Porandubas Políticas

Porandubas nº 566

O clima se mostra pesado, com alas brandindo armas nas redes sociais, ainda mais com o assassinato de Marielle Franco.

21/3/2018

Abro com uma historinha de Pernambuco.

O verbo não "vareia"

A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista interveio, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens".

- Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa.

- Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo e verbo não "vareia".

(Historinha contada por Ivanildo Sampaio).

O ódio está no ar

O clima social está quente. Nesse inicio de pré-campanha eleitoral, quando não se sabe ainda quais os reais competidores, o clima se mostra pesado, cheio de zangas, com alas brandindo armas nas redes sociais e nas movimentações. Vejamos. O assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson, após a comoção social, ameaça abrir a polarização ideológica. Fake news invadem as redes acusando a ex-vereadora de envolvimento com Marcinho VP. Até uma desembargadora do Rio entra na onda de acusações mentirosas. Verbos da esquerda e da direita exibem elevada taxa de ódio.

Lula no sul

O ódio apareceu também nesse começo de andança de Lula por regiões do Rio Grande do Sul. Em Bagé, fazendeiros e trabalhadores fizeram piquete com tratores e carroças, atrapalhando o percurso do comandante petista. Poucos apoiadores apareceram. A praça sulista abriga um forte pensamento conservador, situação que deveria ter sido analisada pelos organizadores do tour. Lula, em seu primeiro discurso, falou por oito minutos. Pouco. O desânimo parece se alastrar no território petista e adjacências.

Esquentamento dos motores

Mas o desânimo que se observa nas hostes petistas parece ter vida curta. O calvário de Lula não começou. O PT já trabalha com a perspectiva de sua prisão, logo após decisão do recurso (embargos de declaração) no TRF-4. Se essa situação se confirmar, a pólvora poderá incendiar ruas. É até provável que não se vejam grandes mobilizações. Mas a militância petista é forte e se engaja na luta com facilidade. A prisão de Lula é a senha para o petismo tentar acender uma grande fogueira. Conseguirá?

Nordeste vermelho

O Nordeste tem cerca de 28% dos votos do país. E em algumas capitais Lula consegue exibir a confortável taxa de quase 60% de intenção de voto. Em Maceió, capital das Alagoas de Renan pai e Renan filho, Lula é ídolo. (Os Renans usarão Lula como bengala eleitoral). De 40% a 50% - esta tem sido a média de Lula na região. Portanto, o calvário do ex-presidente, a partir da prisão, pode disparar um continuum de movimentações por capitais, grandes e médias cidades. A cor vermelha do MST, MTST, CUT et caterva será vista nos telejornais. O petismo pretende ressuscitar o "Nós e Eles".

Perdendo força

O contra-ataque deverá vir dos bastiões anti-petistas, a partir de candidatos dos grandes partidos. Portanto, é razoável inferir que a força petista jamais será a mesma. Tende a arrefecer, fenômeno que deverá acontecer a partir do Sudeste, particularmente de São Paulo, com seus 33 milhões de eleitores, chegando perto da votação de todo o Nordeste. O PT fará enorme esforço para eleger boa bancada Federal. Se eleger 50 deputados, será muito. Já na searas estaduais, a situação parece mais confortável aos projetos de reeleição em Minas Gerais (Fernando Pimentel), Bahia (Rui Costa), Ceará (Camilo Santana), Piauí (Wellington Dias) e Acre (Tião Viana).

Lula, o eleitor-chave

O PT pensa em transformar Lula em mártir. Mais: perseguido pelo Judiciário ou, usando o palavreado petista, pelas elites. Teremos, assim, Lula como o eleitor com a chave para encher as urnas. Se for preso, deverão emergir da garganta lulista palavras cheias de gasolina, necessárias para fazer ferver o sangue da militância. Se não for preso, pode-se esperar Luiz Inácio subindo em palanques em todas as regiões.

Polarização voltará?

É evidente que o petismo quer muito resgatar a polarização entre "nós" (petistas) e "eles" (a zelite). Sem dúvida, parte desse discurso pode até bater bumbo em alguns cantos, mas o país está farto de engodo. O ciclo lulo-petista-dilmista abriu gigantesco buraco nas contas do Tesouro. Sofremos a maior recessão econômica da contemporaneidade. E o eleitor, mesmo os de classes sociais empobrecidas, está mais crítico e observador. Principalmente o eleitor das periferias das metrópoles. Uma brisa mudancista bate no sistema cognitivo do eleitorado, abrindo espaços para um voto mais racional.

O quadro paulista

Com a vitória de João Doria nas prévias tucanas, ocorridas no último domingo, o quadro paulista começa se fixar nos vãos eleitorais. Teremos, então, Doria (PSDB) e Marcio França (PSB) como os maiores protagonistas da competição. Desafios de Doria: explicar e convencer o eleitorado a razão pela qual abandonou a prefeitura no meio do mandato; expressar um bom domínio sobre as temáticas mais sensíveis à população. Desafios de Marcio França: tornar-se conhecido do eleitorado; exibir um substancioso programa de governo.

