Abro a Coluna com as coisas engraçadas do mineiro.
Da burrice e da engenharia
Era uma vez.....
Viajando pelo interior de Minas, o arquiteto Marcos Vasconcelos encontrou um grupo de trabalhadores abrindo uma estrada:
– Esta estrada vai até onde?
– Muito longe, muito longe, doutor. Atravessa o vale, retorce na beirada da serra, quebra na esquerda, retoma pela direita, desemboca em frente, e vai indo, vai indo, até chegar a Ponte Nova, passando por baixios e cabeceiras.
– Vocês têm engenheiro, arquiteto, teodolito, instrumentos de medição?
– Num tem não, doutor. Nós tem um burro, que nós manda ir andando, andando. Por onde ele for, aí é o melhor caminho. Nós vai picando, picando.
– E quando não tem burro?
– Aí não tem jeito, doutor; nós chama um engenheiro mesmo.
O arquiteto seguiu adiante filosofando sobre as artes da burrice e da engenharia.
O ano eleitoral
Esta é a primeira coluna do ano. O compromisso deste espaço é o de fazer uma leitura acurada e apurada do ambiente social, político e econômico. Claro, pelas características do ano, darei ênfase à abordagem eleitoral. Pretendo ajudar os leitores e protagonistas da política a entender o que se passa a seu redor. E vou começar analisando as chances de eventuais candidatos à presidência da República, com os prós e contras que balizam seus perfis.
Lula I
É o maior líder político do país. Tem perfil encravado na ponta esquerda do arco ideológico. É o que mais assume a condição populista. Exerce influência sobre as massas. Principalmente as incautas. Mas causa medo a importantes grupamentos sociais, a partir das classes médias. Lula está no epicentro da Lava Jato. Tenta se desvencilhar do rolo em que está metido. Será julgado. Com alta possibilidade de ser condenado pela 2ª. instância - o TRF da 4ª Região. Deverá se vitimizar. Dizer-se vítima dos poderosos e da Justiça. A militância se prepara para fazer barulho em 24 de fevereiro.
Lula II
Lula não mais mantém poder de incendiar o país. Porque, nos últimos tempos, ele e outros quadros do PT têm sido alvo de intenso bombardeio. Da mídia e de setores organizados. O mercado reage a ele negativamente. Carrega forte poder eleitoral no Nordeste, mas perde espaço no Sudeste. Está, hoje, na dianteira das pesquisas. Amanhã, tende a cair. A campanha deverá atirar pesado sobre ele. Alijado, escolherá um substituto. Que pode ser Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Um desempenho fraco.
Alckmin I
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deverá ser o candidato tucano. Seu desafio: atrair para sua aliança os grandes partidos, a partir do MDB. Geraldo é portador da síndrome do muro: é criticado pela mania de ficar no meio do problema, sem decidir por um lado ou por outro. O MDB desconfia dele. Alckmin sabe que só terá sucesso se for o candidato das maiores forças do centro. Se o centro se diluir e apresentar outros candidatos, a fragmentação acabará beneficiando os perfis das pontas esquerda e direita. São Paulo será o grande avalista do governador. Se sair daqui com enorme bacia de votos, terá vantagem. O maior colégio eleitoral do país poderá se transformar em fator de diferença.
Alckmin II
Geraldo Alckmin encontrará desafios pela frente: além de convencer partidos a caminharem juntos com o PSDB, terá de escolher o candidato ao governo de São Paulo. Quem? Marcio França, o vice-governador, que assumirá o governo em abril? João Doria, o prefeito e pupilo que continua com seu nome na parada? José Serra, o senador? Um passo falso nessa vereda pode diminuir as chances de Alckmin. É vital ganhar em São Paulo. João Doria poderia ser a opção. Até pode fechar as portas do PSB, mas tem condições de abrir as portas de outros partidos, como o PSD de Kassab. Basta que este seja o vice na chapa de Doria.
