Depois de alguns dias, voltamos com Porandubas. Deixamos os "causos" da política, desta feita com o folclórico ex-governador Newton Cardoso, mais adiante, no fecho.
A crise da segurança I
A segurança pública desafia os Poderes do Estado. O que se vê é a extensão da crise endêmica que o país assiste, há muito tempo, no devastado território dos cárceres. Espaços com imensas limitações, esses depósitos de presos são artifícios que não dão suporte efetivo à segurança pública. Suas populações são superdimensionadas. Tornaram-se escritórios centrais dos chefões e chefetes de facções. O diagnóstico do vasto arsenal de violência já é conhecido. Resta agir. Cortar as veias econômicas dos grupos. Saber lidar com as informações dos cárceres. Separar os participantes. Julgar 250 mil presos que esperam decisão da Justiça.
A crise da segurança II
Não são apenas recursos financeiros que estão no cerne do problema. Claro, os cárceres precisam ser mais robustos, seguros, tecnologicamente equipados. Mas falta coordenação entre as forças de segurança, os aparatos estaduais e as equipes de inteligência. O que temos, hoje, é um ninho de serpentes guardado numa casca de ovo. Basta uma leve bicada para furar a casca. Os Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e entidades da sociedade organizada devem manter permanente mobilização no entorno da questão.
Forças armadas
O governo federal disponibilizou as Forças Armadas para operar nas prisões. Os governos estaduais devem fazer a solicitação. Trata-se de uma medida mais forte. Mas a integração dos órgãos de inteligência é fundamental para eficácia operacional do sistema de segurança.
Maia versus Arantes
Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Jovair Arantes (PTB-GO) estão em plena campanha para a presidência da Câmara na próxima legislatura. Rogério Rosso (PSD-DF) está desistindo do pleito. O ministro Gilberto Kassab teve influência nessa decisão. Jovair quer entrar pelos vãos do Centrão. Mas o bloco parece não ter a mesma força dos tempos de Eduardo Cunha. Hoje, os números favorecem Maia. Mas Arantes é determinado. O governo se mantém equidistante, mas há quem veja cabos eleitorais governistas trabalhando com fôlego para Maia.
O pior já passou ?
Henrique Meirelles diz que o "pior na economia já passou". Com a inflação em queda e a taxa Selic diminuindo, a fala do ministro ganha certo vigor. Mas o desemprego continua alto e sem dar sinais de entrar em descenso. O economista Francisco Lopes, diretor da Macrométrica, sai da linha do pessimismo para proclamar : país vai crescer 1,4% (na média) este ano.
Ufa, conseguiu
Guilherme Boulos, o raivoso comandante do MTST, lutou, lutou, até que conseguiu : foi preso por incitação à violência durante uma ação de reintegração de posse em São Mateus, região de São Paulo. Boulos agora vai vestir o manto de mártir. Poderá dizer que foi preso ilegalmente. Discurso de palanque.
Janot sai ou fica ?
Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, cujo mandato termina em setembro, vai tentar ser reconduzido ao cargo. Sofrerá resistência de um grupo de procuradores. Mas não é improvável sua recondução. O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti, foi procurado por um grupo de pré-candidatos para tratar do cronograma da campanha. Pela Constituição, cabe ao presidente da República nomear o procurador-geral para mandato de dois anos, sendo possível a recondução ao cargo. Não há limite para reconduções.
Davos
O Fórum de Davos foi aberto ontem pelo presidente chinês Xi Jinping. Uma bela oportunidade para a China se apresentar na estampa de líder da economia mundial. Meta que pretende atingir nos próximos anos. Dos EUA participam o vice-presidente Joe Biden e o secretário de Estado, John Kerry. Donald Trump entra, sexta-feira, no cenário mundial como a maior incógnita dos tempos de globalização. Sua aprovação, às vésperas da posse, baixou para 40%.
Cabral e o risco
Há quem continue a sinalizar perigo para Sérgio Cabral, preso em Bangu I. Ali estariam criminosos que mandou prender. Mas as autoridades do Rio garantem não haver ameaça de presos chegarem ao espaço onde se encontram o ex-governador e sua mulher.
