Porandubas Políticas

Porandubas nº 571

Gaudêncio Torquato apresenta alguns traços da situação político-eleitoral.

25/4/2018

Abro a coluna com uma historinha de Jânio em Cuba.

Cadê a pistola de Fidel?

"Ir-me-ei a Cuba. Encontrar-me-ei com Fidel Castro para ver e aprender o que estão fazendo por lá".

O anúncio feito por Jânio Quadros em 1960 deixou de cabelos em pé os correligionários da UDN, partido conservador pelo qual concorria à presidência da República. Mas não houve quem o demovesse da ideia. O encontro com Fidel e Che Guevara na embaixada brasileira em Cuba foi regado a álcool e muitas histórias. Durante três hora e meia, a comitiva brasileira ouviu Fidel narrar empolgantes episódios da revolução. Nenhum copo ficou desguarnecido de rum durante o evento - o que se pode deduzir pela cara dos personagens na foto. Na saída, após abraços afetuosos, Fidel foi buscar a pistola que havia deixado na recepção da embaixada, a mesma que o acompanhava desde a revolução cubana. Após longos e tensos minutos, o embaixador Vasco Leitão da Cunha comunicou, assustado, que a arma histórica havia desaparecido. "Bem, só espero que quem a levou faça bom uso dela, como nós em Sierra Maestra", respondeu Fidel. (Historinha enviada por Manuel Rezende Correa- CEO do Grupo Saint-Gobain)

Hauly e a reforma tributária

Este consultor ficou deveras impressionado com o vasto conhecimento expresso pelo experiente deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) na área dos tributos. É o relator da reforma tributária. Tanto em uma exposição pessoal quanto na aula que proferiu para empresários e políticos reunidos no 17º Fórum Empresarial, realizado em Recife, Hauly deu provas de denso domínio da matéria. A reforma tributária se faz absolutamente necessária. Ainda este ano. Não haverá perda de receita como teme a Receita Federal. O presidente Michel Temer e o ministro Eduardo Guardia devem se tranquilizar. O país ganhará mais uma alavanca para modernizar seu sistema de tributos. Parabéns, Hauly.

Quem vai ser presidente?

Essa foi a pergunta mais recorrente que este consultor recebeu no denso 17º Fórum Empresarial, ocorrido no Sheraton Reserva do Paiva no Cabo de Santo Agostinho, em Recife. Pelo menos um ligeiro desenho da situação político-eleitoral foi apresentado. Para quem não teve oportunidade de ouvir e, para os muitos leitores de Porandubas, apresento alguns traços do cenário, a começar pela nebulosa que obscurece as visões. Vamos lá.

Dispersão

Primeira observação: o pleito está muito perto, mas parece longe. Será daqui a pouco mais de cinco meses, mas dá impressão de que é coisa para 2019. Segunda: a planilha de pré-candidatos é vasta, contendo uns 20 perfis, que, decantadas as águas, deverão se estreitar em uma dúzia. Terceira: as forças de centro-esquerda tomam fôlego nesses tempos nebulosos, eis que alguns de seus integrantes receberão votos do custodiado Lula da Silva. Mais precisamente: ganham força Marina Silva, Ciro Gomes e Joaquim Barbosa. Quarta: os candidatos do centro estão dispersos, formando um arquipélago de ilhas distantes.

O meio e as pontas

O meio disperso favorece as pontas, a extrema direita e a extrema esquerda. Na direita, Bolsonaro reina isolado. Na esquerda, Lula continua liderando, mas à medida que a ficha for caindo no sistema cognitivo do eleitor, candidatos do centro-esquerda podem captar parcela dos votos lulistas. Mesmo com toda a pressão do PT, é praticamente impossível garantir a elegibilidade de Lula. Ciro Gomes tende a abocanhar parcela do lulismo no Nordeste; Joaquim se transforma em um logotipo ambulante; Marina, asséptica, pode avançar na direção do voto dos jovens. Mas o centro tem condições de reagir. E vai tentar.

MDB, DEM e PSDB

No centro, aparecem os nomes de Geraldo Alckmin, Michel Temer, Rodrigo Maia e Henrique Meirelles. Este consultor tende a crer que estes nomes e mais outros deverão, mais adiante, fazer uma avaliação de suas posições. O presidente Temer deverá ter seu índice aumentado, a partir de comunicação mais pesada sobre os feitos do governo em curto espaço de tempo. Maia também poderá ver subir sua avaliação. Trata-se de grande articulador. Meirelles, nesse caso, ficaria de stand by. Vai depender da decisão de Temer.

60 a 70% de chance

E Alckmin? Se subir na escada da intenção de voto, pode atrair forças centrais. Mas os tucanos não são bem vistos pelo leque partidário. São considerados autossuficientes e em cima do muro. Os tempos de rádio e TV do MDB, DEM e PSDB, juntos, abririam grande visibilidade para um candidato comum aos três partidos. Se esses três partidos se unirem, as chances de ter seu candidato no segundo turno ficam entre 60 a 70 numa régua de 100. Em São Paulo, as negociações para um acordo entre MDB e PSDB avançam. Paulo Skaf, ao que se sabe, luta contra essa possibilidade. É pequena sua chance de se eleger governador.

