Ronaldo Cunha Lima
Abro a coluna com engraçadas historinhas envolvendo o poeta, historiador, ex-senador, ex-deputado e ex-governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, figura sempre bem lembrada nos causos de política. Quem conta é Diógenes da Cunha Lima, o grande poeta e escritor, seu primo e presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras em seu livro sobre "Ronaldo Cunha Lima, um nordestino de todo canto".
O nome é Glauce
Quando lhes nasceu a filha, a princesa da casa, "A doce paz que me aquieta" foi sugerido o belo nome Raquel. Ronaldo nega. Queria Glauce. E atacou com a caricatura da fala do nordestino:
- Quando ela pedir alguma coisa e não souberem bem o que é, vão dizer : Qué qui Raqué qué?
Bondade
Na "Convenção dos Cunha Lima", em Pirangi, mostro a Ronaldo o brasão familiar com o lema que inventei: A bondade vence. Ele acrescenta:
- A Bondade vence, mas é melhor quando... Convence.
Um escritor carioca, laureado, em roda de admiradores, fala sobre suas desventuras em Recife. Ronaldo não gostou da apresentação:
- Este aqui é um nordestino. Que veio advogar no Rio é poeta sonetista.
O escritor, com ares superiores, proclama:
- Soneto é a minha pátria. Hoje mesmo, pela manhã, fiz este soneto. E recita.
Ronaldo contesta:
- Não pode ser. Só se lhe baixou um espírito, foi psicografado. Conheço este soneto desde menino. Penso que é de um velho poeta português.
- Que história é essa?
- Posso provar, diz Ronaldo. E recita os 14 versos.
Depois, sorrindo, explica que decorou o poema na hora, ao ouvir a leitura.
Lula e Bolsonaro
Leio e pasmo: Bolsa cai e dólar sobe por causa de pesquisa do Ibope, que mostra Lula, com 35%, e Bolsonaro, 13%. O mercado estaria reagindo negativamente ao quadro apresentado. O pior é constatar que analistas e comentaristas entram na onda dessas pesquisas que não retratam o que efetivamente ocorrerá no país em outubro de 2018. A partir da possibilidade de Lula vir a se candidatar, tudo gira em torno de uma grande interrogação.
Condenação na 2ª instância
A maioria das projeções, hoje, aponta para eventual condenação de Lula na 2ª instância. Mas, se não houver consenso na Turma em que será julgado, a candidatura de Lula será levada adiante, na esteira de uma interpretação ensejada pelo STJ, a de que nesses casos, recursos (de embargos infringentes) podem ser apresentados. Portanto, a tese de que só poderá ser impedido após sentença transitada em julgado continua sendo defendida.
As circunstâncias
Aceitemos, portanto, a hipótese da candidatura Lula. Terá ele adversários e um repertório pesado de denúncias e acusações o espera. O legado que o PT deixou no país não passará em brancas nuvens. O país deverá continuar a recuperar seus níveis de emprego, a inflação deve continuar seu controle e os juros tendem a permanecer em índice de queda. Lula aguentará? Difícil responder, mas a lógica dos tempos eleitorais indica que as circunstâncias do momento determinarão sua posição no ranking.
BO+BA+CO+CA
A economia puxará o trem da política. Logo, a velha equação que sempre lembro dará o tom: Bolso com dinheiro, Barriga satisfeita, Coração Agradecido, Cabeça tende a votar com os patrocinadores da boa situação. A recíproca é verdadeira. Lula será, claro, uma vedete no Nordeste, onde o eleitorado, mesmo sob bombardeio sobre ele, o admira, considerando-o o Pai dos Pobres. Mas o Sudeste, com o maior bolsão eleitoral do país, pode funcionar como a pedra jogada no lago. Ondas concêntricas se formarão até chegar às margens. O Sudeste, nesse caso, será a tuba de ressonância eleitoral.
Transferência
Lula terá condições de transferir sua votação caso seja impossibilitado de ser candidato? Pouco provável. Apenas uma parcela de seus eleitores poderia seguir sua recomendação. A parcela mais engajada e contrita e restrita ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A campanha será realizada sob um novena de palavrórios contra a roubalheira e contra a bandidagem na política. Poucos escaparão ao bombardeio. Será um verdadeiro tiro ao alvo.
Bolsonaro
Este deputado, ao contrário das projeções de alguns analistas políticos, não terá chances de chegar ao segundo turno. As galeras que hoje lhe fazem festa nos aeroportos não conseguirão ter votos suficientes para torná-lo altamente competitivo. Há uma tendência de querer ver um candidato de direita para se contrapor a Lula, mas será pouco provável uma escapada das massas pela banda direita. Da mesma forma que Lula, a identidade de Bolsonaro será exposta e seu despreparo será evidenciado.