França, apoio do PMDB

Uma grande novidade na área de Marcio França é o apoio de cerca de 70 prefeitos do PMDB, dentre os 82 que o partido tem no Estado. França assumirá o governo em abril próximo, com a saída do governador Geraldo Alckmin, que se desincompatibiliza para se candidatar à presidência. Com a caneta na mão, ele tem condições de fechar um largo laço de alianças, fundamental para seu desempenho eleitoral. O PTB, de Campos Machado, também está fechando com ele.

Doria, comunicação

João Doria, por sua vez, tem um grande trunfo: conhece bem as maneiras, técnicas e métodos da comunicação. Nesse ponto, deverá ser o mais comunicativo. Sofrerá ataques. Muitos consideram-no portador de uma ambição descomunal.

Skaf, limitado

Paulo Skaf, o presidente da FIESP, deverá ser candidato mais uma vez ao governo pelo PMDB. É pouco provável que cresça. Skaf não agrega traços de inovação. Seu estilo é autoritário. Sua expressão é pobre. Não domina temáticas de cunho social. E mesmo temas econômicos mais complexos não são sua praia. E mais: no próprio PMDB, seu partido, é visto com grandes reservas.

Marinho, fraca identidade

Luiz Marinho é um sindicalista das antigas. Mesmo tendo sido prefeito de São Bernardo, a marca do sindicalismo está estampada em sua testa. Ou seja, não tem uma identidade à altura do mais forte Estado da Federação. Não quer dizer que um sindicalista não possa ser eleito governador. Não é bem isso, mas o fato de que sua viseira sindicalista é curta para contemplar a dimensão gigantesca de um Estado como São Paulo.

O DEM

O Democratas será um dos partidos mais prestigiados. Deverá receber um número razoável de deputados até 7 de abril, data de fechamento da janela eleitoral. A dúvida recai sobre a candidatura de Rodrigo Maia à presidência da República. Vai colar? Maia é um grande articulador. Se não crescer nas pesquisas, poderá voltar a ser deputado e concorrer à presidência da Câmara mais uma vez.

Sonho de Alckmin

O sonho de Geraldo Alckmin seria puxar ACM Neto como vice em sua chapa. A Bahia é o quarto colégio eleitoral do país. Sudeste e Nordeste, assim, fariam um pacto com forte viabilidade eleitoral.

Novos ministros

Nos bastidores, multiplicam-se as pressões e contrapressões para indicar os próximos ministros. Uma enxurrada de nomes deixará a Esplanada dos Ministérios para se candidatar. Muitos querendo arrumar um cargo no Parlamento para ganhar foro privilegiado.

Marketing eleitoral

Ciclos da campanha

Orientação para candidatos e assessores: estabelecer adequado cronograma dos ciclos da campanha, que, como se sabe, possui cinco ciclos: lançamento, por ocasião da Convenção; crescimento, entre quatro e cinco semanas após a Convenção; maturidade/consolidação, quando a campanha se firma no sistema cognitivo do eleitor, após ampla visibilidade; clímax, momento em que o candidato alcança seu maior índice de intenção de votos; e declínio, quando o candidato tende a cair nas pesquisas de opinião. Todo esforço se faz necessário para o clímax ocorrer na semana das eleições. A dosagem dos ciclos há de obedecer ao funil da comunicação - jogando-se mais água (volume de comunicação/visibilidade) na segunda quinzena de setembro. Candidato que começa a decair antes do tempo corre o perigo de morrer na praia.

Planejamento de campanhas

Este consultor chama a atenção para o planejamento do marketing das campanhas. Que abriga metas como estas: 1) priorizar questões regionalizadas, localizadas, na esteira de um bairro a bairro, ou seja, fazer a micropolítica; 2) criar um diferencial de imagem, elemento que será a espinha dorsal da candidatura, facilmente captável pelo sistema cognitivo do eleitor; 3) desenvolver uma agenda que seja capaz de proporcionar "onipresença" ao candidato (presença em todos os locais); 4) organizar uma agenda contemplando as áreas de maior densidade e, concentricamente, chegando às áreas de menor densidade eleitoral; 5) entender que eventos menores e multiplicados são mais decisivos que eventos gigantescos e escassos; 6) atentar para despojamento, simplicidade, agilidade, foco para o essencial, mobilidade, propostas fáceis de compreensão e factíveis. Esse um resumido escopo de planejamento.

Índice de intenção de voto

Índices de intenção de voto servem para quê? Breve resposta: índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 35 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre.

Peru não morre de véspera

A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.