Otimismo
A confiança dos executivos brasileiros na melhora de seus negócios ao longo dos próximos 12 meses mais do que dobrou em comparação com o início do ano passado. É o que registra a 20ª pesquisa anual da consultoria PwC, que coloca o Brasil como vice-campeão em confiança no mundo. Para 57% dos executivos do país ouvidos no levantamento, a perspectiva é de aumento das receitas em suas empresas ao longo de 2017.
Lula no comando
Não há outro nome : Lula vai voltar a presidir o PT. E nessa condição, voltará a fazer seu tour pelo Brasil. Para recuperar a confiança do povo no governo. É o que diz na maior cara de pau, tentando apagar da história o maior rombo das contas públicas já feito no país pelo ciclo de 13 anos do PT no poder.
Inserção tucana
É certo que os tucanos terão maior inserção na estrutura governamental. Isso já está acertado. Aécio ganha mais força. O deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA) será o secretário do governo, encarregado da articulação política. Um perfil qualificado.
Alexandre
O ministro Alexandre de Moraes é considerado uma pessoa que fala muito. E, às vezes, diz coisas inconvenientes. Muitos querem vê-lo distante do Ministério. Será difícil, porém, afastá-lo do cargo nesse momento em que lidera as novas disposições governamentais. Ademais, vale lembrar que Alexandre é um tucano muito próximo a Geraldo Alckmin. Que olha com certa desconfiança os avanços de Aécio Neves na estrutura governativa.
Soares e Tiradentes
Ao retornar de Portugal, onde compareceu ao enterro do ex-presidente e ex-primeiro ministro de Portugal, Mário Soares, o presidente Michel Temer conta que certa vez foi visitá-lo. Ao chegar à Fundação onde o ex-dirigente socialista trabalhava, surpreendeu-se com um busto de Tiradentes na entrada. Veio logo a explicação do próprio Soares :
- Trata-se de minha homenagem a um brasileiro injustiçado pelos portugueses. Minha maneira de reparar o terrível erro cometido por nosso país.
Abram uma porteira
Delfim Netto é um dos melhores interlocutores de Michel Temer e um assíduo frequentador dos almoços de sexta-feira no escritório do presidente em São Paulo. Ao lado de conselhos, relata com graça fatos e feitos do passado. Em 1972, foi ao Nordeste com o então presidente Médici. A seca devastava a região, com dois milhões de nordestinos trabalhando em obras. Quando viu aquela cena – milhares de pessoas nas estradas empoeiradas – Médici esbravejou para ministros e assessores :
- Abram uma porteira para esse povo sair. Abram logo uma porteira.
E assim surgiu a Transamazônica. A monumental estrada que puxou milhares de nordestinos para a região. Fugindo da seca.
Nessa época o Brasil crescia 12% ao ano. (em 1973, o crescimento foi de 14%). O que motivou Médici a proclamar :
- A economia está bem. Mas o povo vai mal.
Churchill
Em 1940, entre o dramático episódio da Retirada de Dunquerque e a épica Batalha da Inglaterra, Churchill realizou um memorável discurso no Parlamento Britânico. Andrew Roberts diz em seu livro Tempestade da guerra – Uma nova história da Segunda Guerra Mundial : após proferir este discurso, e enquanto ainda era intensamente ovacionado, Churchill sentou-se ao lado do ministro conservador Walter Elliot e cochichou preocupado com a possibilidade de os alemães atravessarem o Canal da Mancha :
"Não sei como vamos combatê-los – creio que teremos de quebrar suas cabeças com garrafas – as vazias, é claro".
A beleza dos arcos
Aplausos ao prefeito João Doria por decidir limpar as horrorosas pinturas (que mais parecem carrancas) na praça dos Artesãos Calabreses, mais conhecida pelos "Arcos de Jânio". A carranca de Hugo Chávez mais parece uma assombração. Se aquilo é arte...bom, deixemos de lado a controvérsia. Lembremos : o ex-prefeito Fernando Haddad, pedalando na ciclovia do bolivarianismo, permitiu a grafitagem na região. Arrebentou a estética dos arcos construídos entre 1875 e 1877 por imigrantes italianos que viviam na região.
