Porandubas Políticas

Porandubas nº 583

Um painel com os aspectos positivos e negativos dos principais candidatos.

25/7/2018

Abro a coluna com uma historinha da Paraíba.

Quatro "freis"

Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história.

E lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na Paraíba. Dentro, dois frades: Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto a do "padim" Ciço (Padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro:

– Esse carro disimbestado não tem frei?

Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo: disimbestado e frei (em vez de freio). Resposta lacônica na ponta da língua:

– Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro: frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião.

Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela.

As visões se clareando

Sufocadas as expectativas em torno da Copa, com o senso mais crítico sobre a realidade, os brasileiros começam a enxergar os primeiros movimentos de pré-candidatos ao pleito presidencial. Sua vista ainda está ofuscada pela caótica moldura que se lhes apresenta: o candidato que lidera as pesquisas está preso; um dos candidatos menos preparado para enfrentar o debate nacional e com menos tempo de exposição na mídia eleitoral confessa ignorância em matérias centrais; os candidatos mais poderosos em recursos, experiência e com maiores parcerias- o que lhes dará ampla visibilidade – estão bem atrás.

Situação atípica

Alguns chegam a comparar a eleição deste ano com o pleito de 1989, quando muitos candidatos do centro e das margens se apresentaram. Collor acabou ganhando de Lula. Ulisses, com o maior tempo de rádio e TV, ficou a ver navios. É erro comparar uma eleição com outra: o tempo é outro, as circunstâncias são diferentes, a política não tinha tanto desgaste quanto hoje e o eleitorado não se via tão submetido a escândalos quanto hoje. Lembremos o ditado: "um homem nunca atravessa duas vezes um rio no mesmo lugar".

Referências para comparação

Este consultor, ao longo de mais de três décadas de análise política, desenvolveu e tem usado bastante o seu método de aferição e delineamento de perspectivas. Para tanto, agrega um conjunto de referências e traços, cuja aplicação nas planilhas de candidaturas costuma se transformar em seu raciocínio corriqueiro. Como não se trata de segredo, aqui posto algumas referências:

1. O eleitor

De regiões menos desenvolvidas culturalmente, tende a votar em perfis tradicionais; em nomes da moda/momento; em candidatos mais próximos ao lugar onde reside; em candidatos que realizaram benefícios para sua região; e em nomes que venham bater em sua porta. O eleitor quer descobrir nesta eleição se o candidato escolhido não é um engodo.

2. Porte

Este é um parâmetro usado, instintivamente, por conglomerados mais racionais das classes médias, como profissionais liberais, funcionários públicos, formadores de opinião, etc. Como é usado? Em seu processamento mental, o eleitor faz comparações para distinguir a força do candidato, o porte. Leva em conta a importância do cargo que está sendo disputado, digamos, o de presidente da República. Procura ver se o candidato se encaixa no tamanho do Brasil. Ou se o candidato entra melhor no figurino do Estado ou do município, ou seja, se tem gabarito para ser presidente, governador, deputado Federal ou deputado estadual. Digamos que ele compare uma régua de 100 cm - o tamanho do Brasil – com a altura do candidato. Teria ele a altura do país ou seria muito menor?

3. Mapa e território

Seu sistema cognitivo assim processa: o Brasil tem o tamanho de 100 cm, mas o candidato só tem 80, 70 ou 30, digamos. Dessa forma, vai estabelecendo uma comparação entre os protagonistas. O eleitor, com essa operação mental, procura constatar se os candidatos estão à altura da identidade do Brasil. Se A, B ou C não chegam a se encaixar nesse desenho, por serem pequenos, tendem a ser descartados. É a diferença que pode existir entre mapa e território. O território, significando os candidatos, pode ser bem menor que o mapa. Ciro Gomes é um território que entra bem no mapa? Bolsonaro está à altura ou é menor?

4. Dissonância

Quando o tamanho de um candidato é escancaradamente menor do que o tamanho do país, o eleitor dispara um processo de dissonância, dúvida, incerteza, que acaba jogando por terra o compromisso que, em um primeiro momento, assumira com determinado perfil.

5. Discurso

A concordância e a dissonância derivam de alguns fatores, como o discurso: programas, propostas, ações, abordagens, pontos de vista, etc. O discurso é um ponto central pelo fato de significar o compromisso-mor de um candidato. Donald Trump construiu um discurso forte: a construção de um muro na fronteira entre México e EUA para barrar o processo migratório. Ganhou a eleição. Até hoje, a polêmica está instalada, mas seu eleitorado conservador-nacionalista aplaude.

6. Comunicação

O discurso deve chegar a todos os contingentes centrais e periféricos. Daí a importância da mídia eleitoral nas campanhas, exigindo parcerias e alianças. Redes Sociais, sozinhas, não elegem candidatos. São armas da guerra entre militantes, agregando poucos eleitores. Daí a importância da propaganda eleitoral com sua capilaridade.

7. Articulação – fechando a corrente

Articulação é a capacidade técnica de um protagonista – partido, candidato - fechar posição e buscar apoio do maior número possível de núcleos organizados da sociedade: movimentos, entidades de todos os espectros. Em função desse fenômeno em crescimento no Brasil – a organicidade social – os candidatos se sairão melhor caso assumam compromisso com os eleitores abrigados em seus centros de referência: movimentos, associações, sindicatos, núcleos, etc. A articulação sugere que o próprio candidato bata na porta do eleitor. Este ano, a modelagem é: campanha porta a porta, testa a testa, olho no olho, mão na mão.

Antes que passemos a ver os pontos positivos e negativos dos candidatos, pausa para a descontração.

