas um lado da moeda. O pacote de políticas públicas será embrulhado no celofane vermelho do partido. O desfazimento de projetos levados a cabo pelo governo anterior poderia, ainda, entornar o caldo e gerar tensões com o Poder Legislativo. Exemplo: a volta da velha CLT com revogação da Reforma Trabalhista.
A rejeição
Ocorre que a rejeição aos dois candidatos é alta, com cerca de 30% para Haddad e 40% para Bolsonaro. Ao candidato petista cobra-se aproximação com o mercado. Daí o esforço de Hadad para tentar se aproximar do centro, o que não agrada à presidente do PT, senadora Gleisi. Mas há um grupo mais moderado que defende esta postura. Já o candidato Bolsonaro ensaia passos na direção da moderação, com um manifesto onde proclamaria não ser radical, tentando convencer que suas palavras no passado faziam parte do teatro político. O capitão perde para os adversários na projeção para 2º turno. Ganharia apenas de Marina.
Tucanos de MG
Jair Bolsonaro acaba de dar apoio ao candidato mineiro ao Senado da coligação de Anastasia, Dinis Pinheiro. Significa que o capitão passa a capitalizar boa parte do eleitorado do PSDB em MG, que detém o segundo maior colégio eleitoral do país, com 16 milhões de eleitores.
Rede ferroviária, zero
Um dado que provoca susto: a rede ferroviária no Brasil tem praticamente a mesma extensão de 1922, quase um século depois: 30 mil kms, dos quais apenas 20 mil são usados. É de estarrecer. Lembre-se que nossa rede já foi a segunda mais extensa do mundo. Mais zeros: no passado, 80% dos deslocamentos de passageiros entre cidades do Sul/Sudeste eram feitos por ferrovia. Hoje, esse índice é de zero.
Brasil sucateado
Renato de Souza Meirelles, integrante da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária, comenta que a entidade preparou um documento com um diagnóstico assombroso sobre o setor e fez a entrega aos presidenciáveis. Os dados retratam o estado caótico das ferrovias: as fábricas de material rodante e sistemas ferroviários terão sua capacidade ociosa, hoje em torno de 75%, para 100%, pois "não há previsão de fabricação de trens para 2019", um dos piores momentos do setor.
Como fazer?
De 2010 a 2017, foram entregues em média 334 carros de passageiro por ano. Este ano, as entregas se reduzem a 298, chegando a zero no início do novo governo. De 10 mil postos de trabalho, o setor empregará apenas 2.500 em 2019, queda de 75%. A questão central levantada por Meirelles é: “como fazer para a volta dos investimentos? Como investir em Estados que estão no limite de seu endividamento?”
Impugnação
A candidatura de Dilma Rousseff foi aprovada pela Justiça Eleitoral de MG por 4 a 3. Mas há quem garanta, como o professor Adilson Dalari, que, se eleita, não tomará posse. Recorre ao pensamento de juristas como o Desembargador Rogério Medeiros, que emitiu parecer contrário à candidata ao Senado. O voto do desembargador examina detalhadamente a questão da perda dos direitos políticos em outras situações para chegar, finalmente, ao indeferimento do registro da candidatura dela ao Senado. Embora o TRE/MG tenha deferido o registro da candidatura da Dilma, Adilson não considera o assunto encerrado. Garante que sua posse será impugnada.
Democracia em crise
O cientista político americano Larry Diamond, da Universidade Stanford, ao passar pelo Brasil há dias, fez um alerta sobre o panorama da democracia e suas perspectivas no curto e médio prazos. Populismos e posições extremistas à direita e à esquerda têm ganhado força como resultado do descrédito dos regimes democráticos ao redor do mundo. Para ele, Putin, Trump, Maduro, Le Pen e Erdogan têm em comum uma verve autoritária e intolerante. A falta de fé na democracia, segundo o especialista, nasce e se dissemina somente quando há mau governo, abuso de poder ou instituições frágeis.
Justiça social
Diz ele: “as alternativas autoritárias têm vida curta porque não são capazes de atender aos anseios populares de mais liberdade e menos corrupção. O caminho passa pelo aprofundamento das instituições e pela criação de regimes democráticos que consigam ir além da transparência nas eleições e consigam, também, garantir justiça social e representatividade.”
Causos do juiz plínio
Fecho a coluna com dois causos do juiz Plínio.
De cócoras
Plínio Gomes Barbosa era juiz de Direito em Monte Aprazível, São Paulo. Chegou um promotor novo: Edgar Magalhães Noronha. Na primeira audiência, o promotor estava todo cerimonioso:
– Doutor juiz, devo requerer de pé ou sentado?
– O senhor se formou há pouco? Onde?
– Minha escola o MEC fechou.
– Então requeira de cócoras.
"Me retiro"
Numa Vara da Fazenda, no interior de São Paulo, o perito era coronel do Exército e o juiz, Plínio Gomes Barbosa, não sabia. Houve discussão, o coronel começou a gritar, o juiz bateu a mão na mesa:
– Se o senhor continuar nesse tom, ponho-o daqui para fora.
– Não saio, não. Sou coronel do Exército.
– Então quem se retira sou eu, que sou reservista da 3ª categoria.
E deixou o coronel sozinho.