O potencial de MT

Se a comunicação do governo conseguir mostrar e demonstrar os grandes avanços do país no curto tempo de governo, o presidente pode ter seus índices melhorados. É o que inúmeros interlocutores apontam. O fato é: há abissal distância entre as coisas boas e avançadas feitas pelo governo e a avaliação negativa que dele se faz. Algo está errado. O MDB tem formidável espaço de mídia eleitoral. Somado ao espaço do DEM e do PSDB, os três partidos teriam condições de posicionar bem sua candidatura. Por outro lado, partidos médios, como o PSD de Kassab e o PP, além dos pequenos seriam atraídos pela força dos grandes.

O meio termo de Alckmin

E Geraldo Alckmin vai subir? Depende. Primeiro, vai depender da evolução das investigações que o MP tem solicitado. O ex-governador passou a ser alvo do tiroteio. Segundo, a índole de Alckmin é a do equilíbrio, da harmonia, valores que, nesses temos de batalhas campais e sangrentas, parece destoante. Cobra-se dele uma palavra incisiva, um murro na mesa. Se não tivesse tão tíbio por ocasião das denúncias contra o presidente Temer, o MDB já teria fechado parceria com o tucanato.

Na redoma de São Paulo

Alckmin é a cara de São Paulo, aqui confinado desde a era Covas, não sendo conhecido no país. Poderia ter circulado mais solto pelas regiões. Quarto, não se conhece uma grande ideia do ex-governador. Trata-se de um bom gestor atuando no dia a dia. Sem projetos de forte impacto. É o que se comenta.

Pode ser o imã?

O crescimento de Alckmin vai depender do clima eleitoral nos idos de julho. Lava Jato avançando ou recuando, acordos entre os grandes partidos, evolução das esquerdas etc. O PSDB tem estruturas em todo o país. São Paulo será decisivo com seu colégio eleitoral de 35 milhões de eleitores. Se Alckmin for bem avaliado e levar uma grande bacia de votos no Estado poderá compensar a perda de votação no Nordeste, que tem 27% dos votos válidos do país. São Paulo tem 24% dos votos válidos. E Minas Gerais, o 2º maior colégio eleitoral? Com Aécio Neves fora do jogo, resta ao PSDB apostar na chance do senador Antônio Anastasia para o governo. E se este não for candidato? Alckmin perderá largo palanque.

Rio e Bahia

No Rio e na Bahia, votos para a esquerda estão garantidos. Sob a imagem de Sérgio Cabral, que acumula uma pena de mais de 100 anos, será inviável a eleição de um governista para substituir Pezão. Eduardo Paes saiu do MDB para o PP, pode ser candidato, mas sua imagem ainda se liga a Cabral. Já a esquerda, com Chico Alencar, Freixo ou outro, poderá levar a melhor no Rio, 3º colégio eleitoral. Na Bahia, o candidato Rui Costa, do PT, é o favorito. Com a desistência de ACM Neto, que preferiu continuar como prefeito, Costa alavanca suas chances. Bahia é o 4º colégio eleitoral do país.

Quem no lugar do Lula?

Luis Inácio está fora do jogo como candidato, mas não como eleitor. E o PT não deve demorar para colocar alguém em seu lugar. O partido precisa garantir seu porte. Daí a necessidade de ter palanque em todos os Estados. Esperar pela palavra final do TSE sobre a elegibilidade de Lula é protelar uma campanha, que já será curta. (O ministro Gilmar, porém, admite a possibilidade de uma decisão da segunda Turma resultar na libertação de Lula). Para ter palanque, urge ter candidato. Um perfil para puxar votos e eleger bancadas estaduais e Federais de deputados. Haddad se firma como o nome mais adequado. Depois que Jaques Wagner foi alvo de denúncias, seu cacife arrefeceu. Haddad não terá chances, mas o PT, como partido, deve eleger um grupo de governadores e uma bancada razoável. Diz-se que Lula deu liberdade ao PT para o partido tomar decisões. Querelas internas ganharão volume.

Ciro, Barbosa e Marina

Um desses tem possibilidades de entrar no 2º turno. Ciro Gomes é o mais político e com melhor conhecimento da realidade brasileira. É destemperado, sem papas na língua, o que poderá prejudicá-lo. Marina tem ótima imagem, mas deixa passar fragilidade ante as pressões políticas e incapacidade de lidar com a contundência e o combate a céu aberto. Joaquim Barbosa tem uma grande história de vida. Subiu os degraus da escada da vida, desde o mais baixo. Chegou a ser presidente da mais alta Corte do país. A ele faltaria jogo de cintura, capacidade de dançar na corda bamba da política. Não aguentaria o tranco. Exemplo arrematado da dinâmica social brasileira. Os três, principalmente Marina, terão curto espaço de mídia eleitoral. Guilherme Boulos, do MTST, lançado pelo PSOL, será o fogueteiro da campanha. E Manuela d'Ávila, com bela estampa, poderá até aumentar sua cota no vácuo deixado na esquerda pela saída de Lula.