"Poca bala"

Interior de Uruguaiana, Vila do Açude. Boteco lotado. O cara entrou, fechou a porta e gritou:

- Tô armado com uma pistola 9mm, dois carregadores com 12 balas cada um.

- Quero saber aqui quem é que anda pegando a minha mulher?

Depois daquele silêncio, seu Fagundes, alegretense do Caverá, 88 anos, lá do fundo levanta e diz:

-Chê, não quero te dizer nada, mas acho que tu trouxe poca bala....

(Historinha enviada por um ícone da propaganda brasileira, meu amigo Roberto Dualibi)

Pontos positivos e negativos

Ligeiro painel com os aspectos positivos e negativos dos principais candidatos.

Luis Inácio

Aspectos Positivos

Mito – O último líder populista – Alto recall – Grande visibilidade - Liderança maior do PT - Lidera todas as intenções de votos (chegando a 30% em algumas pesquisas) - Bom de palanque – Capacidade de mobilização – Capacidade de vitimização.

Aspectos negativos

- Preso, deverá ser impedido de candidatar-se; condenação pela Justiça. Recaem sobre ele e outra figuras do PT parcela dos relatos de coisas ilícitas, lá de trás do mensalão, e desembocando na operação Lava Jato.

Jair Bolsonaro

Aspectos positivos

Maior ícone da extrema direita; visão nacionalista; grande visibilidade; encarna oposicionismo ao petismo. Tem 20% das intenções de votos. Discurso emocional de forte apelo popular (porta-voz da indignação); imagem de quem tem pulso para garantir a "ordem" no país; defesa da segurança pública como principal bandeira; livre, até o momento, de denúncias de corrupção; político mais influente nas redes sociais (5,3 milhões de seguidores no Facebook e 1 milhão no Twitter).

Aspectos negativos

Falta de conhecimento sobre assuntos como economia e políticas sociais; 29% de rejeição; 7 segundos de tempo de rádio e TV; inexperiência política no Executivo; dificuldade de articulação política (inexpressivo como parlamentar) e para fazer alianças; discurso e imagem de radical e intolerante; poucos recursos e tempo de rádio e TV no horário eleitoral; homofóbico, encarna o discurso da discriminação contra grupos na área de gêneros; desperta polêmica que sugere armamento da sociedade.

Ciro Gomes

Aspectos positivos

Tem bom domínio da economia; visão do país, em função de cargos ministeriais assumidos e de já ter sido governador do Ceará e prefeito de Fortaleza. Bom formulador, capcioso debatedor de tema nacionais. Alto conhecimento no Nordeste.

Aspectos negativos

Destrambelhado, língua solta e ferina, queima possibilidades de alianças, gerando medo na classe política. Visão muito fechada sobre temas do agrado dos setores produtivos – reformas da Previdência, Tributária, Trabalhista, etc.

Geraldo Alckmin

Aspectos positivos

Governador de São Paulo por três vezes, presidente do PSDB, ex-deputado Federal, com bom trânsito na área política, Alckmin leva a fama de ser habilidoso, suave, harmônico, de muito equilíbrio. Conta, em tese, com o maior eleitorado do país, São Paulo, com seus 35 milhões de eleitores; apoio do mercado financeiro; moderado e previsível em suas ações; peso eleitoral do PSDB em Estados e municípios e espaço para alianças partidárias; recursos financeiros e tempo de propaganda favoráveis (projeção de recursos do fundo eleitoral para o PSDB: R$ 185,8 milhões; e quase 5 minutos no bloco partidário para uso no rádio e TV.

Aspectos negativos

Falta-lhe contundência, capacidade para ser mais incisivo (um murro na mesa), que compunha a coluna vertebral do falecido governador Mário Covas, a quem Alckmin serviu na gestão e com quem muito aprendeu. Comenta-se sobre sua postura (a dos tucanos, como se comenta) de ficar em cima do muro.

Henrique Meirelles

Aspectos positivos

Foi o mestre do programa econômico do atual governo, merecendo loas pelo controle da inflação, juros baixos e resgate (apesar de ainda muito suave) da economia, após a maior recessão da contemporaneidade.

Aspectos negativos

Não tem trânsito/acesso fácil junto aos convencionais do MDB, sem carisma, possui uma fala arrastada e cansativa, e, até o momento, amargando míseros 1% de intenção de voto.

Marina Silva (Rede)

Aspectos positivos

- 16% das intenções de voto; imagem de figura pública ética; reconhecida por história de superação pessoal (identificação com eleitor); reconhecimento internacional como liderança ambiental; 42 milhões de votos acumulados nas duas últimas eleições; única força política a ameaçar a polarização PT e PSDB nas últimas eleições.

Aspectos negativos

23% de rejeição; tempo de rádio e TV (estimado): 12 segundos; projeção de recursos do fundo eleitoral para a Rede: R$ 10,7 milhões; dificuldade de aliança com outros partidos; desgaste na esquerda pelo apoio dado a Aécio Neves no segundo turno em 2014; vista como frágil e como quem não se posiciona em momentos de crise política; sérias dificuldades na criação da Rede, com dissidências e bancada pequena no Congresso.

Álvaro Dias (Podemos)

Aspectos positivos

Imagem de político combativo; não teve o nome envolvido na Lava Jato nem em escândalos recentes; boa avaliação como governador no Paraná e capital político (77% dos votos válidos na última eleição para o Senado) em um Estado importante; discurso permanente de combate à corrupção e em defesa da moralidade da coisa pública; apenas 13% de rejeição.

Aspectos negativos

Poucos recursos e tempo de rádio e TV no horário eleitoral (12 segundos); pouco conhecido nacionalmente; dificuldade de alianças; partido pouco estruturado nacionalmente.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.