Perfil do centro
Este consultor insiste em manter sua visão de que o país examinará a moldura de perfis, mas, na reta final, tenderá a adotar a linha do meio. In médium, virtus – a virtude está no meio. Não há nomes a citar nesse momento. Mas os valores da harmonia, do equilíbrio, do bom senso, do apaziguamento de ânimos, da pacificação do país devem compor o discurso ansiado pela comunidade. Paz e não guerra continuada – essa seria a bandeira hasteada no coração nacional.
Outsiders?
A eleição de um outsider não é coisa fora de propósito no contexto da política pós-sociedade industrial, onde se amontoam as mazelas que corroem as democracias, como a desideologização, o declínio dos partidos, o declínio dos parlamentos, o declínio das oposições, a personalização do poder, a ascensão das tecnoestruturas e o aparecimento de novos circuitos de representação, como associações, sindicatos, federações, núcleos, grupos, movimentos de toda a ordem. O deslocamento da política tradicional para outros espaços é uma realidade aqui e alhures.
Cacareco
O momento e as circunstâncias induzem a comportamentos inusuais da base política, como a eleição de um Cacareco. Lembremos: em 1959, com a morte de Getúlio Vargas, sob o governo de Adhemar de Barros, em São Paulo, o eleitorado indignava-se contra vereadores paulistanos. Na campanha, apareceu o rinoceronte Cacareco (na verdade uma fêmea), vindo do Rio emprestado para abrilhantar a inauguração do zoológico. O empréstimo era por seis meses. Passado o tempo, os paulistanos fizeram um movimento para que o animal de 230 quilos aqui ficasse. Um movimento decidiu pela candidatura de Cacareco a vereador com este slogan: "vale quanto pesa". Um matreiro candidato saiu à rua carregando uma onça, apostando no slogan: "eleitor inteligente vota no amigo da onça".
100 mil votos
Na época o voto era num pedaço de papel que o eleitor colocava em envelope recebido do mesário. Gráficas imprimiram milhares de cédulas com o nome do bicho. Cacareco recebeu 100 mil votos, quando o candidato mais votado naquele ano não ultrapassou 110 mil votos. Infelizmente, Cacareco não pode comemorar. Foi devolvido ao zoológico do Rio, vindo a morrer poucos anos depois, antes de completar 10 anos. (O coração não resistiu a tanta emoção). A revista Time acabou dando ênfase à frase de um eleitor: "é melhor eleger um rinoceronte do que um asno".
Um perigo
A revolta do eleitorado se faz ver na frase comum em todos os rincões: "todo político é ladrão". Infelizmente, o país corre esse risco, que o levaria a uma crise de proporções inimagináveis, porquanto um Huck ou outra celebridade não teria condição de "pôr o guizo no gato", administrar a complexidade da nossa política: 35 partidos, sistema bicameral com duas casas congressuais, presidencialismo de coalizão, etc. Teria de se submeter ao DNA de uma cultura, cujas raízes estão fincadas nas roças do fisiologismo, do nepotismo, do grupismo, do coronelismo. Nem Marina Silva, com roupagem ética, ou mesmo Ciro Gomes, com sua metralhadora expressiva, resistiriam ao poder de mando da nossa representação, 513 na Câmara e 81 no Senado. Nomes fora da política terão condições de administrar um país com sua crise política crônica.
Rodrigo Maia
A CEBRASSE – Central Brasileira de Serviços homenageará Rodrigo Maia, presidente da Câmara, com o Título de Personalidade Política do Ano, graças ao seu empenho e ao seu comando na esfera parlamentar, principalmente por ocasião da aprovação da Lei da Terceirização e da Reforma Trabalhista. Rodrigo foi, inquestionavelmente, figura de primeira grandeza na aprovação de projetos importantes para o país. Graças a ele, a agenda do Executivo conseguiu caminhar bem. Merece todas as homenagens. Será no dia 4/12, no Buffet Dell'Orso à rua Tuim, 1.041 - Moema, na capital paulista. O almoço reunirá 200 empresários dos setores de serviços.
Meirelles
O ministro Henrique Meirelles diz achar "interessante" uma candidatura a vice-presidente da República. Se a economia efetivamente se recuperar bem, vale a pena trocar a declaração: "serei candidato à presidência da República". Meirelles só pensa nisso. E o PSD do ministro Gilberto Kassab alimenta a ideia.
Justiça trabalhista
Deve esbarrar no STF a disposição do MPT e alguns juízes de não cumprirem as disposições emanadas na Reforma Trabalhista e na Lei da Terceirização. A Anamatra, Associação dos Magistrados do Trabalho, pilota a contrariedade. O ministro Ives Gandra Filho acredita que o enquadramento de juízes e procuradores deve ser feito pelo cabresto do Supremo. A conferir.