Bolsonaro
Jair Bolsonaro existe como candidato à presidência da República por ter destemido exército nas redes sociais. O capitão é a gripe da estação. Que tende a passar. Principalmente quando for exposto por inteiro pela mídia massiva. Não resistirá ao foguetório que se abaterá sobre ele (mas em política, o imponderável costuma dar as caras. Bolsonaro pode ser o imponderável? É possível). Terá curtíssimo tempo de exposição na TV. A conferir.
Álvaro Dias
Podemos ou não podemos? Senador Álvaro, acho que, desta feita, o senhor não deverá sentar na cadeira presidencial. Seu perfil é muito regional, limitando-se ao Paraná e adjacências. A não ser que consiga ser o único candidato das forças do Centro. Abro, portanto, uma fresta, senador. Podemos, seu partido, ainda é uma pálida alternativa para poder (?) viabilizar uma candidatura presidencial.
Henrique Meirelles
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá carrear prestígio na esteira da recuperação da economia. Pode ser o candidato das forças governistas. Mas enfrenta imensa dificuldade: não tem traquejo político. Poderia se enrolar no pacote de alianças. E não tem carisma. Com sua fala difícil de ser compreendida, pode ser um perfil a não deslanchar. Meirelles terá até abril para se viabilizar como candidato dos partidos governistas.
Rodrigo Maia
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem grande potencial. Demonstrou ser um líder capaz de mobilizar a esfera política em sua gestão como presidente da Câmara. As vitórias do governo – reformas – na Câmara se devem muito ao comando de Maia. Que pode ser um candidato mais palatável das forças de centro. É mais jovem que Meirelles, faz parte do jogo político, exibe flexibilidade para a formação de parcerias e alianças.
Marina Silva
A ex-senadora Marina Silva continua tendo uma imagem limpa, asséptica, despojada, simples. Mas passa a impressão de não ter forças para resistir ao rolo compressor da política. Exibe algum grau de ingenuidade. A pureza que emoldura seu perfil pode ser devastada pelo jogo sujo da política. Seu partido – Rede Sustentabilidade - ainda não tem estrutura para aguentar, sozinho, uma campanha. E terá dificuldades para fazer alianças, a par de reduzido tempo de rádio e TV.
Ciro Gomes
O PDT embarca com o nome do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes. Como é sabido, Ciro porta uma metralhadora ambulante. Fala o que muitos ouvidos não querem ouvir. É o mais combativo dos perfis que desfilam no cenário presidencial. O PDT tende, porém, a se isolar. Se Lula for impedido de ser candidato, a situação de Ciro melhora bem. No Nordeste, ele poderá ser bem votado. Trata-se de pessoa bastante conhecida na região. Mas no Sudeste, o maior colégio eleitoral, o pedetista não empolga.
E O MDB?
Em São Paulo, o MDB tende a caminhar com Paulo Skaf. Um candidato com o letreiro na testa: sou presidente da FIESP e quero governar São Paulo. O fato é que Skaf terá muitos poréns a enfrentar. Passa imagem de aproveitador do sistema SESI, acha-se poderoso. Mesmo assim, parece ter conquistado a boa vontade de Baleia Rossi, presidente do MDB estadual e de próceres do partido. O presidente da FIESP sairia melhor como candidato ao Senado. Sem carisma, mas pessoa obstinada. No Plano nacional, o MDB deverá coordenar o esforço para encontrar o candidato das forças centristas: Alckmin? Meirelles? Maia?
O DEM
Fará aliança com os partidos de centro. E poderá ceder um de seus quadros para ser vice da chapa presidencial. O nome mais visível e forte para ser vice de Alckmin, por exemplo, é o do prefeito de Salvador, ACM Neto. Que faz boa gestão. Sairia da Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do país, vestindo o manto da jovialidade.
PT contra Globo?
