Porandubas Políticas

Porandubas nº 581

A pergunta continua sem resposta: quem vai para o 2º turno?

11/7/2018

Abro a coluna com uma historinha do Rio de Janeiro.

Lugar de almirante

Sandra Cavalcanti era deputada da Arena, foi ao interventor Faria Lima:

– Almirante, tenho três reivindicações do partido para tratar com o senhor.

– Pois não, deputada.

– A primeira é a transferência de um fiscal do Estado para a capital. Ele está no interior, mas é um funcionário antigo e já merece uma posição melhor.

– Deputada, lugar de fiscal é na fiscalização. Qual é a segunda reivindicação?

– É um gari doente, governador. Não pode ficar tomando chuva. Queríamos levá-lo para a sede da Comlurb, mas o Marcos Tamoyo não concorda. O senhor podia falar com ele?

– Deputada, lugar de gari é na rua. Qual é a terceira?

– Uma professora de Campo Grande. Por problemas de família, precisa vir para a Secretaria.

– Lugar de professora é na escola, deputada. Só isso?

– Só, governador. Muito obrigada, até logo. E antes que me esqueça: lugar de almirante é no navio.

E foi embora.

(Da verve de Sebastião Nery)

SDS

A menos de três meses das eleições, a pergunta recorrente continua sem resposta: quem vai para o 2º turno? Os horizontes estão fechados. Será que há alguma semelhança com o pleito de 1989? Cerca de 20 candidatos, os protagonistas do centro dispersos e dois candidatos das margens ganhando passaporte para o segundo tempo do jogo: Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, as interrogações se multiplicam. SDS – Só Deus sabe.

Jus sperneandi

Direito de espernear. Mais que isso: esperneando o PT chama a atenção. Essa é uma razoável explicação para a "favrética" decisão do juiz plantonista do TRF-4, desembargador Rogério Favreto (donde pinço o neologismo), que autorizava a libertação do ex-presidente Lula. Só faltou Sua Excelência expressar de público sua condição de "petista de carteirinha". Foi assessor do petismo por muito tempo. O fato abriu polêmica nessa friagem que toma conta do Sul e do Sudeste nesses dias de reversão de expectativas com o desempenho de nossa seleção na Copa do Mundo na Rússia.

A estratégia do PT

De pronto, urge lembrar que a recorrente e sempre anunciada estratégia do PT é a de utilizar todos os meios possíveis para alcançar a meta eleitoral: elevar seu candidato presidencial ao 2º turno, fazer uma grande bancada de deputados Federais e estaduais, livrar-se da enrascada que queima atores políticos e, acima de tudo, passar para outros protagonistas a culpa pelos graves entraves que impedem a caminhada do país rumo ao crescimento. O PT foi o responsável pelo buraco gigantesco em que está afundado o país. Usando artifícios e mistificação, tenta transferir essa carga pesada para os ombros do atual governo.

Animando a militância

O fato é que a decisão "favrética" atingiu o objetivo. Pegou de chofre a população ainda mastigando os restos da derrota dos nossos jogadores na Copa. A soltura de Lula decidida por Sua Excelência, o desembargador Rogério, funcionou como um beliscão na quase adormecida militância do PT, que acordou para vibrar com o episódio. A inesperada entrada em ação do juiz Sérgio Moro, que está de férias, era o que o PT também queria. Ou seja, o despacho de Moro determinando a continuidade da prisão é, para o PT, prova de parcialidade do juiz de Curitiba em relação aos processos de Lula, sob sua responsabilidade.

Querela jurídica

A querela jurídica que se instalou fez com que o caso Lula, que ameaçava entrar na gaveta da rotina, voltasse às manchetes. O juiz, mesmo de férias, pode entrar em ação, se seu nome é ventilado numa polêmica decisão, dizem juristas do porte de Carlos Mário Velloso. Juiz é juiz em todos os dias. Mesmo em dias de descanso. Até se aposentar. Já outros dizem que Moro deveria ter ficado em silêncio ou jogado o caso para o juiz original da 2ª instância, o desembargador Gebran Neto. A querela mexeu com os brios de membros do MP, que pedem ao CNJ a punição de Favreto. E bateu na porta do STF, onde a presidente Cármen Lúcia acabou produzindo uma nota recheada de platitudes.

Politicagem

A volta de Lula ao noticiário central faz parte da liturgia que o PT ensaia para inscrever seu nome como candidato, dia 15 de agosto, puxando os militantes para as ruas, abrindo o verbo solto de Gleisi Hoffmann, continuando a farta coleção de recursos – que deverão, ainda, chegar ao TSE, ao STJ e ao próprio STF. Para lembrar: só o caso do Tríplex no Guarujá ganhou 75 recursos. O PT deverá ir com Lula ao processo eleitoral até que a mais alta Corte dê uma decisão para ele sair do páreo. Já se sabe que o partido não se conformará com eventual decisão do TSE de não aprovar sua inscrição como candidato. Estão previstos recurso ao STJ e, caso este confirme posição do TSE, mais recurso deverá bater no STF.

Laurita dá um carão

A presidente do STJ, desembargadora Laurita Vaz, acaba de dar um "carão" no desembargador Rogério Favreto. É o que podemos aduzir de sua decisão de negar um dos muitos habeas corpus que entraram na Corte em defesa de Lula. Ela disse que o plantonista não poderia ter mandado libertar o ex-presidente no domingo. Segundo ela, Favreto causou "perplexidade" e "intolerável insegurança jurídica". E teria ocorrido um "tumulto processual, sem precedentes na história do Direito brasileiro". Defendeu Sérgio Moro e a atuação do presidente do TRF-4, desembargador Thompson Flores. A presidente do STJ foi dura e direta. Considerou a decisão de Rogério Favreto como "inusitada e teratológica", uma vez que está em "flagrante desrespeito" a decisões já tomadas pelo TRF-4, pelo STJ e pelo Supremo Tribunal Federal.