Álvaro Dias

Trata-se de um senador, que transita na área central, e tem boa imagem. Mas seu Podemos, novo partido, sofre limitações: estrutura, tempo de rádio e TV etc. Portanto, estaria diante do grande desafio: tornar-se conhecido no país. No Sudeste, há sinais de que fará boa performance, a partir de seu Estado, o Paraná.

Rocha, Amoedo, Rabello e Afif

Flávio Rocha, do PRB, João Amoedo, do Partido Novo, Paulo Rabello de Castro, do PSC, e Guilherme Afif Domingos, do PSD, formam o eixo mais forte do liberalismo clássico. Rocha, que vem do grupo Riachuelo, ao lado da defesa de princípios liberais, transita pelas veredas do conservadorismo, inclusive com matiz religioso do evangelismo (Igreja Sara Nossa Terra, bispo Rodovalho). Ele conta com o eleitorado evangélico, que chega a somar um terço da população eleitoral. Certa importância. P.S. Anunciou que vai ele mesmo bancar sua campanha.

Nova disposição

Amoedo é um liberal com ideias firmes no terreno do Estado restrito a cumprir suas funções constitucionais. Rocha conhece bem a política, tendo sido deputado por dois mandatos. E já foi candidato a presidente uma vez, desistindo no meio da campanha. Amoedo é centralizador e seu Partido Novo queima eventuais perfis da velha política que nele desejem ingressar. Disporão de pouco tempo e estruturas para tornar conhecidos seus ideários. Ambos, porém, trazem sangue novo e uma nova disposição para o pleito. Ponto em comum entre Rocha e Amoedo: ambos têm raízes familiares no RN. Flávio Gurgel Rocha nasceu em Recife, em 14 de fevereiro de 1958, é empresário filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB). Foi presidente das Lojas Riachuelo, terceira maior rede de moda do país. João Dionísio Filgueira Barreto Amoedo nasceu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1962, é bancário, engenheiro, administrador de empresas, economista, ativista político e palestrante brasileiro. Fundador do Partido Novo. Rabello, um dos mais renomados pensadores e economistas do país, deixou ótima impressão em Recife, ao participar do 17º Fórum Empresarial do Brasil – LIDE, e Afif, desfraldando a bandeira dos batalhadores do pequeno e médio empresariado! Rabello será o candidato do PSC e Afif pode sair pelo PSD!

Resumo da ópera

Em síntese, consideremos o arco ideológico dividido em três partes: a esquerda, o centro e a direita. Com imbricações e interpenetrações de alguns limites - o centro abocanhando espaços à sua direita e à sua esquerda, e estas áreas invadindo roças do centro. A média eleitoral deve contemplar mais o centro do que as margens. Digamos que o centro abocanhe entre 40% a 50%. Com as margens perfazendo, cada uma, 30% a 25%. Um pouco mais para lá ou para cá. Se houver muita dispersão, o 2º turno poderá abrigar candidatos até com 15% a 18%.

Bolsonaro tem chances?

Não, se formos aplicar um modelo racional de política. Sim, se avaliarmos suas chances pela régua emotiva. Pelo olhar racional, trata-se de um perfil não bem preparado. Sabe o elementar de economia. Seu principal discurso é na área da segurança pública. Representa o império da ordem, o uso da força para combater a bandidagem. "Bandido bom é bandido morto". "Soldado bom é soldado que mata". Defende distribuição de armas aos fazendeiros. Ganha aplausos de corações aflitos ante a corrente de insegurança.

Tempo escasso de mídia

Terá poucos segundos para dar seu recado na TV e no rádio. Portanto, será canibalizado por candidatos com grande tempo de mídia. Como a política não tem regras, as emoções da massa abrem espaço para ir em frente. Este consultor, porém, não crê em suas reais chances. Ou seja, terá poucas possibilidades de sustentar seu índice de intenção de voto.

Tempo de TV

Face à campanha mais curta - de 90 para 45 dias e de 45 dias para 35 de mídia eleitoral - o fator comunicação será de importância capital. Mais que nos pleitos passados. Daí o intenso trabalho dos líderes para fechar alianças e parcerias. O corre-corre é grande.

Joaquim versus Bolsonaro

As pesquisas atestam que em um 2º turno com Joaquim Barbosa e Jair Bolsonaro, o juiz venceria o deputado. O juiz carrega a marca da ética. O deputado simboliza o ideário da segurança. A questão é: quem garante que um dos dois estará no 2º turno?

PSB rachado

O PSB, em sua maioria, quer ver Joaquim Barbosa como seu candidato. Essa ala é a comandada pelo presidente do partido, Carlos Siqueira, apoiado pela família Campos (do falecido Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco). Mas o atual governador de São Paulo, Márcio França, defende o apoio do PSB ao pré-candidato Geraldo Alckmin. O filho de Eduardo, João Campos, que será candidato a deputado, apóia Barbosa. Foi o que este consultor viu nesses últimos dias no 17º Fórum Empresarial do Lide em Recife.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.