O PT entrou na Justiça contra a TV Globo. Tenta processar o canal por causa da entrevista de Luciano Huck ao Faustão, domingo passado, dizendo que o animador estaria fazendo campanha eleitoral. É para gargalhar. Huck não se apresentou como candidato. Negou, até, a possibilidade, dizendo querer ajudar o país incentivando o eleitorado a escolher melhor seus candidatos. Enquanto isso, Lula corre o país, diz ser candidato, anuncia que será eleito etc. Ou seja, faz campanha prévia. O que é proibido. Mas o PT nega isso. Gleisi, a presidente do PT, e Lindenberg Faria, líder do partido no Senado, são mesmo "cara de pau".
4 milhões de votos a mais
No mais recente levantamento do TSE, realizado em novembro de 2017, o Brasil contava com 146.717.893 eleitores, um crescimento de 2,65% na comparação com outubro de 2014, data da última eleição presidencial no país. São 3,9 milhões de votos a mais daquela época, quando o eleitorado somava 142,8 milhões de pessoas.
Mulheres, maioria
Dentre o último número de eleitores apurado, 76,88 milhões são mulheres (52,4%); 69,75 milhões são homens (47,54%), e 0,05% (78 mil eleitores) não declararam o sexo. Em 2014, a parcela de homens era de 47,79%, mulheres 52,13%, e eleitores sem sexo declarado, 0,08%.
Em 24, 34 milhões
Ainda nos dados mais atuais, somente 24 municípios do País somam, juntos, 34 milhões de votos (23,9% do total de eleitores). Essas cidades contam com mais de 500 mil eleitores cada. Na ponta contrária, 92% dos municípios do Brasil possuem, juntos, 58 milhões de pessoas. São 5125 cidades com até 50 mil eleitores cada.
Biometria
Um dado curioso é a expansão do número de urnas biométricas. Nas eleições presidenciais de 2014, 23,8 milhões de pessoas votaram com biometria, enquanto que 118,6 milhões não puderam utilizar essa identificação. O número avançou – quase o dobro – nas eleições municipais de 2016, quando as urnas biométricas alcançaram 46,3 milhões de eleitores, um aumento de 94%.
Justiça Trabalhista
O ano foi bastante intenso na Justiça do Trabalho. Somente na vice-presidência do Tribunal Superior do Trabalho, até dezembro, foram proferidos mais de 70 mil despachos e 4,1 mil julgados no Órgão Especial. Segundo o ministro vice-presidente do TST, Emmanoel Pereira, o total de soluções da atual gestão ultrapassa 112 mil, média em torno de 5 mil por mês.
Conciliações
Em tempos de crise e de reivindicações, trabalhadores de diversos setores da economia buscam seus direitos por meio de greves e manifestações. De acordo com a vice-presidência do TST, os acordos mais significativos firmados por meios da atuação conciliatória em 2017 foram com os empregados da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, com os trabalhadores dos Correios e com os aeronautas. Certamente tais acordos evitaram transtornos ainda maiores para toda a sociedade.
Fases da campanha
As principais armas de um profissional de marketing político para ajudar uma campanha são: capacidade e sensibilidade para captar, com muita propriedade, as indicações das pesquisas; visão abrangente de todos os eixos de uma campanha, não se atendo apenas aos programas de TV, como muitas vezes ocorre com os publicitários engajados nas campanhas; poder de influência sobre o candidato, principalmente no que concerne ao foco do discurso; ter noção adequada do timing de campanha, ou seja, das seguintes fases: lançamento do candidato (junho), crescimento (julho), consolidação (agosto/setembro), auge/clímax (final de setembro/semana da eleição), declínio. Este é o ciclo de vida de uma campanha. Se o declínio ocorrer antes da semana da eleição, não tem quem sustente a posição do candidato. Um candidato que se preocupa apenas com o primeiro turno, poderá morrer antes de chegar à praia. É preciso saber ouvir o som do vento. Quando o vento sopra numa direção, na direção de crescimento, por exemplo, não há força que consiga deter seu rumo.