Haddad

Fernando Haddad, dessa forma, ficará no banco aguardando sua vez de participar do jogo. Sob o impulso das cartas de Lula, da prisão, e dos recados do seu exército de advogados, Haddad dará um salto – de 4% para 12%. Pode até avançar mais. A depender do clima social em setembro, o ex-prefeito de São Paulo poderá crescer ou permanecer em um patamar próximo aos 15%. Correrá aos Estados com o fito de frequentar os palanques de candidatos petistas ao governo e ao Parlamento. Essa estratégia do PT foi bem pensada. O Partido não estará morto, como chegou a desabafar o ex-todo poderoso ministro José Dirceu ao aposentado Newton Hidenori Ishii, o Japonês da Federal, ressuscitando das cinzas a que tem sido jogado desde o mensalão.

Indefinições

O PT, portanto, ganha mais espaço dentro da algaravia nacional, usando Lula como aríete para abrir muralhas e invadir arsenais de votos. Busca firmar parcerias com partidos de esquerda, sendo sua jóia da Coroa o PSB da viúva de Eduardo Campos. O PC do B e o PSOL estarão com o candidato petista que vier a disputar o 2º turno. Mas a hipótese de o PT ficar fora do segundo tempo da disputa eleitoral prevalece. E quem está sendo aguardado para os 45 minutos finais?

2º turno

A voz corrente, essa que esquenta as conversas de fim de tarde e de noites homenageando Baco, é de que uma vaga pertence ao ex-capitão Bolsonaro. Este consultor acaba de chegar do Nordeste onde sentiu o crescimento da onda bolsonariana. É evidente que o deputado continua frequentando os primeiros lugares nas projeções. Mas este consultor ainda não se convenceu de que sua passagem para o 2º turno é garantida. Entre as razões, o fato de que, até o momento, disporá de ralos segundos para explicitar seu pensamento no espaço de mídia eleitoral. Ademais, ele próprio reconhece ignorância sobre os grandes temas nacionais. Lembre-se que 65% do eleitorado confessam ainda não ter escolhido seu candidato.

A onda racional

Estamos surfando nas ondas bolsonariana, gomista (de Ciro Gomes) e silvana (de Marina Silva). São fundamentalmente ondas emotivas, comandadas pelo coração. Há certo fervor por parte dos surfistas dessas ondas. Mas a onda racional ainda não deu as caras. Trata-se da onda que agrega os polos mais críticos de formação de opinião, como contingentes de classes médias, reunindo profissionais liberais, pequenos e médios empresários, proprietários, grupos da burocracia estatal, etc. Esses eleitores examinam de forma atenta a moldura eleitora, fazem comparações, ouvem discursos e deixam para depois uma tomada de posição. Consciente. Mais cabeça e menos coração. A tendência é que esses núcleos decidam perfilar ao lado de candidaturas mais centradas e menos engajadas nas extremidades do arco ideológico.

Quem?

Deixo ao critério do leitor/eleitor responder a pergunta: quem será a atração central? Deixo aqui uma lista: Álvaro Dias, João Amoedo, Flávio Rocha, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles.

Horizontes nos Estados

Nos Estados, persistem as nuvens plúmbeas, pesadas, cinzentas. Com exceção de alguns poucos, as apostas nos Estados não chegam a sinalizar vencedores. Em Pernambuco, Ceará e Bahia, a paisagem parece mais clara, indicando a reeleição dos atuais governantes, Paulo Câmara (PSB), Camilo Santana e Rui Costa (PT). Ganhariam o passaporte pelo bom desempenho em suas tarefas. E mais: os índices de indefinição nos Estados são altos. O NV – Não Voto (abstenções, votos nulos e brancos) oscila entre 40% a 45%. Muito alto.

Rejeição

Atenção, candidatos e assessores: vejam com cuidado e preocupação os índices de rejeição de seus candidatos. Há maneiras de atenuar esse efeito deletério, não de eliminá-lo. No meu blog, www.observatoriodaeleicao.com, vocês poderão conferir algumas abordagens para administrar o fenômeno.

O discurso de Itabaiana

Fecho com Jessier Querino, este famoso cronista oral da política nordestina. Aqui, o trecho inicial do famoso discurso de Amâncio Tranquilino Sossegado em Itabaiana/SE. Candidatos, que lógica calibrará seus discursos?

"A lógica política experimental pós-aristotélica do município de Itabaiana causou profunda decodificação moral, cética, estóica e principalmente existencial. Há aqueles que procuram obter a todo custo uma hegemonia política sectária forte, porém dogmática, utilizando meios plutocráticos pseudo-progressista, dentro de uma visão aristocrática, independente e desqualificada. Dentro desse quadro alienante, retrógrado, discriminativo e policialesco não podemos nos curvar à mera condição de espectador que ali vivem tão somente deste processo minoritário e repressivo. Precisamos dar um basta. Basta à subjugação hierárquica endocêntrica. Basta à ação tática provocativa intransigente. Chega de avaliações restritivas e pessoais. Itabaiana precisa de uma reflexão ampla e independente. Urge atender às aspirações prioritárias reais do nosso povo. Com intuito de promover uma coalizão consensual, descompromissada da situação tecnocrática legalista existente, propomos uma profunda transformação pragmática e pluralista de todos os representantes políticos e lideranças comunitárias deste município".

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.