Jânio abriu os arcos
A história registra que a região degradou-se com casarões construídos há décadas. Transformaram-se em cortiços. Em 1987, o então prefeito Jânio Quadros determinou a desapropriação e demolição de casas na rua da Assembleia, quando foram redescobertos os arcos. A bela iluminação amarela voltou a destacar a estética do monumento. Que Haddad destruiu. João Doria vai resgatar a beleza do lugar com seu projeto Cidade Linda.
Descriminalização
A descriminalização das drogas pode ocorrer nos próximos tempos. Basta que o STF conclua a votação já iniciada. O caso está pendente de um pedido de vista do ministro Teori Zavascki. Três ministros já proferiram seus votos : Luís Roberto Barroso votou pela descriminalização por uso limitado de até 25 gramas de maconha ; Edson Fachin votou pela descriminalização do uso da maconha, enquanto Gilmar Mendes votou pela descriminalização do uso de todas as drogas.
Tempos duros
O Brasil é outro. Esse é o mais forte sinal que deveria inspirar a administração pública. Prefeitos e governadores, com suas estruturas e assessorias, devem se programar para um longo período de vacas magras. Urge fechar a gastança. E aprofundar a poupança. Cortes precisam ser feitos em todos os lados, áreas e setores. Preservem-se os programas essenciais, mas lâmina forte nas coisas supérfluas.
Cinco conceitos do momento
O momento do país está a exigir dos gestores atenção redobrada para alguns princípios e conceitos.
a. Coragem e Ousadia – Os gestores deverão ser corajosos. Para enfrentar pressões e não se sujeitar às contrapressões. Arremeter na direção do que precisa ser feito. "Somente aqueles que se arriscam a ir longe, saberão aonde podem chegar" (T.S. Elliot)
b. Racionalidade – Conferir às questões, ações e programas sua verdadeira dimensão. Nem menor, nem maior. Sob esse critério, há muito o que enxugar, a cortar, a diminuir. O bom senso é a medida do correto e do justo.
c. Tempestividade – Urge dar respostas imediatas às demandas. Sem delongas. Sem curvas. Tornar mais retos os caminhos da administração.
d. Transparência – Clareza de propósitos e de operações resgatará a confiança das massas e a credibilidade dos gestores.
e. Planejamento – Organizar os planos e programas com um roteiro de começo, meio e fim. Não é hora para improvisos. Mesmo as ações tempestivas – que precisam ser desenvolvidas imediatamente – hão de se respaldar no planejamento.
PT na máquina
Quadros do PT se escondem em esconderijos da estrutura governamental. Muitos disfarçam suas identidades. Fala-se que alguns ocupam até altos cargos como vice-presidências de bancos estatais. Fala-se que 25 mil petistas estavam alojados na máquina, dos quais uns 5 mil ainda permanecem atrelados às tetas do Estado.
Newtão
Fecho a Coluna com o folclórico ex-governador mineiro Newton Cardoso, um poço de histórias hilárias. Tomo emprestadas algumas contadas pelo amigo Sebastião Nery. Como se sabe, Newton Cardoso foi prefeito de Contagem, deputado federal, governador, vice-governador de Minas Gerais e, hoje, é representado na Câmara por seu filho, que tem o mesmo nome do pai. Os adversários lhe atribuem velhas gafes que a UDN atribuía a Benedito Valadares :
1. Dona Dezinha : "Se eu soubesse que meu filho Newton ia ser importante e virar governador de Minas, eu tinha botado ele para estudar de pequeno."
2. Preocupado com as notícias de que o leite estava contaminado, Newton pegou um pastel e começou a mexer dentro da xícara. "Por que você está fazendo isso ?" "Para pasteurizar o leite."
3. Newton no palanque : "Minas sempre se preocupou mais com a criação de bovinos e equinos. Agora, eu vou cuidar também da criação de porquinos."
4. Newton, numa entrevista : "Precisamos acabar com a fila do IMPS." O assessor lhe fala : "Não é IMPS, é INPS." "Nada disso. Desde lá de Brumado que eu aprendi que antes de P e B se usa M."
5. Comício em Betim : "O problema de Minas é falta de fé. Vamos juntar minha fé, sua fé, nossas fezes, para salvar Minas."