Abro a coluna com uma historinha do Pará.
Um que vale por muitos
O Pará já teve políticos muito engraçados. Um deles, João Botelho, foi interventor, deputado e constituinte. Certo dia encontra um cabo eleitoral:
– Como vai? E senhora sua esposa? E as crianças?
– Tudo bem, deputado. Minha mulher está ótima. Mas, por enquanto, é só um menino, certo?
– E eu não sei que é um filho só? Mas é um menino que vale por muitos. Então, como vão os meninos?
Segurança, tema central
A questão da segurança pública será o eixo principal do discurso eleitoral. Não apenas pela decisão do governo Federal de intervir na segurança pública do Rio de Janeiro, mas pelo reconhecimento de que todas as unidades da Federação convivem com violência crescente, que tem se expandido na esteira da crise. Alguns Estados do Nordeste estão em situação calamitosa. Os índices de assaltos e roubos crescem assustadoramente. O RN é um deles. O Ceará acaba de receber um grupo especial de policiais (das forças especiais e da PF) para apoiar as ações contra a criminalidade.
A grande surpresa: São Paulo
O grande destaque no mapa da segurança nacional é São Paulo. O Estado mais populoso da Federação, com cerca de 46 milhões de habitantes, tem registrado queda em seus índices de violência: assaltos de todos os tipos, roubos, assassinatos, etc. O Estado investe pesadamente na segurança. Novos equipamentos, informatização das redes policiais (registros eletrônicos), integração das polícias civil e militar, efetivos nas ruas, esforço para fazer das delegacias ambientes mais acolhedoras – uma política de humanização – qualificação dos quadros, tudo sob o comando de um perfil sereno, harmônico e eficaz, o ex-procurador de Justiça Mágino Alves Barbosa Filho, seguramente um dos melhores secretários de segurança dos últimos tempos. Este consultor teve oportunidade de registrar o panorama da segurança pública em São Paulo em palestra feita pelo secretário.
Um trunfo para Alckmin
O governador Geraldo Alckmin terá, portanto, um trunfo a apresentar: um discurso de resultados na área da segurança pública. Mesmo sabendo que é muito difícil "vender" o produto "segurança", os dados de São Paulo, comparados com os do Brasil como um todo e de outros Estados, exibem forte diferença.
O risco do governo Federal
A população do Rio de Janeiro aprova maciçamente a intervenção na segurança pública do Estado decidida pelo governo Federal. As Forças Armadas serão recebidas com aplausos. É um fato. Mas o governo enfrenta um grande risco. Imaginemos conflitos e mortes no embate entre gangues e as forças. Partidos de oposição e mídia não deixarão de dar os seus tiros. Sabe-se que as Forças Armadas não são especializadas para fazer segurança pública. Mas o Rio de Janeiro vive um drama cotidiano. O Estado está sob o império da violência e da bandidagem. Os tanques, os quadros bem armados causam sensação de segurança.
Suporte sócio-educativo
Critica-se a intervenção por não ser apoiada por um conjunto de ações de caráter sócio-educativo. Tem procedência a crítica. Realmente o embate pelo embate pode redundar em contenção imediata da bandidagem, mas no longo prazo tudo pode voltar à situação de antes. Se a intervenção fosse acompanhada de programas nas áreas do saneamento, saúde, educação, certamente os ambientes mais saudáveis comporiam a moldura de melhorias que dificultaria os negócios das drogas e das armas. Como fazer isso emergencialmente? Difícil.
Outros Estados
E se outros Estados fizerem o mesmo tipo de apelo, como fez o governador Pezão, que reconheceu a falência do RJ em matéria de segurança pública? Haverá meios, recursos, condições? O que se consegue distinguir é o envio de grupos de policiais, como este enviado ao Ceará por apelo do senador Eunício Oliveira, presidente do Senado.
Um tento
Se tudo der certo, o governo Federal e, particularmente o presidente Michel Temer, acrescentarão alguns pontos positivos à sua imagem.
Interventor - I
O general do Exército Walter Souza Braga Netto, comandante militar do Leste indicado interventor para a segurança no Rio de Janeiro, conhece bem a violência carioca, e pelo lado mais doloroso: seu irmão Ricardo, então oficial da Marinha, foi assassinado em 1980 na ponte Rio-Niterói quando tentava evitar um assalto. Uma parcela de emoção entra na disposição do general.
Interventor – II
Braga Netto atuou como coordenador-Geral da Assessoria Especial para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos e seu trabalho foi considerado exemplar. O Comando Militar do Leste coordena, controla e executa as atividades administrativas e logísticas do Exército nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Abrange 141 organizações e mais de 50 mil militares, ou 24% do efetivo da Força Terrestre. É a maior concentração de tropas e escolas militares da América Latina.
Interventor – III
Mas nem uma tropa enorme como essa pode ser capaz de combater ou eliminar o que parece ser a maior das tragédias do Rio de Janeiro: a corrupção que corrói a polícia e toda a máquina estatal do Estado do Rio. Aí é caso para muitos anos de inteligência. A esperança é que o general Braga, militar experiente e sensato, seja coroado de sucesso em sua missão.
Avanço no jornalismo: JC
Se há um avanço a se registrar no jornalismo televisivo, ele se abriga no Jornal da Cultura, que vai ao ar às 21h15. Pilotado até semana passada por Willian Corrêa, o telejornal ganha aplausos plurais pela coleção de debatedores – cerca de 20 nomes – que, em rodízio, comentam uma longa pauta temática, propiciando dessa forma ao telespectador uma visão plural e substantiva dos fatos do cotidiano nacional e internacional. Willian, infelizmente, deixa a condição de diretor de Jornalismo da TV e âncora do jornal. Vai para Angola dirigir a TV Zimbo, uma de suas criações. Nele distinguem-se os valores da eficiência, simplicidade, modéstia e companheirismo, com os quais fez um batalhão de admiradores e amigos, a partir da bancada de debatedores que formou.
Homenagem
Willian será homenageado por seus amigos de bancada no próximo sábado. Deixa uma boa marca no jornalismo brasileiro. Será substituído por seu braço direito no jornalismo da emissora, Ricardo Taira, competente, dedicado e experiente jornalista. Um editor de grande capacidade técnica. A TV Cultura, sob o comando de Marcos Mendonça, continuará abrindo trilhas de qualidade.
O plano B
Rodrigo Maia e Eunício, os presidentes das duas Casas parlamentares, não receberam bem a ideia de um programa de alavancagem da economia, 15 medidas apresentadas como um colchão econômico para aliviar a frustração com a saída de pauta da reforma da Previdência. Por que a indignação pública de ambos? Pelo fato de que 11 medidas já seriam objeto de projetos que tramitam na Câmara? Coisa requentada?
Interferência?
Mas esse requentamento seria motivo para a contrariedade de Rodrigo e Eunício? O Executivo estaria interferindo na pauta do Legislativo? Talvez este seja o real motivo. Por essa razão, infere-se que os articuladores políticos do governo, a partir do ministro Marun, deveriam ter feito, antes, a lição de casa. Ou seja, conversado com os dois presidentes para sondar o assunto.
França, Doria e Virgílio
O governador Geraldo Alckmin deverá apoiar um candidato do seu PSDB em São Paulo. O vice-governador Márcio França (PSB) contará com o apoio de alguns partidos, o que aumenta substancialmente seu tempo de mídia eleitoral: 18 minutos. João Doria deve ser apadrinhado por Alckmin. As prévias no PSDB estão marcadas para dia 18 de março, e o segundo turno para o dia 25. Já na área Federal, o prefeito de Manaus Arthur Virgílio continua dizendo que vai enfrentar prévias. Muitos tucanos tentam demovê-lo da ideia em nome da unidade do PSDB. Virgílio, um exímio lutador de jiu-jitsu, parece irremovível.
Russomano?
Márcio França continua a costurar alianças para encorpar sua candidatura e já convidou o deputado Celso Russomano (PRB-SP) para compor a chapa como vice. Não será tarefa fácil ganhar o apoio do PRB, eis que os candidatos do partido à Câmara precisam de um puxador de votos na legenda para alimentar a bolsa eleitoral de alguns. Outro pré-candidato tucano a governador, o ex-senador José Aníbal, afirma que há espaço para duas candidaturas da base de Geraldo Alckmin. Como seria a participação de Alckmin em dois palanques? Complicado.
Panela de pipoca
Seria muito difícil para Alckmin navegar com um pé em cada canoa. A ebulição política em São Paulo no momento se assemelha mais a uma panela de pipoca.
Flávio Rocha
A desistência do apresentador de tevê Luciano Huck de se candidatar à presidência levou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a mirar seu facho de luz para o empresário Flávio Rocha, dono das lojas Riachuelo. Flávio patrocina importante projeto para o país, o movimento "Brasil 200", de feição liberal. Nega qualquer aceno na direção de uma candidatura presidencial. Já foi deputado Federal por duas vezes. Estava lá na Constituinte. Argumenta que essa lembrança do ex-presidente FHC chega tarde. Teria pouco tempo para viabilizar seu nome.
EUA: cinco questões
Na campanha entre Bill Clinton e Bob Dole, em 1996, cinco questões básicas relacionadas a valores permitiam prever se alguém votaria num ou noutro. Os que deram respostas predominantemente conservadoras votaram em Dole. Aqueles cujas respostas relevaram que estavam menos comprometidos com os valores tradicionais votaram em Clinton. As perguntas eram as seguintes:
"1. Acredita que sexo antes do casamento seja moralmente errado?
2. A religião é importante na sua vida?
3. Já se interessou por ver pornografia?
4. Tem opinião mais desfavorável sobre alguém que engana o cônjuge?
5. O homossexualismo é imoral?"
(Dick Morris em Jogos de Poder)
Princípios estratégicos
Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos: a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.